domingo, 25 de outubro de 2009

Parabéns!

Não sei ao certo quando isso se deu mais ou menos. Só sei que quando criança sempre pedia a Deus um irmão. Não, não esperava que minha mãe ficasse grávida tardiamente. Não era isso. Meu intento era de ter um irmão mais velho. Mais velho que minha irmã, inclusive; não que ela não fosse uma boa irmã, pelo contrário. Mas é que eu sentia falta de um irmão com quem partilhar meus carrinhos e meus “comandos em ação”. Meu primo até que cumpria relativamente bem essa tarefa, mas nunca foi um irmão efetivamente – afinal, ele já era um primo mesmo.

Ante a impossibilidade fática de meus pais conceberem um filho que se tornasse, como num passe de mágica, mais velho que os filhos que anteriormente tiveram, eu imaginava que um dia poderia descobrir talvez que meu pai tivera um filho antes de conhecer minha mãe – não admitia a possibilidade de sê-lo quando já a conhecesse, já que isso implicaria em inevitável prejuízo à estrutura da minha família –, que ele só viria a conhecer anos depois.

Durante algum tempo fiquei nessa espera – acho que foi só uma coisa passageira de infância – até me tocar que não haveria como, e que minhas preces foram em vão – afinal Deus não iria sequer se coçar para atender um pedido desses, já que com certeza deve ter coisas muito mais importantes pra fazer.

Ditados do tipo “quem espera sempre alcança” e tal não se aplicam bem ao caso, já que nunca esperei muito por isso não – ainda criança eu já tinha noção da quase impossibilidade de isso acontecer. Mas mal sabia eu que um dia isso mudaria.

Em meados de 2007 eu descobri um irmão. Não se tratava de um filho bastardo que meu pai tivera, longe disso. Era só um cara que, aos poucos, naquelas pequenas coisas, foi se tornando mais que um irmão: o meu melhor amigo. Até então nunca tinha tido um melhor amigo; sempre achei que deveria ter vários melhores amigos. Talvez por isso eu tenha tido tanta dificuldade em reconhecê-lo como tal.

Passamos a frequentar a casa um do outro, fazer noitada junto e tal. Contávamos tudo um para o outro, e se não tínhamos nada pra fazer – e olha que nessa época realmente não tínhamos nada pra fazer –, íamos eu pra casa dele, ou ele pra minha casa, pra fazer porra nenhuma mesmo. Houve ainda momentos bons e ruins, mas que fazem parte da vida de qualquer jeito. Pelo menos nesses momentos ruins pude ver algo de bom: eu tive um irmão com quem contar.

Senti-me recompensado no dia que ele me disse que eu também era seu melhor amigo, em fins de dezembro do ano passado. De fato, saber que essa amizade foda que nós tínhamos era algo recíproco era muito reconfortante.

Bem, hoje ficam aqui meus parabéns a esse cara, que no dia de hoje completa mais uma primavera, hehehe. Feliz aniversário, Thiago!

Digitalizar0002 Renan com 5 anos
Irmãos sem saber. Não tinha um uniforme completo do Flamengo naquela época para colocar aqui (não tenho até hoje, é bem verdade).

feijões

sábado, 24 de outubro de 2009

Como ficar famoso e aparecer na TV...


Alguém dormindo no ônibus, upload feito originalmente por Renan Costa.

Você deve estar se perguntando o que essa foto tem a ver com esse título, mas eu chego lá. Era por volta de 21h30, se não me falha a memória. Caía uma chuva torrencial. O ônibus em que estava passava nesse exato momento pela praça do pedágio da ponte Rio-Niterói. Eu comemorava, pensando que poderia chegar alguns minutinhos mais cedo em casa - pra quem faz essa viagem todo santo dia (Niterói - Rio - Niterói), alguns minutos de diferença é lucro - já que na semana anterior eu tinha passado pelo mesmo local por volta de nove e vinte, e por isso consegui chegar em casa cedão.

"Dez minutos de diferença não é quase nada", pensei. "Se o trânsito estiver igual ao da semana passada chego em casa rapidinho". Qual não foi a minha surpresa ao sair da ponte e subir aquele viaduto que leva à Marques de Paraná - e consequentemente à Icaraí e Santa Rosa - e depara-me com o trânsito todo parado. Carros e mais carros iam chegando e parando ali, naquele exato lugar sem escapatória.

Como disse, não era muito mais que 21h30, e ali fiquei por um bom tempo. A forte chuva que caía - já comentei sobre a chuva? - repentinamente cessou, reduzindo-se a meros chuviscos, mas ainda assim não havia roda que se movesse. Ali fiquei por um bom tempo, imaginando que se tratasse de um acidente, e que dentro de muito em breve o carro acidentado seria retirado, e as pistas liberadas, assim como o tráfego de carros. Mas que nada.

Algumas pessoas mais esbaforidas não conseguiram esperar sequer meia hora dentro do ônibus - de fato, a possibilidade de ter que esperar horas sentado em um ônibus não deve nada a qualquer método chinês de tortura. Mas pensei que tudo ia se resolver dentro de poucos minutos, que o trânsito se normalizaria e que aquelas pessoas se arrependeriam depois. Que nada: eu me arrependi de não ter levantado antes.

Eis que, uma hora e meia depois de sentado no mesmo banco do ônibus - pois é, quase acabei com a bateria do meu celular, na tentativa de ouvir todas as músicas possíveis, e quando findas estas, todas as rádios que tivessem algo interessante, o que nestas condições se mostra algo quase impossível -, sem que este se movesse um milímetro sequer em direção à minha casa, decido levantar e seguir viagem a pé. "Não é possível que um acidente de trânsito atrapalhe tanto a vida das pessoas", pensei.

Levantei-me e segui na mesma rua, até mesmo para saber do que se tratava, que impedia tanto assim o prosseguimento regular da minha viagem. O cenário que encontrei era devastador: carros tortos no meio da rua, em uma tentativa de retornar - vã, eis que a fila de carros atrás já se estendia até a ponte - e a rua completamente alagada, em nível tal que sequer os ônibus se atreviam a atravessar.

Rapidamente encontrei uma rua paralela que estava seca e segui o caminho das pessoas que, assim como eu, largaram seus lugares nos ônibus e decidiram seguir a pé. A imagem lembrava desses filmes de zumbi ou coisa do tipo, em que a cidade está completamente vazia, e você só vê a fila de cidadãos incautos, ainda não contaminados pelo suposto vírus que dizimou toda a sociedade, tentando buscar um abrigo, mas na verdade caminhando para a morte certa. Ainda bem que era a vida real...

Dalí a história não apresenta nada de mais: segui até o terminal de ônibus no Centro de Niterói - ou seja, andei pra c@#$%&*aralho - e peguei um 53, que por sorte estava parado na hora em que cheguei no terminal. As pessoas na minha frente na fila para pegar o ônibus me disseram que estavam há 50 minutos esperando o ônibus e nada - pelo menos dessa eu escapei.

Ainda peguei um trânsito na Gavião Peixoto, em Icaraí - detalhe: já era quase meia-noite - mas consegui chegar em casa, são e salvo, por volta de meia-noite e quinze, mais ou menos.

Acaba aí minha história. Mas o que isso tem a ver com o título lá em cima? Das duas uma:

1) Fui acordado pela minha mãe, quando ainda passava "Bom Dia Rio" - como se não bastasse a hora em que eu tinha ido dormir -, porque eu apareci na TV. Justamente na matéria em que mostravam os desastres ocorridos na cidade de Niterói durante o temporal de segunda-feira. Por conta do crescimento desenfreado que a cidade de Niterói teve nos últimos anos, com muitas construções, favelização etc, sem o devido acompanhamento pelo Poder Público - fosse restringindo o número de pavimentos dos prédios a um número adequado para a cidade, ou fiscalizando construções irregulares, ou alargando as ruas e cuidando do sistema de captação de água das chuvas - eu acabei aparecendo na TV como vítima disso tudo, coitado.

Ou

2) Minha total falta de criatividade em criar um título decente para esse post, que de fato demonstrasse toda a minha insatisfação com isso tudo que eu escrevi em cima a respeito da incompetência de nossos governantes.

Bem, você decide.

Só pra constar minha set list enquanto esperava no ônibus, assim como também no 53 (alguns discos eu ouvi inteiros):
Quatro, Los Hermanos
Afro-Sambas, Baden Powell
Abbey Road, The Beatles
OK Computer, RadioHead
África Brasil, Jorge Ben
Iê-iê-iê, Arnaldo Antunes
Cartola (1974), Cartola.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A respeito da vitrola...


Clube da Esquina, upload feito originalmente por Renan Costa.

Preciso de uma vitrola,
do braço da agulha,
de um disco de vinil.

Careço de uma viola
do interior do Brasil,
do morro pro asfalto,
da mulata de salto

Da segunda de carnaval,
das noites de festival.

Vejo o que ouço e não gosto,
Não ouço o que vejo e me prostro,
Esperando o disco rodar e o som chiar...

Preciso da música
escondida numa vitrola.