quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Why don’t we do it in the Abbey Road?

Semana passada a capa de disco que é uma das imagens mais icônicas da história da cultura pop fez quarenta anos. Refiro-me ao disco Abbey Road, dos Beatles, que foi lançado em 1969, cuja capa mostra os quatro rapazes de Liverpool prosaicamente atravessando a rua que dá nome ao disco.

Talvez essa tenha sido uma das cenas mais repetidas desses últimos quarenta anos – deve ter gente na tal da Abbey Road nesse exato momento fazendo pose pra uma foto igual a essa. A questão é que lá se vão quarenta anos desde que os Beatles terminaram de fato também. Esse disco, apesar de ser o penúltimo da discografia deles, foi o último a ser gravado pelo grupo, uma vez que Let it Be, que de fato foi o último, havia sido gravado alguns meses antes.

Há alguns meses que eu estou viciado nos Beatles, em particular em Abbey Road, que é de fato o melhor trabalho deles – já até tinha mencionado meu vício por aqui antes. E chega a ser difícil, por conta disso, imaginar que quando eles fizeram esse disco, a banda já estava em fase terminal, naquele momento em que ninguém aguenta mais olhar pra cara um do outro. No fim das contas, apesar da curta carreira que tiveram – apenas seis anos e alguns trocados e um total de onze discos, eu acho –, eles terminaram no auge, no melhor lugar onde qualquer banda poderia estar – no posto de melhor banda de todos os tempos.

abbey road_silhueta

Na Rolling Stone desse mês, há uma extensa e excelente matéria sobre o fim dos Beatles, tudo que antecedeu os últimos dias e como a tensão dominava o ambiente. A matéria só aumenta a admiração que já nutria por Paul McCartney. Até o fim, o cara sempre lutou pela integridade da banda, e nos últimos discos, quando John Lennon já tava de saco cheio e só pensava na Yoko, o cara tomava a frente e decidia como tocar o barco – por isso os outros beatles até o vissem como autoritário, mas naquela mania de ser hyppie demais, a banda precisava de alguém mais pragmático, essa é a verdade.

Por conta disso, o próprio conceito de álbuns definidores da carreira da banda foram delineados por Paul. É o caso do já citado Abbey Road e do também excelente Sgt. Pepper Lonely Hearts Club Band. Por isso afirmo: o cara é meu beatle favorito.

Mas independente do clima de tensão que cercava a banda e suas reuniões, ainda assim era uma grande banda. Prova disso é o vídeo abaixo, uma apresentação do grupo em um programa de tv em 1968 – uma das poucas apresentações da banda depois de 1966, quando eles decidiram que não mais fariam shows, numa época em que os artistas podiam se dar ao luxo de fazer isso, dada a complexidade que suas canções adquiriram.

Dá pra ver a sintonia que ainda havia entre os caras, e a forma como a música acaba envolvendo todo mundo. Trata-se de Hey Jude, que é pra mim a melhor canção dos caras, um hino de celebração, uma canção do tipo “abrace uma árvore” – pra mim, a melhor definição pra esse tipo de música.

abbey road_silhueta

Por fim, deixo vocês ainda com esse outro vídeo. É uma propaganda do game deles lançado recentemente, mas a reconstituição ficou tão bem feita, que merece o registro aqui.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Déjà vu geral!

salvegeral

Essa foi a sensação que tive após sair do cinema agora há pouco. Talvez não durante a projeção toda, mas o filme “Salve Geral”deixa uma sensação do tipo “já vi isso antes”. O cinema estava com uma sessão completamente lotada – também pudera, exibição de graça do filme brasileiro indicado a concorrer a uma vaga no Oscar não tinha como ser diferente. E eu ali, sentindo-me um extraterrestre, cercado de pseudomodernos, de all-star ao fim de calças apertadas, além de óculos como os da Mallu Magalhães – todos provenietes de cursos de humanas da Uff, provavelmente –, pacientemente esperando pelo início da projeção. Sei que esse comentário acerca da plateia não era importante, mas tinha que fazê-lo. Talvez estivesse assim porque, além de cinema de graça – tudo que é de graça tem o dom de mover as pessoas –, também haveria debate com o diretor do filme, além do sociólogo Luiz Eduardo Soares. Talvez por isso tanta intelectualidade reunida.

Bem, mas quanto ao filme propriamente dito, cada cena, cada enquadramento, cada diálogo paulistanamente travado entre os personagens só me leva a pensar que na próxima cena de penitenciária o Rodrigo Santoro vai aparecer vestido de mulher ou coisa que o valha. Ficava sempre um gosto de “Carandiru” na tela. Por isso a sensação de déjà vu. Mas não só por isso; também pelo fato de que pela segunda vez no Brasil se aposta na indicação ao Oscar em um filme nos moldes do que vem se tornando padrão em termos cinematográficos em terras tupiniquins: a exploração da violência, da bandidagem e afins (ano passado já havia sido indicado o fraco “Última Parada: 174”). Desse nicho cinematográfico é bem verdade, já se pode extrair filmes excelentes – pra mim, “Cidade de Deus”, um dos precursores desse gênero, é um dos melhores filmes já feitos no Brasil em todos os tempos. Mas o fato é que o modelo cansa, se não for bem realizado.

A verdade é que o filme deixa a desejar como um todo. Não que seja ruim, mas em se tratando de um filme indicado pelo Brasil a concorrer a uma vaga no oscar, eu esperava mais. Até porque o último filme nacional que pude assistir (“À Deriva”, leia aqui) me arrebatou de tal modo, que até agora não entendo porque ele não foi indicado a uma indicação ao invés deste “Salve Geral”.

Mas o fato é que não obstante Andréia Beltrão seja uma excelente atriz, e  atriz que interpreta tal Ruiva no filme (advogada de porta de cadeia envolvida com o crime organizado) também seja igualmente excelente – no começo a personagem dela parece caricata demais, mas na segunda metade ganha mais consistência – e ambas ainda protagonizem cenas nas quais se pode rir um pouco em meio à tensão que o filme mostra, a verdade é que ainda assim o filme tem algumas cenas sofríveis, que podíamos passar sem, tal qual a perseguição de carro, protagonizada pelo filho da Andréia Beltrão no filme, em que em meio a curvas em alta velocidade e manobras arriscadas, ele consegue fugir da polícia porque o policial mete a viatura em umas lixeiras cheias de papel (?!?). Lembra até aquela perseguição que tem no primeiro filme dos “Normais”, em que o Rui também foge da polícia, com a diferença que neste último os carros são de brinquedo.

A própria protagonista fica subvalorizada. A ideia da mãe que luta para livrar o filho da prisão, e para isso age sem escrúpulos, até é uma premissa boa – poderia quem sabe render até uma indicação ao oscar de melhor atriz –, mas no filme foi mal trabalhada. Apesar do roteiro ser bem amarrado, tudo ocorre de forma lenta no início pra perto do fim tomar uma velocidade incrível, uma proporção quase épica – só faltou Ben-Hur numa biga. Até a metade, tudo é lento, e depois tudo fica corrido e meio que sem explicação aparente.

No fim das contas, as cenas que mostram São Paulo aterrorizada com o ataque da facção criminosa, a cidade vazia e o caos instaurado até que são boas – o simples fato de se registrar uma cena da cidade completamente vazia já merece registro aqui – mas não o suficiente para tornar o filme um filmasso. Não um filme pra concorrer ao oscar. Infelizmente essa é a sensação que me passou, e agora não há mais nada que se possa fazer, já que a indicação já foi feita. Resta esperar e torcer.

Veja o trailer, depois veja o filme e tire suas próprias conclusões

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O que você vai ser quando crescer?

Há algum tempo atrás, a mãe do pequeno Rafael perguntou-lhe preocupada com o garoto que possuía amigos imaginários em excesso e passava dias se divertindo com eles:

- O que você vai ser quando crescer?

- Eu vou ser o Michael Jackson!

Porém, após assistir o clipe de “Bad” do seu ídolo, o garoto percebeu que, mesmo sem entender uma palavra em inglês, seu astro dizia: “Eu sou mau!”. O menino não queria ser mau! Ele queria ser amigo faz crianças e das baleias como o Michael dizia ser. Assim, ele desistiu da idéia e teve a sua primeira decepção.

Sua vingança veio com o tempo.....

Como o comportamento do garoto que criava seu próprio mundo não mudava, novamente veio a pergunta:

- O que você vai ser quando crescer?

- Palhaço ou mágico!

As longas horas que passara na frente da TV assistindo o Programa do Bozo já haviam afetado o seu córtex gravemente. E assim começa a sua segunda decepção...

Ao assistir uma apresentação do palhaço Carequinha na primeira fileira, ficou encantado com o palhaço Marmelada. Ele arrancava cigarros das orelhas da sua assistente usando um perigoso chicote. Como todo ser humano um dia ele errou e chicoteou o cotovelo do pequeno Rafael. Todo o meu desapontamento se resumia naquele belo hematoma. E quanto ao mágico, a falta de coordenação motora do garoto “ambicanhoto” sempre foi um obstáculo em seu sonho de fazer sucesso no circo.

O tempo passou e a sua admiração por Galileu e Einstein fizeram com que ele um dia dissesse:

- Eu vou ser engenheiro!

Não sabia as graves conseqüências que isso traria para a sua vida...

Durante a sua tentativa de ser o que queria, ele aprendeu que cálculo a gente tem que fazer pelo menos 2 vezes para aprender direito, conheceu o cacique da Tribo Bó, uma menina que sabe empurrar um Chevette com nenhuma outra, uma índia do caramujo e sua fabulosa batida de pêssego, uma alemã nascida em Natal com cabeça de jaca, aprendeu que chutar o calcanhar de um gordinho pode ser muito divertido, foi apresentado ao terror dos 7 mares, ao cientista do Coelho, que rock de verdade é do AC/DC, punk rock roots quem faz mesmo é o Santa Claus, comprovou com os próprios olhos que a lenda do Saci existe, aprendeu que os pedalinhos da Lagoa fecham às 1h da manhã, que um homem que quer uma mulher olha nos olhos dela e diz “Levanta! Levanta agora!”, quanto está faltando uma carta para completar o seu Full House é necessário mentalizá-la para que ela apareça, que a mistura de Red Label, cerveja, vodca e pepsi pode fazer a Lua girar mais rápido, que Steven Segal é o cara, que devemos declarar guerra aos peruanos e que empurrar argentinos pode ser perigoso.

Hoje depois de tudo isso, ele não sabe se o mais importante foi aprender que V=RI ou que o “Ás é sempre o Ás”.


OBS.: texto do amigo "Julinho" Menezes, novo engenheiro...