sábado, 24 de outubro de 2009

Como ficar famoso e aparecer na TV...


Alguém dormindo no ônibus, upload feito originalmente por Renan Costa.

Você deve estar se perguntando o que essa foto tem a ver com esse título, mas eu chego lá. Era por volta de 21h30, se não me falha a memória. Caía uma chuva torrencial. O ônibus em que estava passava nesse exato momento pela praça do pedágio da ponte Rio-Niterói. Eu comemorava, pensando que poderia chegar alguns minutinhos mais cedo em casa - pra quem faz essa viagem todo santo dia (Niterói - Rio - Niterói), alguns minutos de diferença é lucro - já que na semana anterior eu tinha passado pelo mesmo local por volta de nove e vinte, e por isso consegui chegar em casa cedão.

"Dez minutos de diferença não é quase nada", pensei. "Se o trânsito estiver igual ao da semana passada chego em casa rapidinho". Qual não foi a minha surpresa ao sair da ponte e subir aquele viaduto que leva à Marques de Paraná - e consequentemente à Icaraí e Santa Rosa - e depara-me com o trânsito todo parado. Carros e mais carros iam chegando e parando ali, naquele exato lugar sem escapatória.

Como disse, não era muito mais que 21h30, e ali fiquei por um bom tempo. A forte chuva que caía - já comentei sobre a chuva? - repentinamente cessou, reduzindo-se a meros chuviscos, mas ainda assim não havia roda que se movesse. Ali fiquei por um bom tempo, imaginando que se tratasse de um acidente, e que dentro de muito em breve o carro acidentado seria retirado, e as pistas liberadas, assim como o tráfego de carros. Mas que nada.

Algumas pessoas mais esbaforidas não conseguiram esperar sequer meia hora dentro do ônibus - de fato, a possibilidade de ter que esperar horas sentado em um ônibus não deve nada a qualquer método chinês de tortura. Mas pensei que tudo ia se resolver dentro de poucos minutos, que o trânsito se normalizaria e que aquelas pessoas se arrependeriam depois. Que nada: eu me arrependi de não ter levantado antes.

Eis que, uma hora e meia depois de sentado no mesmo banco do ônibus - pois é, quase acabei com a bateria do meu celular, na tentativa de ouvir todas as músicas possíveis, e quando findas estas, todas as rádios que tivessem algo interessante, o que nestas condições se mostra algo quase impossível -, sem que este se movesse um milímetro sequer em direção à minha casa, decido levantar e seguir viagem a pé. "Não é possível que um acidente de trânsito atrapalhe tanto a vida das pessoas", pensei.

Levantei-me e segui na mesma rua, até mesmo para saber do que se tratava, que impedia tanto assim o prosseguimento regular da minha viagem. O cenário que encontrei era devastador: carros tortos no meio da rua, em uma tentativa de retornar - vã, eis que a fila de carros atrás já se estendia até a ponte - e a rua completamente alagada, em nível tal que sequer os ônibus se atreviam a atravessar.

Rapidamente encontrei uma rua paralela que estava seca e segui o caminho das pessoas que, assim como eu, largaram seus lugares nos ônibus e decidiram seguir a pé. A imagem lembrava desses filmes de zumbi ou coisa do tipo, em que a cidade está completamente vazia, e você só vê a fila de cidadãos incautos, ainda não contaminados pelo suposto vírus que dizimou toda a sociedade, tentando buscar um abrigo, mas na verdade caminhando para a morte certa. Ainda bem que era a vida real...

Dalí a história não apresenta nada de mais: segui até o terminal de ônibus no Centro de Niterói - ou seja, andei pra c@#$%&*aralho - e peguei um 53, que por sorte estava parado na hora em que cheguei no terminal. As pessoas na minha frente na fila para pegar o ônibus me disseram que estavam há 50 minutos esperando o ônibus e nada - pelo menos dessa eu escapei.

Ainda peguei um trânsito na Gavião Peixoto, em Icaraí - detalhe: já era quase meia-noite - mas consegui chegar em casa, são e salvo, por volta de meia-noite e quinze, mais ou menos.

Acaba aí minha história. Mas o que isso tem a ver com o título lá em cima? Das duas uma:

1) Fui acordado pela minha mãe, quando ainda passava "Bom Dia Rio" - como se não bastasse a hora em que eu tinha ido dormir -, porque eu apareci na TV. Justamente na matéria em que mostravam os desastres ocorridos na cidade de Niterói durante o temporal de segunda-feira. Por conta do crescimento desenfreado que a cidade de Niterói teve nos últimos anos, com muitas construções, favelização etc, sem o devido acompanhamento pelo Poder Público - fosse restringindo o número de pavimentos dos prédios a um número adequado para a cidade, ou fiscalizando construções irregulares, ou alargando as ruas e cuidando do sistema de captação de água das chuvas - eu acabei aparecendo na TV como vítima disso tudo, coitado.

Ou

2) Minha total falta de criatividade em criar um título decente para esse post, que de fato demonstrasse toda a minha insatisfação com isso tudo que eu escrevi em cima a respeito da incompetência de nossos governantes.

Bem, você decide.

Só pra constar minha set list enquanto esperava no ônibus, assim como também no 53 (alguns discos eu ouvi inteiros):
Quatro, Los Hermanos
Afro-Sambas, Baden Powell
Abbey Road, The Beatles
OK Computer, RadioHead
África Brasil, Jorge Ben
Iê-iê-iê, Arnaldo Antunes
Cartola (1974), Cartola.

Um comentário: