quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Feliz Natal!!!


Feliz Natal!!!, upload feito originalmente por Renan Costa.

Talvez seja como escrever um cartão, destes que compramos na papelaria, não sei ao certo. Mas o que eu sei é que em situações tais costumo nunca saber o que escrever, até o momento em que o escrever se torna inadiável, o que é o caso.

Estou há dias pensando em um post de natal para este blog, e simplesmente não tinha ideia de como fazê-lo, de como ao menos começá-lo, até que há pouco menos de dois minutos veio-me este lampejo. Começo pelo fato de que não sei como começá-lo, e assim, ao menos posso introduzir um pretexto para o texto – mas deixando claro não ser este o tema principal do post, até porque esse é um tema mais do que recorrente nestas páginas. E lá se vão dois parágrafos...

Pois bem, deixando claro que a falta de criatividade deste interlocutor não é o tema sobre o qual se discorrerá no post de hoje, passo à questão de fundo que me pôs diante do teclado em um dia como hoje: nossos (acho que falo por todos que mantem o blog quando escrevo isto) sinceros votos de um feliz natal e um ótimo ano que em breve se iniciará para todos, caros leitores.

Também creio que posso falar por todos aqui que natal é bem mais que troca de presentes e comida que só se vê uma vez por ano – por que não temos rabanada o ano inteiro? –, pelo que realmente nos representa. O símbolo maior do natal não é, nunca foi, nem nunca será o papai noel, os elfos que vivem em regime de semi-escravidão no polo norte fazendo brinquedos ou as filas dos shoppings, que aliás, a cada ano se enfeitam cada vez mais cedo - daqui a pouco o papai noel vai chegar lá junto com o coelho da páscoa pra poder guardar seu lugar.

Aos leitores que não creem, perdoem-me a minha falta de laicidade, mas quem realmente é o rockstar do natal é aquele cara que trinta e três anos depois desta data que comemoramos amanhã morreria na cruz pela humanidade. No mais, é tudo supérfluo, coisa menor.

Até porque "seja rico ou seja pobre, o velhinho sempre vem" talvez seja uma das maiores mentiras da humanidade. Mentira maior que essa só os panetones de Arruda lá em Brasília. Posso afirmar com absoluta certeza: não há democracia no natal. Não neste natal que praticamos hoje, baseado no consumo e em um pragmatismo excessivo, em que cada vez mais valores e crenças - sejam elas quais forem - se perdem. Mas talvez isso seja papo pra outro post.

Pois bem, é isso: tenham todos um feliz natal. E ponto.

Ah, pode ter certeza: não estou ouvindo Simone, a cantora oficial do natal.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Presente de Natal

A fotografia é hoje uma das minhas grandes paixões. Em meio a tantos problemas e estresses, ela me desestressa. Por gratidão ao que ela fez por mim, dou o meu melhor nas fotografias que faço. As que publico aqui no blog são algumas das que foram tiradas recentemente em Natal, cidade que é um presente não apenas aos olhos, mas a todos os sentidos humanos – o que, como se vê, facilitou em muito minha tarefa. Mas aqui apenas a visão irá se satisfazer com os encantos de tal lugar. Ei-las, portanto:

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SDC10303

SDC10318

SDC10319

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surfista no morro do careca

barco

jangada pb

Julia

literatura de cordel

Morro do careca

Natal refletida

ônibus em Natal

pai e filho

pescador pb

ponte newton navarro

por do sol em redinha

Praia do meio 3

praia do meio 4

Redinha com Ponte ao fundo

julia chutando a água

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Janela do avião

Fim.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Quisera eu...



“Corria o ano de 1911. Vejam vocês: — 1911! O bigode do kaiser estava, então, em plena vigência; Mata-Hari, com um seio só, ateava paixões e suicídios; e as mulheres, aqui e alhures, usavam umas ancas imensas e intransportáveis. Aliás, diga-se de passagem: — é impossível não ter uma funda nostalgia dos quadris anteriores à Primeira Grande Guerra. Uma menina de catorze anos para atravessar uma porta tinha que se pôr de perfil. Convenhamos: — grande época! grande época!

Pois bem. Foi em 1911, tempo dos cabelos compridos e dos espartilhos, das valsas em primeira audição e do busto unilateral de Mata-Hari, que nasceu o Flamengo. Em tempo retifico: — nasceu a seção terrestre do Flamengo. De fato, o clube de regatas já existia, já começava a tecer a sua camoniana tradição náutica. Em 1911, aconteceu uma briga no Fluminense. Discute daqui, dali, e é possível que tenha havido tapa, nome feio, o diabo. Conclusão: — cindiu-se o Fluminense e a dissidência, ainda esbravejante, ainda ululante, foi fundar, no Flamengo de regatas, o Flamengo de futebol.

Naquele tempo tudo era diferente. Por exemplo: — a torcida tinha uma ênfase, uma grandiloqüência de ópera. E acontecia esta coisa sublime: — quando havia um gol, as mulheres rolavam em ataques. Eis o que empobrece liricamente o futebol atual: — a inexistência do histerismo feminino. Difícil, muito difícil, achar-se uma torcedora histérica. Por sua vez, os homens torciam como espanhóis de anedota. E os jogadores? Ah, os jogadores! A bola tinha uma importância relativa ou nula. Quantas vezes o craque esquecia a pelota e saía em frente, ceifando, dizimando, assassinando canelas, rins, tórax e baços adversários? Hoje, o homem está muito desvirilizado e já não aceita a ferocidade dos velhos tempos. Mas raciocinemos: — em 1911, ninguém bebia um copo d’água sem paixão.

Passou-se. E o Flamengo joga, hoje, com a mesma alma de 1911. Admite, é claro, as convenções disciplinares que o futebol moderno exige. Mas o comportamento interior, a gana, a garra, o élan são perfeitamente inatuais. Essa fixação no tempo explica a tremenda força rubro-negra. Note-se: — não se trata de um fenômeno apenas do jogador. Mas do torcedor também. Aliás, time e torcida completam-se numa integração definitiva. O adepto de qualquer outro clube recebe um gol, uma derrota, com uma tristeza maior ou menor, que não afeta as raízes do ser. O torcedor rubro-negro, não. Se entra um gol adversário, ele se crispa, ele arqueja, ele vidra os olhos, ele agoniza, ele sangra como um césar apunhalado.

Também é de 1911, da mentalidade anterior à Primeira Grande Guerra, o amor às cores do clube. Para qualquer um, a camisa vale tanto quanto uma gravata. Não para o Flamengo. Para o Flamengo, a camisa é tudo. Já tem acontecido várias vezes o seguinte: — quando o time não dá nada, a camisa é içada, desfraldada, por invisíveis mãos. Adversários, juizes, bandeirinhas tremem então, intimidados, acovardados, batidos. Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E, diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável.

Nelson Rodrigues

Publicado originalmente na antiga Manchete Esportiva, no dia 26/11/1955.
Quisera eu ter escrito este texto. Mas ele foi escrito por um dos maiores escritores do país, e fluminense roxo. Parabéns ao Flamengo. Ah, e parabéns também ao Vasco, Botafogo e Fluminense, que estarão na primeira divisão do ano que vem, engrandecendo o futebol carioca e brasileiro como um todo.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Marco Zero

Skyline-New-York-City

25 de março de 2009. Às 14 horas, consultório do Dr. John Cole, no terceiro andar do Hospital Geral do Queens. Com certeza não é o melhor oncologista que há em Nova York, mas provavelmente o melhor que se poderia obter com o plano de saúde oferecido pela prefeitura aos seus policiais.

Jim Anderson, policial, 45 anos de serviço pela cidade de Nova York, sente-se completamente impotente. Sentado diante da TV sintonizada em um canal de notícias, uma edição da New Yorker da semana passada e uma enfermeira que, completamente alheia à sua desesperadora situação, calmamente lixa as unhas em pleno balcão de atendimento, ele pensa que de nada lhe adianta agora todo o seu treinamento levado a cabo por anos na academia policial, sua experiência no trato com criminosos no dia-a-dia das ruas. Pensa dessa forma porque não há o que possa fazer, apenas esperar. Esperar pelo próprio Dr. Cole, que agora adentra a sala, com o resultado do exame que fizera outro dia em mãos. O resultado não foi outro diferente do esperado: Jim Anderson estava com câncer.

A moléstia que agora que lhe afligia era decorrência provável da exposição a elementos tóxicos decorrentes da queima dos mais diversos materiais, tais como ferro, plástico, concreto, entre outros, além de substâncias reconhecidamente nocivas, como o amianto. Essa exposição decorreu do fato heróico que marcara sua vida até então, seu maior motivo de orgulho: o trabalho na busca de sobreviventes no Marco Zero, após a queda do World Trade Center.

Lembra até hoje do fatídico dia em que todo o contingente policial que havia na cidade fora deslocado até o local da tragédia, na esperança de encontrar ali respostas para aquilo do qual, atônitos, foram meros espectadores. Lembra com exatidão do momento em que, cercado de concreto esfacelado e metal retorcido, pouco podia ver à sua frente. Podia apenas ouvir. E das vozes aflitas ressonantes que surgiam por entre os escombros, o policial Anderson tirava suas forças para seguir buscando, escavando, à procura de vidas, como se a sua própria dependesse disso.

Mal sabia ele que o fato que mais marcara sua vida até então lhe deixaria uma última e indelével marca: o câncer fatal, que lhe consumiria em brevíssimo tempo. Restava-lhe muito pouco tempo para aproveitar a vida e fazer tudo aquilo que não fizera até então.

***

27 de julho de 2002. Carlos Hernandez irrompe a sala em direção à cozinha, onde se encontravam seus pais, Pablo e Cristina, e seu irmão mais novo, Juan, para dar-lhes a notícia que acabara de receber. Tinha em mãos uma carta enviada pelo Exército dos Estados Unidos, convocando-o a servir à pátria, na busca pelos terroristas responsáveis pelos atentados de 11/09.

Apesar do que os nomes possam levar a crer, Carlos e Juan são cidadãos norte-americanos, nascidos na cidade de Nova York, onde moram até hoje, no Bronx, ao norte da cidade. Já seus pais, também cidadãos norte-americanos, só que, para os olhos de parte da sociedade, de segunda classe. Eles vieram há alguns anos de Porto Rico, pra tentar sucesso na terra das oportunidades que lhe demonstrava ser a América. Muito jovens e recém-casados quando aportaram na cidade, à sombra da estátua da liberdade, jamais conseguiram a tão almejada ascensão social que esperavam obter.

Pois a notícia trazida por Carlos à sua família causou um certo estarrecimento. Seus pais estavam atônitos ante tal fato: seu filho mais velho, de apenas 19 anos recém completados havia sido convocado para lutar pelos Estados Unidos da América no Afeganistão, em busca dos terroristas responsáveis pelo atentado às Torres Gêmeas e à sede do Pentágono, além daquele avião que caiu sobre a Pensilvânia, pouco mais de um ano antes. Sabe-se lá o que poderia lhe esperar por lá. As histórias que ouviam, ou as matérias que viam passar na TV davam conta de coisas horríveis que poderiam acontecer aos soldados, como atentados com homens-bomba, sequestros etc.

Mas para Juan, do alto de seus catorze anos, nada disso era importante, pois tudo era menor ante a possibilidade de se defender a nação, de se propagar pelo mundo afora o modelo de liberdade norte-americana, com direitos iguais para todos, livre expressão de pensamento, entre outras conquistas do mundo livre ocidental. Levar aos países regidos por regimes despóticos e anti-democráticos o modelo de sociedade justa e igualitária que são, em seu modo de ver as coisas, os Estados Unidos. E justamente o seu irmão, seu melhor amigo, seria para ele o herói responsável por capitanear essa incursão pelo mundo árabe, que tal qual o Capitão América, lavaria com sangue a honra da América.

Enquanto isso, na TV, o presidente George W. Bush discursava à nação, afirmando que tomaria todas as precauções possíveis no iminente ataque ao Iraque, além da busca aos terroristas no Afeganistão, e atuaria com os aliados “lado a lado”, para evitar que nações mal-intencionadas possam causar distúrbio à paz mundial.

***

25 de outubro de 1995. No quarto 507 da maternidade de um luxuoso hospital ao sul de Manhattan nascia Yussef Abdalaziz. Filho de um casal de egípcios, que moravam em Nova York há apenas um ano e meio, por conta da empresa em que o seu pai, Hamzah, trabalhava, uma companhia petrolífera com sede em Londres, mas escritórios em diversas cidades ao redor do mundo.

Para essa família a América de fato se descortinava como uma terra de grandes oportunidades. Há alguns anos o casal já havia deixado o Egito para trabalhar em Londres, onde eles conseguiram obter um padrão de vida muito mais elevado do que jamais tiveram enquanto estavam no Cairo. Mas em nada se compara ao que viviam nos EUA. Havia sido promovido a um cargo de destaque dentro da companhia e mandado simplesmente para um dos maiores escritórios fora da Inglaterra, justamente na 5ª Avenida, no coração de Manhattan, quiçá do mundo.

Imaginavam um mundo de possibilidades para seu filho, que acabara de nascer: estudaria na Columbia University, pelo desejo da mãe, pois assim ficaria mais perto de casa. Por isso mesmo, nem se interessava muito pela carreira que seguiria. Já o pai imaginava o filho cursando direito em Harvard, ou talvez Yale. Seria mais distante, mas isso não é nada quando tudo se resumiria a poucas horas dentro de um carro, ou de um avião, dependendo de onde fosse. O pequeno Yussef sequer poderia imaginar o mundo que lhe esperava fora daquele quarto, mas seus pais já imaginavam, e faziam planos, a respeito da vida próspera que teria.

***

A história que começou logo acima gira em torno de três pessoas que de um modo ou de outro tiveram suas vidas afetadas pelo atentado de 11 de setembro. Porquê o 11 de setembro, algo tão distante das nossas realidades – pelo menos da minha – eu não sei. Mas se Chico Buarque escreveu Budapeste sem nunca ter pisado lá, acho que eu posso tentar também.

Essa é a minha primeira experiência literária verdadeira. Não pretendo escrever um livro ou coisa parecida, mas pela primeira vez neste blog criar uma história que não se resuma, ou se prenda, às poucas páginas de um post, mas se perpetue por vários outros. Por isso conto com a ajuda de vocês, leitores, para dar um rumo a essa história; se está boa, ruim, se acaba no próximo post ou não acaba tão cedo, espero contar com vocês para decidir. Para isso, espero ter a opinião de vocês aqui no blog, ou no orkut e twitter. Abraços.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Res Publica

Ontem foi o dia da proclamação da República, feriado que passou despercebido, já que caiu num domingo mesmo. Mas a data é pretexto para o post de hoje. O Brasil vive um momento de grande euforia, no plano nacional e, principalmente, internacional. Ganhamos a sede da copa, das olimpíadas, Lula é o cara pro Obama, viramos cartaz de filme-catástrofe (2012) e aparecemos até no programa da Oprah. E semana passada ainda fomos capa da revista semanal “The Economist”, talvez a mais importante revista em circulação nos dias de hoje – pegou o lugar que até bem pouco tempo era da “Time”.

A matéria em questão, sob o título “O Brasil decola”, exaltava o Brasil como o país do futuro, slogan mais do que conhecido para nós brasileiros. Só que ao contrário das eternas previsões que nunca se concretizam, a revista deu um prazo. O futuro tão almeijado por nós brasileiros chegará em cinco anos, quando o Brasil se tornará uma das cinco maiores economias do mundo. A revista exalta a potencialidade do Brasil, e diz que o único grande empecilho a essa conquista nospróximos cinco anos é o nosso próprio orgulho.

Acho que nesse ponto a publicação se enganou. Digo isso porque, embora realmente sejamos um povo muito orgulhoso de nós mesmos, das belezas naturais de nosso país, da alegria da nossa gente – parece até propaganda do Ministério do Turismo –, a verdade é que o brasileiro é o mais descrente nisso tudo, basicamente por causa dos nossos representantes. Acho que é consenso geral entre a grande maioria dos brasileiros médios de que tudo isso que aparece na revista, pragmaticamente previsto para se realizar daqui a cinco anos, é uma grande utopia, que por conta da falta de confiança que existe hoje nos nossos políticos, e a decorrente crise no sistema de democracia representativa, mais do que isso, torna-se uma distopia – uma deturpação daquilo que é quase inatingível.

Enquanto as forças oligárquicas que dominam a política regional de nosso país andam de mãos dadas com o presidente Lula, num gritante contrassenso, não vejo como isso tudo pode se realizar em tão pouco tempo. É um contrassenso que as pessoas em geral não veem, pois nunca antes na história deste país tivemos um presidente tão popular. Só pra constar: ele é a 33ª pessoa mais poderosa do mundo, à frente inclusive de Nicolas Sarkozy (marido de Carla Bruni e presidente da França) e Osama Bin Laden (?!?). e ainda por cima, em janeiro será lançado um filme sobre a vida do cara, sendo que ele ainda estará no poder – será que tem alguma ponta da Dilma no filme? E olha que já vi um trailer do filme, e parece que será muito bom, pra chorar mesmo.

O grande problema é que esse endeusamento do presidente Lula, que hoje parte até lá de fora, esconde nossa visão pra muita coisa aqui dentro que não está certa.

O que isso tem a ver com a data em questão? A palavra “República” vem do latim, res publica, que quer dizer coisa pública, que é de todos. Nossos representantes estão mesmo cuidando do que é de todos?

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Blecaute


Blecaute, upload feito originalmente por Renan Costa.

Minha noite de ontem resumida nessa foto. Passei a noite com os ouvidos no rádio, buscando notícias - ou um alento que fosse, já que não tinha o mínimo sono -, o que só foi possível por se tratar de um celular, já que graças aos tempos modernos em que vivemos rádio de pilha é coisa do passado.

O Brasil é um país de matriz energética reconhecidamente limpa, dependente majoritariamente de energia produzida por usinas hidrelétricas, o que é muito positivo, se pensarmos em aquecimento global, protocolo de Kyoto desrespeitado etc.

Sinceramente não espero que mude essa estratégia de se usar energia limpa - de fato isso é muito algo muito bom, ainda mais para um país em desenvolvimento como o Brasil. Mas pensar em energia limpa não impede os sucessivos governos de diversificá-la, adotando outras matrizes energéticas igualmente limpas, e que possam dar sustentação ao atual modelo - nao se trata de trocá-lo, mas apenas torná-lo mais seguro.

Ontem pode-se perceber que esse sistema interligado é altamente vulnerável, e um pequeno problema pode causar um efeito em cascata.

Enquanto isso, ouvia no rádio a tragédia anunciada: pelo menos dez estados sem luz, assim como também o Paraguai, ouvintes mandando mensagens pelo celular e pelo twitter relatando casos de arrastões, assaltos, perigos nas ruas, o caos! Nesse meio tempo, eu jogava sudoku no celular...

domingo, 25 de outubro de 2009

Parabéns!

Não sei ao certo quando isso se deu mais ou menos. Só sei que quando criança sempre pedia a Deus um irmão. Não, não esperava que minha mãe ficasse grávida tardiamente. Não era isso. Meu intento era de ter um irmão mais velho. Mais velho que minha irmã, inclusive; não que ela não fosse uma boa irmã, pelo contrário. Mas é que eu sentia falta de um irmão com quem partilhar meus carrinhos e meus “comandos em ação”. Meu primo até que cumpria relativamente bem essa tarefa, mas nunca foi um irmão efetivamente – afinal, ele já era um primo mesmo.

Ante a impossibilidade fática de meus pais conceberem um filho que se tornasse, como num passe de mágica, mais velho que os filhos que anteriormente tiveram, eu imaginava que um dia poderia descobrir talvez que meu pai tivera um filho antes de conhecer minha mãe – não admitia a possibilidade de sê-lo quando já a conhecesse, já que isso implicaria em inevitável prejuízo à estrutura da minha família –, que ele só viria a conhecer anos depois.

Durante algum tempo fiquei nessa espera – acho que foi só uma coisa passageira de infância – até me tocar que não haveria como, e que minhas preces foram em vão – afinal Deus não iria sequer se coçar para atender um pedido desses, já que com certeza deve ter coisas muito mais importantes pra fazer.

Ditados do tipo “quem espera sempre alcança” e tal não se aplicam bem ao caso, já que nunca esperei muito por isso não – ainda criança eu já tinha noção da quase impossibilidade de isso acontecer. Mas mal sabia eu que um dia isso mudaria.

Em meados de 2007 eu descobri um irmão. Não se tratava de um filho bastardo que meu pai tivera, longe disso. Era só um cara que, aos poucos, naquelas pequenas coisas, foi se tornando mais que um irmão: o meu melhor amigo. Até então nunca tinha tido um melhor amigo; sempre achei que deveria ter vários melhores amigos. Talvez por isso eu tenha tido tanta dificuldade em reconhecê-lo como tal.

Passamos a frequentar a casa um do outro, fazer noitada junto e tal. Contávamos tudo um para o outro, e se não tínhamos nada pra fazer – e olha que nessa época realmente não tínhamos nada pra fazer –, íamos eu pra casa dele, ou ele pra minha casa, pra fazer porra nenhuma mesmo. Houve ainda momentos bons e ruins, mas que fazem parte da vida de qualquer jeito. Pelo menos nesses momentos ruins pude ver algo de bom: eu tive um irmão com quem contar.

Senti-me recompensado no dia que ele me disse que eu também era seu melhor amigo, em fins de dezembro do ano passado. De fato, saber que essa amizade foda que nós tínhamos era algo recíproco era muito reconfortante.

Bem, hoje ficam aqui meus parabéns a esse cara, que no dia de hoje completa mais uma primavera, hehehe. Feliz aniversário, Thiago!

Digitalizar0002 Renan com 5 anos
Irmãos sem saber. Não tinha um uniforme completo do Flamengo naquela época para colocar aqui (não tenho até hoje, é bem verdade).

feijões

sábado, 24 de outubro de 2009

Como ficar famoso e aparecer na TV...


Alguém dormindo no ônibus, upload feito originalmente por Renan Costa.

Você deve estar se perguntando o que essa foto tem a ver com esse título, mas eu chego lá. Era por volta de 21h30, se não me falha a memória. Caía uma chuva torrencial. O ônibus em que estava passava nesse exato momento pela praça do pedágio da ponte Rio-Niterói. Eu comemorava, pensando que poderia chegar alguns minutinhos mais cedo em casa - pra quem faz essa viagem todo santo dia (Niterói - Rio - Niterói), alguns minutos de diferença é lucro - já que na semana anterior eu tinha passado pelo mesmo local por volta de nove e vinte, e por isso consegui chegar em casa cedão.

"Dez minutos de diferença não é quase nada", pensei. "Se o trânsito estiver igual ao da semana passada chego em casa rapidinho". Qual não foi a minha surpresa ao sair da ponte e subir aquele viaduto que leva à Marques de Paraná - e consequentemente à Icaraí e Santa Rosa - e depara-me com o trânsito todo parado. Carros e mais carros iam chegando e parando ali, naquele exato lugar sem escapatória.

Como disse, não era muito mais que 21h30, e ali fiquei por um bom tempo. A forte chuva que caía - já comentei sobre a chuva? - repentinamente cessou, reduzindo-se a meros chuviscos, mas ainda assim não havia roda que se movesse. Ali fiquei por um bom tempo, imaginando que se tratasse de um acidente, e que dentro de muito em breve o carro acidentado seria retirado, e as pistas liberadas, assim como o tráfego de carros. Mas que nada.

Algumas pessoas mais esbaforidas não conseguiram esperar sequer meia hora dentro do ônibus - de fato, a possibilidade de ter que esperar horas sentado em um ônibus não deve nada a qualquer método chinês de tortura. Mas pensei que tudo ia se resolver dentro de poucos minutos, que o trânsito se normalizaria e que aquelas pessoas se arrependeriam depois. Que nada: eu me arrependi de não ter levantado antes.

Eis que, uma hora e meia depois de sentado no mesmo banco do ônibus - pois é, quase acabei com a bateria do meu celular, na tentativa de ouvir todas as músicas possíveis, e quando findas estas, todas as rádios que tivessem algo interessante, o que nestas condições se mostra algo quase impossível -, sem que este se movesse um milímetro sequer em direção à minha casa, decido levantar e seguir viagem a pé. "Não é possível que um acidente de trânsito atrapalhe tanto a vida das pessoas", pensei.

Levantei-me e segui na mesma rua, até mesmo para saber do que se tratava, que impedia tanto assim o prosseguimento regular da minha viagem. O cenário que encontrei era devastador: carros tortos no meio da rua, em uma tentativa de retornar - vã, eis que a fila de carros atrás já se estendia até a ponte - e a rua completamente alagada, em nível tal que sequer os ônibus se atreviam a atravessar.

Rapidamente encontrei uma rua paralela que estava seca e segui o caminho das pessoas que, assim como eu, largaram seus lugares nos ônibus e decidiram seguir a pé. A imagem lembrava desses filmes de zumbi ou coisa do tipo, em que a cidade está completamente vazia, e você só vê a fila de cidadãos incautos, ainda não contaminados pelo suposto vírus que dizimou toda a sociedade, tentando buscar um abrigo, mas na verdade caminhando para a morte certa. Ainda bem que era a vida real...

Dalí a história não apresenta nada de mais: segui até o terminal de ônibus no Centro de Niterói - ou seja, andei pra c@#$%&*aralho - e peguei um 53, que por sorte estava parado na hora em que cheguei no terminal. As pessoas na minha frente na fila para pegar o ônibus me disseram que estavam há 50 minutos esperando o ônibus e nada - pelo menos dessa eu escapei.

Ainda peguei um trânsito na Gavião Peixoto, em Icaraí - detalhe: já era quase meia-noite - mas consegui chegar em casa, são e salvo, por volta de meia-noite e quinze, mais ou menos.

Acaba aí minha história. Mas o que isso tem a ver com o título lá em cima? Das duas uma:

1) Fui acordado pela minha mãe, quando ainda passava "Bom Dia Rio" - como se não bastasse a hora em que eu tinha ido dormir -, porque eu apareci na TV. Justamente na matéria em que mostravam os desastres ocorridos na cidade de Niterói durante o temporal de segunda-feira. Por conta do crescimento desenfreado que a cidade de Niterói teve nos últimos anos, com muitas construções, favelização etc, sem o devido acompanhamento pelo Poder Público - fosse restringindo o número de pavimentos dos prédios a um número adequado para a cidade, ou fiscalizando construções irregulares, ou alargando as ruas e cuidando do sistema de captação de água das chuvas - eu acabei aparecendo na TV como vítima disso tudo, coitado.

Ou

2) Minha total falta de criatividade em criar um título decente para esse post, que de fato demonstrasse toda a minha insatisfação com isso tudo que eu escrevi em cima a respeito da incompetência de nossos governantes.

Bem, você decide.

Só pra constar minha set list enquanto esperava no ônibus, assim como também no 53 (alguns discos eu ouvi inteiros):
Quatro, Los Hermanos
Afro-Sambas, Baden Powell
Abbey Road, The Beatles
OK Computer, RadioHead
África Brasil, Jorge Ben
Iê-iê-iê, Arnaldo Antunes
Cartola (1974), Cartola.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A respeito da vitrola...


Clube da Esquina, upload feito originalmente por Renan Costa.

Preciso de uma vitrola,
do braço da agulha,
de um disco de vinil.

Careço de uma viola
do interior do Brasil,
do morro pro asfalto,
da mulata de salto

Da segunda de carnaval,
das noites de festival.

Vejo o que ouço e não gosto,
Não ouço o que vejo e me prostro,
Esperando o disco rodar e o som chiar...

Preciso da música
escondida numa vitrola.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Why don’t we do it in the Abbey Road?

Semana passada a capa de disco que é uma das imagens mais icônicas da história da cultura pop fez quarenta anos. Refiro-me ao disco Abbey Road, dos Beatles, que foi lançado em 1969, cuja capa mostra os quatro rapazes de Liverpool prosaicamente atravessando a rua que dá nome ao disco.

Talvez essa tenha sido uma das cenas mais repetidas desses últimos quarenta anos – deve ter gente na tal da Abbey Road nesse exato momento fazendo pose pra uma foto igual a essa. A questão é que lá se vão quarenta anos desde que os Beatles terminaram de fato também. Esse disco, apesar de ser o penúltimo da discografia deles, foi o último a ser gravado pelo grupo, uma vez que Let it Be, que de fato foi o último, havia sido gravado alguns meses antes.

Há alguns meses que eu estou viciado nos Beatles, em particular em Abbey Road, que é de fato o melhor trabalho deles – já até tinha mencionado meu vício por aqui antes. E chega a ser difícil, por conta disso, imaginar que quando eles fizeram esse disco, a banda já estava em fase terminal, naquele momento em que ninguém aguenta mais olhar pra cara um do outro. No fim das contas, apesar da curta carreira que tiveram – apenas seis anos e alguns trocados e um total de onze discos, eu acho –, eles terminaram no auge, no melhor lugar onde qualquer banda poderia estar – no posto de melhor banda de todos os tempos.

abbey road_silhueta

Na Rolling Stone desse mês, há uma extensa e excelente matéria sobre o fim dos Beatles, tudo que antecedeu os últimos dias e como a tensão dominava o ambiente. A matéria só aumenta a admiração que já nutria por Paul McCartney. Até o fim, o cara sempre lutou pela integridade da banda, e nos últimos discos, quando John Lennon já tava de saco cheio e só pensava na Yoko, o cara tomava a frente e decidia como tocar o barco – por isso os outros beatles até o vissem como autoritário, mas naquela mania de ser hyppie demais, a banda precisava de alguém mais pragmático, essa é a verdade.

Por conta disso, o próprio conceito de álbuns definidores da carreira da banda foram delineados por Paul. É o caso do já citado Abbey Road e do também excelente Sgt. Pepper Lonely Hearts Club Band. Por isso afirmo: o cara é meu beatle favorito.

Mas independente do clima de tensão que cercava a banda e suas reuniões, ainda assim era uma grande banda. Prova disso é o vídeo abaixo, uma apresentação do grupo em um programa de tv em 1968 – uma das poucas apresentações da banda depois de 1966, quando eles decidiram que não mais fariam shows, numa época em que os artistas podiam se dar ao luxo de fazer isso, dada a complexidade que suas canções adquiriram.

Dá pra ver a sintonia que ainda havia entre os caras, e a forma como a música acaba envolvendo todo mundo. Trata-se de Hey Jude, que é pra mim a melhor canção dos caras, um hino de celebração, uma canção do tipo “abrace uma árvore” – pra mim, a melhor definição pra esse tipo de música.

abbey road_silhueta

Por fim, deixo vocês ainda com esse outro vídeo. É uma propaganda do game deles lançado recentemente, mas a reconstituição ficou tão bem feita, que merece o registro aqui.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Déjà vu geral!

salvegeral

Essa foi a sensação que tive após sair do cinema agora há pouco. Talvez não durante a projeção toda, mas o filme “Salve Geral”deixa uma sensação do tipo “já vi isso antes”. O cinema estava com uma sessão completamente lotada – também pudera, exibição de graça do filme brasileiro indicado a concorrer a uma vaga no Oscar não tinha como ser diferente. E eu ali, sentindo-me um extraterrestre, cercado de pseudomodernos, de all-star ao fim de calças apertadas, além de óculos como os da Mallu Magalhães – todos provenietes de cursos de humanas da Uff, provavelmente –, pacientemente esperando pelo início da projeção. Sei que esse comentário acerca da plateia não era importante, mas tinha que fazê-lo. Talvez estivesse assim porque, além de cinema de graça – tudo que é de graça tem o dom de mover as pessoas –, também haveria debate com o diretor do filme, além do sociólogo Luiz Eduardo Soares. Talvez por isso tanta intelectualidade reunida.

Bem, mas quanto ao filme propriamente dito, cada cena, cada enquadramento, cada diálogo paulistanamente travado entre os personagens só me leva a pensar que na próxima cena de penitenciária o Rodrigo Santoro vai aparecer vestido de mulher ou coisa que o valha. Ficava sempre um gosto de “Carandiru” na tela. Por isso a sensação de déjà vu. Mas não só por isso; também pelo fato de que pela segunda vez no Brasil se aposta na indicação ao Oscar em um filme nos moldes do que vem se tornando padrão em termos cinematográficos em terras tupiniquins: a exploração da violência, da bandidagem e afins (ano passado já havia sido indicado o fraco “Última Parada: 174”). Desse nicho cinematográfico é bem verdade, já se pode extrair filmes excelentes – pra mim, “Cidade de Deus”, um dos precursores desse gênero, é um dos melhores filmes já feitos no Brasil em todos os tempos. Mas o fato é que o modelo cansa, se não for bem realizado.

A verdade é que o filme deixa a desejar como um todo. Não que seja ruim, mas em se tratando de um filme indicado pelo Brasil a concorrer a uma vaga no oscar, eu esperava mais. Até porque o último filme nacional que pude assistir (“À Deriva”, leia aqui) me arrebatou de tal modo, que até agora não entendo porque ele não foi indicado a uma indicação ao invés deste “Salve Geral”.

Mas o fato é que não obstante Andréia Beltrão seja uma excelente atriz, e  atriz que interpreta tal Ruiva no filme (advogada de porta de cadeia envolvida com o crime organizado) também seja igualmente excelente – no começo a personagem dela parece caricata demais, mas na segunda metade ganha mais consistência – e ambas ainda protagonizem cenas nas quais se pode rir um pouco em meio à tensão que o filme mostra, a verdade é que ainda assim o filme tem algumas cenas sofríveis, que podíamos passar sem, tal qual a perseguição de carro, protagonizada pelo filho da Andréia Beltrão no filme, em que em meio a curvas em alta velocidade e manobras arriscadas, ele consegue fugir da polícia porque o policial mete a viatura em umas lixeiras cheias de papel (?!?). Lembra até aquela perseguição que tem no primeiro filme dos “Normais”, em que o Rui também foge da polícia, com a diferença que neste último os carros são de brinquedo.

A própria protagonista fica subvalorizada. A ideia da mãe que luta para livrar o filho da prisão, e para isso age sem escrúpulos, até é uma premissa boa – poderia quem sabe render até uma indicação ao oscar de melhor atriz –, mas no filme foi mal trabalhada. Apesar do roteiro ser bem amarrado, tudo ocorre de forma lenta no início pra perto do fim tomar uma velocidade incrível, uma proporção quase épica – só faltou Ben-Hur numa biga. Até a metade, tudo é lento, e depois tudo fica corrido e meio que sem explicação aparente.

No fim das contas, as cenas que mostram São Paulo aterrorizada com o ataque da facção criminosa, a cidade vazia e o caos instaurado até que são boas – o simples fato de se registrar uma cena da cidade completamente vazia já merece registro aqui – mas não o suficiente para tornar o filme um filmasso. Não um filme pra concorrer ao oscar. Infelizmente essa é a sensação que me passou, e agora não há mais nada que se possa fazer, já que a indicação já foi feita. Resta esperar e torcer.

Veja o trailer, depois veja o filme e tire suas próprias conclusões

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O que você vai ser quando crescer?

Há algum tempo atrás, a mãe do pequeno Rafael perguntou-lhe preocupada com o garoto que possuía amigos imaginários em excesso e passava dias se divertindo com eles:

- O que você vai ser quando crescer?

- Eu vou ser o Michael Jackson!

Porém, após assistir o clipe de “Bad” do seu ídolo, o garoto percebeu que, mesmo sem entender uma palavra em inglês, seu astro dizia: “Eu sou mau!”. O menino não queria ser mau! Ele queria ser amigo faz crianças e das baleias como o Michael dizia ser. Assim, ele desistiu da idéia e teve a sua primeira decepção.

Sua vingança veio com o tempo.....

Como o comportamento do garoto que criava seu próprio mundo não mudava, novamente veio a pergunta:

- O que você vai ser quando crescer?

- Palhaço ou mágico!

As longas horas que passara na frente da TV assistindo o Programa do Bozo já haviam afetado o seu córtex gravemente. E assim começa a sua segunda decepção...

Ao assistir uma apresentação do palhaço Carequinha na primeira fileira, ficou encantado com o palhaço Marmelada. Ele arrancava cigarros das orelhas da sua assistente usando um perigoso chicote. Como todo ser humano um dia ele errou e chicoteou o cotovelo do pequeno Rafael. Todo o meu desapontamento se resumia naquele belo hematoma. E quanto ao mágico, a falta de coordenação motora do garoto “ambicanhoto” sempre foi um obstáculo em seu sonho de fazer sucesso no circo.

O tempo passou e a sua admiração por Galileu e Einstein fizeram com que ele um dia dissesse:

- Eu vou ser engenheiro!

Não sabia as graves conseqüências que isso traria para a sua vida...

Durante a sua tentativa de ser o que queria, ele aprendeu que cálculo a gente tem que fazer pelo menos 2 vezes para aprender direito, conheceu o cacique da Tribo Bó, uma menina que sabe empurrar um Chevette com nenhuma outra, uma índia do caramujo e sua fabulosa batida de pêssego, uma alemã nascida em Natal com cabeça de jaca, aprendeu que chutar o calcanhar de um gordinho pode ser muito divertido, foi apresentado ao terror dos 7 mares, ao cientista do Coelho, que rock de verdade é do AC/DC, punk rock roots quem faz mesmo é o Santa Claus, comprovou com os próprios olhos que a lenda do Saci existe, aprendeu que os pedalinhos da Lagoa fecham às 1h da manhã, que um homem que quer uma mulher olha nos olhos dela e diz “Levanta! Levanta agora!”, quanto está faltando uma carta para completar o seu Full House é necessário mentalizá-la para que ela apareça, que a mistura de Red Label, cerveja, vodca e pepsi pode fazer a Lua girar mais rápido, que Steven Segal é o cara, que devemos declarar guerra aos peruanos e que empurrar argentinos pode ser perigoso.

Hoje depois de tudo isso, ele não sabe se o mais importante foi aprender que V=RI ou que o “Ás é sempre o Ás”.


OBS.: texto do amigo "Julinho" Menezes, novo engenheiro...

sábado, 29 de agosto de 2009

à margem…

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Ao invés, podia chamar-se assim. À margem do cinema nacional talvez. Mas isso explico depois, em um momento mais apropriado. Deixo isso pra depois porque naquele momento por meio do qual pretendo começar esse texto só me vinha à cabeça a barra de chocolate que trazia em minha mochila, e que comprara minutos antes na loja que tem ali por perto. Era uma barra daquele chocolate alpino, que comprei pra comer enquanto assistia ao filme. Prefiro isso à pipoca. Na verdade, contrariando o senso comum, não vejo muita graça em pipoca no cinema. A verdade é que elas costumam ser muito gordurosas, o que me deixa com vontade de sair no meio do filme pra lavar as mãos. E quando elas são pequenas, acabam antes de sequer os traileres começarem; mas quando são grandes, antes da metade já estão frias e murchas, e você é obrigado a enfiá-las goela abaixo – ou encarar sua consciência por ter desperdiçado tanta comida. E, a bem da verdade, em quase todos os cinemas hoje em dia, a pipoca pequena é do tamanho de um balde, daqueles que a gente usa pra lavar o banheiro.

Mas admito que a barra de chocolate, assim como uma provável pipoca, não foi muito além do trailer não. Mas ainda assim, prefiro aquela a esta. Mas não fiz esse texto para divagar a respeito da pipoca e do chocolate. A questão é que, por mais que eu tivesse vontade de ver “À Deriva”, me dirigi ao cinema um tanto quanto sem grandes expectativas. Estava mais interessado no chocolate, admito. Mas admito também que me surpreendi com o resultado do que vi na tela.

O filme é dirigido por Heitor Dhalia, o mesmo cara que dirigiu “O Cheiro do Ralo”. E mesmo com uma carreira cinematográfica tão curta – além desses, ele também dirigiu “Nina”, inspirado em “Crime e Castigo” de Dostoiévsky –, o cara já conseguiu incluir dois filmes na minha lista dos dez melhores – tá bom, não sei se é pra tanto, até porque nunca parei pra fazer uma lista, mas gosto muito desses dois filmes.

“À Deriva” é de uma sensibilidade ímpar ao tratar de questões extremamente delicadas, e especialmente caras à adolescência, como o descobrimento da sexualidade, a relação com os pais etc, do ponto de vista de uma filha mais velha entre três. A história se passa toda durante o verão em algum lugar muito paradisíaco perdido no Brasil, em que a filha em questão, Filipa, começa a namorar, descobre que o pai trai a mãe, e daí começa a questionar as coisas.

Não pretendo contar muito pra não estragar o filme. Mas a verdade é que tudo casa perfeitamente na tela – ainda que seja a deficitária tela do cinema da Uff –, desde a fotografia – perfeita – à trilha sonora, ou ainda o clima estiloso e ointentista que o filme tem – pois é, ele consegue ser as duas coisas. Tem ainda o fato de que uma das filhas – a do meio, que não lembro o nome – tem mania de fotografar tudo no filme. E as fotos são mostradas durante os créditos, o que te deixa com vontade de permanecer por lá até o final, só pra ver as imagens.

No começo disse que o filme seria melhor não à deriva, mas à margem porque é um tipo de filme que não se vê muito no Brasil. Críticas à parte, acostumamo-nos a ver recentemente filmes um pouco mais pesados,  com aquela realidade crua, “capitães nascimento” e afins. Acabamos deixando esse lirismo um pouco de lado: um filme que se passa não-sei-aonde, com sequências de imagens belíssimas, trilha perfeita, que lembra daqueles filmes franceses recentes em alguns momentos.

Não tenho mais que dizer, apenas assista. Não se arrependerá. É um filme à margem, mas não no mau sentido que usulmente costuma se empregar, mas no sentido positivo, como algo a se apontar, para fugir do mesmo de vez em quando.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

O sentimento mais sublime

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Quando se encontra um amigo, se eleva o coração. Porque tem gente que nasce para ser mão estendida, força, garra. Tem gente que tem um “quê” a mais. Sabe aquele tipo que dá vontade de estar por perto? Pronto, chega e fica, engendra-se de uma tal maneira inexplicável, se torna mais do que um fato consumado. Basta; sua presença é a questão. Torna-se tudo tranquilo, faz a gente ter a certeza de uma alegria a mais, uma risada mais, um copo a mais, “ei trás mais um”, “fica mais um pouco”, “não vai agora”. Traduzir qualquer momento ao lado, torna impossível. Irradia amor e simplicidade e não digo aqui que isso tudo é perfeição, longe disso. Resumo em afeto e compreensão. É um querer ser, estar, ficar, permanecer. É o sentimento nobre, mas não porque vem de cima para baixo, mas porque quer ser igual, quer ser recíproco. Tenta ser ouvido, boca, cheiro, sorrisos, gargalhadas, lágrimas. É um chorar junto, um sofrer a mais, uma parceria sugestivamente bela e ingênua, como tudo deve –ou deveria – ser. A junção de certezas e incertezas, o melhor acontecimento que existe, a irradiação sublime de algo que só Deus pode explicar. É o divino, o maravilhoso, é a pureza e o carnaval, a ligação perfeita entre duas ou mais pessoas que se entendem e desentendem na mesma fração de segundos. Dicotômica essa tal de amizade, torna-se essencial, digo, extremamente ortodoxa e pródiga, do começo ao fim. Verdadeira na mais pura verdade, não se finda em qualquer dia, hora, lugar. Está além dos extremos de corpos que se encontram, está no amor das almas que, mesmo distantes, conectam-se umas as outras, por algo ilustre que chamamos de amor. E o amor de uma amizade não é a angustia de não saber o amanhã, mas a certeza do hoje, é o que nos torna ser, o que somos.

“Amigo não se faz, reconhece-o”. (Vinícius de Moraes)

O texto acima é uma contribuição de Leda Agnes, em homenagem à Teresa.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Dia mundial da Fotografia!!!

Bem, o dia não é tão triste assim. Hoje é dia mundial da fotografia, e como nós aqui do ponto e vírgula fomos tomados por uma súbita paixão por esta arte – nem tão súbita assim –, não podíamos deixar passar em branco.

Não fazemos nada de mais, uma vez que, no nosso mundo de hoje, a fotografia está presente em todos os lugares: da câmera ao celular – ou seria o contrário?Vivemos em um tempo em que a imagem é tudo, mas isso é uma discussão filosófica demais para esse post; deixa pra um outro dia.

Na verdade, não temos muito o que dizer não, até porque ninguém aqui é fotógrafo profissional. Mas não custa lembrar dos nossos posts relacionados à fotografia, além do link aí do lado, onde se pode ver as fotos no Flickr.

Os fatos das fotos...
Branco e preto...
Um dia no jardim
Caminho das Flores
Texturas

Só para não passar batido.

Triste dia

Debruçado sobre livros, códigos e cadernos abertos na mesa, a respeito de um caso no qual pretendo me dedicar nos próximos dias, em um instante de distração vejo que na TV transmitem ao vivo a sessão do Conselho de Ética em que discutem acerca das denúncias que recaem sobre o senador José Sarney.

São vários senadores que, de forma meio desordenada, se revezam na defesa de um ou outro ponto de vista, enquanto o presidente do Conselho de Ética, senador Paulo Duque, tenta colocar alguma ordem, de modo que os senadores se concentrem apenas em votar. Creio que isso em si já configuraria um absurdo, tendo em vista que aos senadores que pedem a palavra, o presidente do Conselho diz que será oferecida após a votação, no que Inês já será morta. de que adiantaria discutir algo que já fora irreversivelmente decidido?

De qualquer forma, vê-se que disto aí não poderá sair grandes coisas, uma vez que , juntamente com a votação acerca do Sarney, também farão votação sobre denúncias acerca do senador Arthur Virgílio, justamente da oposição, de onde conclui-se que daí só poderá resultar mesmo é um belo “acordão”, pra safar ambos os lados.

Mas em meio a tudo isso, vejo o depoimento do senador Pedro Simon, do PMDB e um dos mais antigos parlamentares em atividade naquela casa. Ele aponta o dia de hoje como um dia triste na história política brasileira. Infelizmente o que para ele é um dia triste está se tornando recorrente na política brasileira. Mas, independente de minhas posições acerca do PMDB (vide aqui texto já publicado neste blog a esse respeito), e do que ele representa no atual cenário político brasileiro, sou obrigado a concordar com o senador.

Abro o jornal hoje e vejo a infeliz declaração proferida pelo presidente Lula – mais uma dentre tantas outras, a que ele se acostumou a fazer – em que ele compara a “perseguição” sofrida pelo Sarney à perseguição que outros presidentes teriam sofrido no poder, vítimas do “oba-oba do denuncismo”, dentre os quais Getúlio Vargas, JK, Jânio Quadros, João Goulart e Fernando Collor (!?!).

dia triste Tá aí na primeira página do Globo, onde também se vê a pizza com cara de Sarney – muito boa essa…

De fato, o presidente Lula precisa de umas aulas de história. E precisa ainda entender que o Executivo, do qual faz parte, o Legislativo e o Judiciário são, nos termos da própria Constituição que rege esse país, “independentes e harmônicos entre si”, o que quer dizer que ele não pode se imiscuir nos assuntos do Legislativo, a respeito de quem este deve investigar ou não. Os senadores, ainda que membros do PT, são membros de um Poder que não está subordinado às determinações do presidente da República. É muito triste ver que, ainda que por debaixo dos panos, o Lula ache que pode decidir o que o Legislativo faz ou deixa de fazer.

Mas hoje ainda é um triste dia na política nacional porque, ao mesmo tempo em que Lula e o PT – outrora panteão da moralidade política neste país – abraçam Sarney e Collor, numa cruzada política contra a decência em nome do poder, pura e simplesmente, vemos que a senadora Marina Silva – esta sim talvez o último panteão de moralidade na política brasileira – anunciou oficialmente sua saída do partido que ajudou a fundar.

Com isso, além de diversos outros fatos, outras denúncias que foram deixadas pra escanteio e tal, o PT cai cada vez mais em descrédito.

Agora ao fim do texto vejo que o acordão foi enfim selado. Arquivam-se as denúncias contra o Sarney, e fica o dito pelo não-dito, em nome do bem maior, que deve ser a candidatura da Dilma, sei lá.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Breve relato


"Eu sou da Maré. Nascido na Maré. Sou ponto turístico. Eu não falo o português correto, meus amigos são a corja da sociedade e nenhum deles possui peito de aço. Embora alguns deles tenham armas calibre 88 prontos pra morrer e estejam participando de uma guerra que já dura dois meses.

Eu tenho pés, pernas, braços, peito e coração. E ainda tenho que sorrir quando enfrento a multidão. Também sinto saudades, tais como da Joana que morreu após um tiro matar sua única filha chamada Esperança.

Vento e poeira, modo reflexivo. A favela não dorme, é calada, sufocada. Faroeste dos aflitos, veste a farda e tira a fralda, sem querer fui engajado, sem querer me humilharam. E ninguém sabe, e ninguém viu. É o preço que se paga pra não matarem a puta que me pariu.

Todos de preto, usam gandola, burucutu, faca na boca, revolver 38, coturno, algemas descartáveis, munições especiais e 6 carregadores de pistolas, fuzil 7,62 mm, coldres táticos, um bastão retrátil e estão prontos pra guerrear… Pássaro blindado. Dinossauros do futuro. Mosca morta sem pensar.

Ouço tudo pelo telefone celular e a midiahipocrisia insiste em enfatizar que a favela é violenta, foda-se quem mora lá. Me dá um ódio. Me dê um ópio!

Fundo do poço. Quase morro. Comercial.

Tum-tum-tum! Pá! Pum! Pá! Pum! Bláaaa! Bláaaa!

Modo observacional. Os números me revoltam: 27 mortos, 6 presos, muitos foragidos e eu sem ver minha família há 1 mês.

Enquanto isso, o Santa Marta vira alvo da especulação imobiliária e os moradores começam a sentir o efeito da ocupação militar no bolso.

'Eles (moradores) olhavam assustados para aquelas pessoas, que nunca estiveram ali, mas logo entenderam que estavam ali para conhecer o êxito do projeto que pacificou uma comunidade que era dominada pela violência do tráfico. Foi mais uma demonstração de atenção. Ficaram felizes, já que não são mais tratados como bichos ou pessoas à margem da sociedade', explica a capitã Pricilla de Oliveira, comandante da Companhia de Policiamento Comunitário do Santa Marta.

Mal sabem eles que os traficantes dessas regiões ocupadas não foram arrebatados por Deus. Estão fortalecendo outras favelas e tocando o terror em outros pontos da cidade.

Denunciar? Nem pensar, isso é cultura popular. Então deixa os hômi entrar, pacificar, esculachar e depois virar herói?! Melhor se demitir, aqui bandido somos nós.

Gentes do morro, tudo enlatado. Nome vulgo, raça do caralho. Os ditos massa. Guerra covarde, terceiro mundo e ainda dizem que é evolução. Tudo é questão de pá e enxada.

Nem Fome Zero, nem Bolsa Família... o que me deram foi meia dúzia de balas perdidas. Meu santo forte é de madeira, nem se mexe pra não dar bandeira. Dinheiro curto, trabalho incerto.

E o povo grita, suplica, tenta se organizar. A repressão bate na porta. Mas prometemos que não vamos recuar. Resistiremos. Tipo Romênia. Tipo Colômbia. E que caiam por terra todos os dominadores deste tempo! Por um complexo da Maré livre!

Tum-tum-tum! Pá! Pum! Pá! Pum! Bláaaa! Bláaaa!

Porque a guerra é armada, a luta conceitual e a batalha não está perdida!

Chega de guerra na Maré, quero voltar pro Cabaré!

Mas quem vai me ouvir? Digam ai.

E ó, avisa pra geral aqui é o cria do Pinheiro!"
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Texto do Josinaldo Medeiros, morador da Maré.

sábado, 15 de agosto de 2009

Os fatos das fotos…

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Talvez nós não tenhamos o domínio da melhor técnica, da retórica por meio de palavras apenas. Talvez por isso busquemos também as imagens… ou elas nos buscam, não sabemos ao certo. O fato é que a foto é hoje uma das mais sinceras formas de expressão que podemos encontrar.

Com uma câmera na mão – duas, é bem verdade – uma ideia na cabeça e os pés na areia, fizemos o registro simples de uma manhã de sexta-feira. Manhã esta que não teria nada de mais, e seria perdida, não fosse o fato de estar agora devidamente registrada pelos nossos olhares.

Mas no fim das contas foi só mais uma manhã de sexta-feira.

Ouvindo Sexta-feira/Bonfim, do Bangalafumenga.