quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Déjà vu geral!

salvegeral

Essa foi a sensação que tive após sair do cinema agora há pouco. Talvez não durante a projeção toda, mas o filme “Salve Geral”deixa uma sensação do tipo “já vi isso antes”. O cinema estava com uma sessão completamente lotada – também pudera, exibição de graça do filme brasileiro indicado a concorrer a uma vaga no Oscar não tinha como ser diferente. E eu ali, sentindo-me um extraterrestre, cercado de pseudomodernos, de all-star ao fim de calças apertadas, além de óculos como os da Mallu Magalhães – todos provenietes de cursos de humanas da Uff, provavelmente –, pacientemente esperando pelo início da projeção. Sei que esse comentário acerca da plateia não era importante, mas tinha que fazê-lo. Talvez estivesse assim porque, além de cinema de graça – tudo que é de graça tem o dom de mover as pessoas –, também haveria debate com o diretor do filme, além do sociólogo Luiz Eduardo Soares. Talvez por isso tanta intelectualidade reunida.

Bem, mas quanto ao filme propriamente dito, cada cena, cada enquadramento, cada diálogo paulistanamente travado entre os personagens só me leva a pensar que na próxima cena de penitenciária o Rodrigo Santoro vai aparecer vestido de mulher ou coisa que o valha. Ficava sempre um gosto de “Carandiru” na tela. Por isso a sensação de déjà vu. Mas não só por isso; também pelo fato de que pela segunda vez no Brasil se aposta na indicação ao Oscar em um filme nos moldes do que vem se tornando padrão em termos cinematográficos em terras tupiniquins: a exploração da violência, da bandidagem e afins (ano passado já havia sido indicado o fraco “Última Parada: 174”). Desse nicho cinematográfico é bem verdade, já se pode extrair filmes excelentes – pra mim, “Cidade de Deus”, um dos precursores desse gênero, é um dos melhores filmes já feitos no Brasil em todos os tempos. Mas o fato é que o modelo cansa, se não for bem realizado.

A verdade é que o filme deixa a desejar como um todo. Não que seja ruim, mas em se tratando de um filme indicado pelo Brasil a concorrer a uma vaga no oscar, eu esperava mais. Até porque o último filme nacional que pude assistir (“À Deriva”, leia aqui) me arrebatou de tal modo, que até agora não entendo porque ele não foi indicado a uma indicação ao invés deste “Salve Geral”.

Mas o fato é que não obstante Andréia Beltrão seja uma excelente atriz, e  atriz que interpreta tal Ruiva no filme (advogada de porta de cadeia envolvida com o crime organizado) também seja igualmente excelente – no começo a personagem dela parece caricata demais, mas na segunda metade ganha mais consistência – e ambas ainda protagonizem cenas nas quais se pode rir um pouco em meio à tensão que o filme mostra, a verdade é que ainda assim o filme tem algumas cenas sofríveis, que podíamos passar sem, tal qual a perseguição de carro, protagonizada pelo filho da Andréia Beltrão no filme, em que em meio a curvas em alta velocidade e manobras arriscadas, ele consegue fugir da polícia porque o policial mete a viatura em umas lixeiras cheias de papel (?!?). Lembra até aquela perseguição que tem no primeiro filme dos “Normais”, em que o Rui também foge da polícia, com a diferença que neste último os carros são de brinquedo.

A própria protagonista fica subvalorizada. A ideia da mãe que luta para livrar o filho da prisão, e para isso age sem escrúpulos, até é uma premissa boa – poderia quem sabe render até uma indicação ao oscar de melhor atriz –, mas no filme foi mal trabalhada. Apesar do roteiro ser bem amarrado, tudo ocorre de forma lenta no início pra perto do fim tomar uma velocidade incrível, uma proporção quase épica – só faltou Ben-Hur numa biga. Até a metade, tudo é lento, e depois tudo fica corrido e meio que sem explicação aparente.

No fim das contas, as cenas que mostram São Paulo aterrorizada com o ataque da facção criminosa, a cidade vazia e o caos instaurado até que são boas – o simples fato de se registrar uma cena da cidade completamente vazia já merece registro aqui – mas não o suficiente para tornar o filme um filmasso. Não um filme pra concorrer ao oscar. Infelizmente essa é a sensação que me passou, e agora não há mais nada que se possa fazer, já que a indicação já foi feita. Resta esperar e torcer.

Veja o trailer, depois veja o filme e tire suas próprias conclusões

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