O que pensam os políticos acerca de nós cristãos? Na verdade, de nós eleitores em geral. Reduzir a discussão política a saber se determinado candidato é cristão ou não, se legalizaria a prática do aborto ou não, deixando de lado questões que realmente interessam à nação nesse momento é, no mínimo, duvidar da nossa capacidade de decisão, de escolha daquele que conduzirá o país pelos próximos quatro anos.
Na verdade, pouco interessa saber se determinado candidato à presidência, a essa altura, defende ou não o aborto. A verdade é que nenhum deles suportaria o ônus político que representaria legalizar o aborto em um país cujas tradições cristãs estão tão arraigadas em sua cultura e seu pensamento. A esse respeito, bem colocou a ex-candidata Marina Silva, ao se colocar contra a legalização do aborto, mas também defender que a questão ultrapassa meras convicções pessoais do governante, fazendo necessária a realização de um plebiscito para que o povo soberano decidisse a esse respeito.
De tal modo soube ela agradar tanto a gregos quanto a troianos. Explico: mesmo que se realizasse um plebiscito para decidir a esse respeito, é sabido que a maioria da população brasileira é contra o aborto, de modo que dificilmente a opção pela legalização sairia vitoriosa de tal pleito.
A questão é que a legalização do aborto ainda é algo praticamente impossível de ser feito (ainda bem), por qualquer uma das vias possíveis. Isso porque, se for plebiscito, dificilmente será aprovado, pela razão já vista acima. Se for por meio de projeto de lei, apresentado por parlamentar, poucos serão aqueles que estarão dispostos a pagar o preço de ser conhecido como aquele que apresentou tal projeto.
Já sabemos que ambos os candidatos são católicos, de “profunda formação religiosa” etc, etc, como fazem questão de frizar em suas propagandas. O que não sabemos são suas propostas concretas para a sociedade, além de dizer que vão construir hospital, aumentar salário mínimo ou manter programas sociais. E as questões “macro” do Estado brasileiro? A elevadíssima taxa de juros, a valorização crescente do real, tão prejudicial às exportações brasileiras, as reformas tributária e da previdência, entre outras? Some-se à isso também outras questões tão urgentes quanto estas, como saneamento básico, segurança pública (apenas dizer que vai levar UPP para todo o Brasil é ignorar que este é um país de dimensões continentais, extremamente diversificado, além de que as UPP’s não impedirão entrada de drogas e armas, mas apenas cuidam da outra ponta do problema), educação, entre outras.
Nada disso é discutido no horário eleitoral ou nos debates. No máximo, há uma lembrança, uma discussão meramente superficial, e no fim das contas o prejuízo maior é do eleitor.