quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Como conheci o Mumu da Mangueira...

Mumu da mangueira em seus áureos tempos televisivos

Tinha por volta de oito anos, não muito mais que isso. Até porque, não lembro exatamente o ano, mas tenho quase certeza que se deu por volta de 1993. O avião era da finada VASP, com certeza, como se vê do cartão lá embaixo – ou seja, tem tempo que isso se deu. A revista de bordo do avião trazia uma matéria sobre o Tipo, aquele automóvel da Fiat, que era o lançamento do ano; entre as comidas servidas durante o voo – que naquele tempo era uma fartura –, lembro-me que havia um chocolatinho de menta, no formato de uma hóstia, que era uma delícia, ao menos para meu pueril paladar. De fato, guardo com clareza de detalhes na minha memória tudo que ocorreu dentro daquele avião, disso estou seguro. Ou não...


Isso porque, naquela época, eu parava o que fosse que estivesse fazendo pra ver “Os Trapalhões”. Lembro que passava aos domingos, por volta de sete ou oito horas da noite, que vinha a ser justamente o horário da missa que meus pais de vez em quando costumavam frequentar. Pra mim isso era um verdadeiro martírio; que Deus me perdoe, hehehe, mas abdicar de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias para participar, por uma hora – exatamente a hora do programa – da missa não era pra mim. Enquanto eu dormia no banco da igreja – convenhamos, criança alguma entende uma missa –, sonhava com o que se podia estar passando no episódio do “Trapa Hotel” daquele domingo, ou qual a história do “cafundó do brejo” que o Didi contaria dessa vez.


Então, pra alguém que gostava tanto assim dos Trapalhões, a situação pela qual eu passava era extremamente extasiante. Não entendi direito no começo o motivo da agitação das demais crianças que estavam no avião. Era um tal de olhar pra trás e cochichar, falar com os pais, apontar, mas ninguém ousava se mexer na poltrona.


Daí decidi olhar pra trás para ver do que se tratava, qual o motivo de tanta aflição naquele avião. Quando olho para trás, admito que a princípio não o reconheci: estava sentado na última poltrona do avião, com um semblante sério, uma roupa igualmente séria, que em nada lembrava suas vestes mais habituais, óculos de grau, e um livro, que não faço idéia de qual fosse, e nem me importava saber. Mas o que sei é que aquela visão em nada me lembrava aquele que pra mim era o melhor dos quatro trapalhões (espero que meu amigo Praião não leia esse post): Mussum.


Tá bom, tá bom. Admito que uma declaração como essa possa talvez chocar muita gente, e pra falar a verdade, nem sei ao certo afirmar entre os quatro quem realmente era o melhor; era um grupo que se completava. Mas não se pode negar: Mussum era ao menos o mais subversivo do grupo. Imagine um programa voltado para a família, com claro apelo junto ao público infantil, ter como um dos principais personagens um cara que era o típico estereótipo do malandro carioca, sambista, que vivia no bar, ou com uma garrafa de “mé” debaixo do braço. De fato, algo impensável nestes tempos em que impera a classificação indicativa na nossa televisão. Nos dias atuais, Os trapalhões seriam reclassificados, e só poderiam ser exibidos no horário do BBB, sei lá.


Mas voltando ao avião: lá estava ele, no fim do avião, já perto daqueles claustrofóbicos banheiros – quando eu era criança, tinha medo de fechar a porta e ficar preso lá dentro, mas ao mesmo tempo, tinha medo do escuro do banheiro, já que a luz só acendia com a porta fechada – de alguma forma entretido no livro que tinha em mãos. Ninguém no avião ousava interpelá-lo e, assim incomodar a sua leitura, por mais agitadas que as crianças do avião inteiro se mostrassem.


Foi então que, num momento de bravura único para a média daquele avião – e instigado por meus pais também, admito –, peguei um cartão postal que havia na poltrona onde estava, levantei-me e dirigi-me até o fim do avião, e não, não fui para o banheiro, mas, na verdade, ousei interromper a leitura que tanto o entretia, a fim de obter um autógrafo. Para meu espanto, apesar de extremamente solícito e educado para comigo, não houve nenhuma piada, comentário engraçadinho acerca daquele cara esquisito que estava duas poltronas à frente ou coisa parecida; limitou-se à educadamente me cumprimentar – algo do tipo “sai fora garoto, que eu tô lendo”, mas, como disse, bem educado – e assinar no verso do cartão.


Foi aí que eu me toquei, do alto dos meus oito anos de idade, que a vida é uma grande representação – talvez não tenha sido algo tão profundo assim; tá mais pra profundo tal qual um pires – e que as pessoas não são sempre as mesmas, ou, pelo menos, as mesmas a que nos acostumamos a ver na televisão. Mas isso não diminuiu minha admiração pelo artista que ele era, pelo contrário. Vi ali que o Mussum nada mais era do que um personagem; o bêbado, o sambista, o humorista, o cantor etc. Todos eram facetas de uma pessoa só, que era tudo e ao mesmo tempo nada daquilo.


Mas esse meu ímpeto em busca do autógrafo foi o que as demais crianças do avião precisavam para ir lá falar com ele, e acabar de vez com seu sossego. Mas até aquela noite – já mencionei que estava de noite? –, devo admitir que nunca tinha me sentido tão corajoso em toda a minha vida: sem hesitar, deixei o conforto da minha poltrona e a companhia protetora dos meus pais e irrompi o corredor do avião, falei com ele e pronto; fui devidamente recompensado, com um autógrafo que, em tempos de câmeras digitais e artistas efêmeros, pode não querer dizer muita coisa pra maioria das pessoas. Mas pra mim, foi muito mais que uma simples assinatura.



Aqui está o autógrafo, acompanhado do meu “autógrafo” do lado da data…

Sei que essa música, tirando seu intérprete, não tem nada a ver com o texto, mas é que é muito boa. Ouvindo Bacubufo no Caterefofo, dos Originais do Samba.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009



Ela era tudo na minha vida
(Francisco Ferraz)

Ela era tudo na minha vida
Mas tudo na vida passa
E sempre que passa não deixa
Espaço pra tudo que ainda ficou

Um dia ela só acordou e pensou
No que é, no que era e no que ia ser
Decidiu que seria melhor não mais ser
Do jeito que é
Resolveu como seria sua vida
E saiu prum passeio a pé

No cabelo não mais a presilha infantil
Nem a cor que escondia o olhar
E nas roupas não mais as camisas
De histórias, de bandas, de estilos sutis
Preferiu as camisas lisas de cores pastéis
No ouvido não mais baterias, guitarras
Baladas, refrões e alargador
Melhor era pandeiro de sambas falados
Cantados por moças que fingem amor

E eu do seu lado acompanho todas as mudanças
Como quem senta e assiste ao luar
Só depois percebi que seria o próximo dela largar
Hoje vejo que ela caminha, quadris sempre em linha
Com outro do lado, sorrisos de lá e de cá
E sempre que olho percebo que ela me olha
Como sempre me olhou, e talvez vá olhar
Agora que vejo que ele é o jeito dela jamais me largar




O vídeo e a poesia são contribuições do amigo Francisco Ferraz, um misto de petropolitano, poeta, músico, videomaker e bonequinho no BuddyPoke!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009









O universo feminino

Há certas verdades na vida que são totalmente indiscutíveis. É claro que em muitas oportunidades, diferentes verdades entram em conflitos e que nos fazem presenciar guerras, intolerância, entre outros. Mas as verdades indiscutíveis são aquelas que causam ou contentamento, ou a desistência de qualquer discurso. Falo isso pois ontem tive a mesma impressão que muitos homens tem quando falamos do universo feminino: sim, a verdade é que as mulheres são complicadas e que nunca entenderemos o que se passa numa mente de mulher.



Sentado em uma mesa com a maioria do sexo oposto, descobri que o mais legal é passar despercebido. Sem lembrar que existe um homem no meio, elas se soltam. O engraçado não é debater, não é rir dos detalhes que nos parecem estranho, não é perguntar se algo lhe passou sem uma certa compreensão. O mais legal (e olha que é legal mesmo) é apenas ouvir, fazer suas concatenações em seu interior mais profundo, e, assim, utilizar aquela experiência em uma ocasião futura.



E naquela mesa descobri certas coisas, algumas até impublicáveis. Descobri que elas não jogam sinuca no banheiro; realmente elas conversam, e muito. Que elas têm desejos, assim como os homens. Fazem comentários “feministas” no melhor estilo machista da situação. E fazem perguntas que soam como idiotas - com respostas próximas do “Isso é relativo!” -, mas que fazem todo (ou algum) sentido no dia-a-dia. Mulheres seriam homens mais sensíveis? Isso é relativo.


Dou de presente uma: o que é pior, mostrar o cofrinho ou a calcinha? Podemos até tentar contextualizar essa em uma mesa com alto teor de masculinidade, aproximando a pergunta com algo mais próximo ao nosso universo: O que é melhor, soltar um peido ou arrotar? Apesar do grau de besteirol, acho que gostei mais da discussão na mesa das mulheres. Hah, e saí de lá com algumas dicas, mesmo não entendendo o porquê. Coisas de mulheres, né?


OBS.: Quanto à pergunta do cofrinho e da calcinha, fui obrigado a participar com a minha opinião no meu olhar masculino. Pensando muito (é... anteriormente esta grande dúvida que assola a humanidade nunca tinha passado em minha cabeça) respondi que era a calcinha. Nada mais engraçado do que um cofrinho à mostra.




È... uma boa é ouvir "Mulheres", de Martinho da Vila


sábado, 24 de janeiro de 2009



Tinha apenas uma edição velha de um livro de poesias em cima da mesa – agora ainda mais velha, com o novo acordo ortográfico. Mas isso pouco lhe importava, “a obra em si está acima disso”, pensa. Mas nessa hora não queria ler; não parava de pensar na vida ao seu redor. O café que tinha pedido havia algum tempo já estava frio, mas é que ela era assim: quando se danava a pensar em algo, se perdia em seus pensamentos, não via a hora passar. Perdia o olhar em algum lugar da rua, ali pelo Leblon, que tem aquela vista que quase arromba a retina de quem a vê, observando as pessoas caminhando, as mães com seus carrinhos de bebê, as pessoas voltando da praia, as vitrines os vendo passar, como na canção do Chico – uma de suas preferidas.

Olhava as pessoas, imaginando que tipo de vida teriam, os rumos que seus destinos tomariam, vivendo suas vidas. Como, por exemplo, o que aconteceria se aquele encontro apaixonado daquele casal de desconhecidos que acabou de presenciar não tivesse se realizado, ou se aquele pai tivesse se atrasado ao buscar a filha no colégio, ou, ainda, se a vida daquelas pessoas do outro lado da calçada tivesse se cruzado naquele momento, com um mero esbarrão. Mas com o mundo do jeito que está hoje em dia, as pessoas não se permitem esbarrar-se; do contrário, esquivam-se a todo custo. Cada um com seu cada qual, e assim a gente vai levando, tal qual aquela outra canção.

“Vocês precisam desacelerar”, foi o que disse uma vez sua mãe, para ela e sua irmã, quando, ainda no arroubo da adolescência, começaram a sair todas as noites, chegar tarde, e também quando surgiram os primeiros namorados, deixando os pensamentos e atitudes pueris para trás. Foram alguns os seus rapazes, não muitos, mas nenhum realmente duradouro. Todos fugazes e vazios – talvez os esbarrões não tenham sido fortes o suficiente.

Pensa que, seguindo o conselho de sua mãe, deveria desacelerar um pouco. Ouvir mais um samba, cantar mais a vida. E viver menos a vida dos outros.

- Às vezes é tudo que as pessoas precisam para ter felicidade, um mero esbarrão – comenta com si mesma. Isso porque, por mais pessoas que houvesse ao redor, nenhuma delas a ouvia, apenas ela própria. Talvez seja ela quem precise de um esbarrão também, apenas para enfim encontrar a metade exilada dela mesma.

Mas, ainda assim, ela não deixa de viver a vida dos outros – talvez seja assim só porque ela faz cinema, naquele curso da UFF, o que, imagina, aflora sua criatividade. Só que, nisso de viver observando o alheio, não imaginava que um dia pudesse ter seus olhares correspondidos. Nessa mesma tarde, enquanto remexia o café frio com a colher, em uma mesa disposta sobre a calçada, sentia-se observada também. Outro alguém lia-lhe a vida, imaginava o que teria vivido até então, e o que haveria de viver no futuro.

Não sabia de onde vinha, apenas sentia; e sabia que não gostava. Deixou o café lá, pela metade, colocou e livro debaixo do braço e levantou-se, tentando esquivar-se desses olhares. Caminhou apressada pela calçada, entrou em uma galeria, até que esbarrou em alguém: era aquele que lhe detia o olhar desde o começo, e agora, junto dela, catava-lhe as suas poesias entornadas no chão.

Hoje é dia de tirar a poeira daquele disco do seu pai, do cd da sua prateleira ou do mp3 do seu computador. Ouvindo As Vitrines, de Chico Buarque.


Seu Zé recomenda:

Letra e Vinho

Não se trata de mera reciprocidade gratuita, mas de indicação de leitura igualmente agradável.

Ouvindo Bom Conselho, de Chico Buarque.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009



É sexta-feira



Hoje deu vontade de saber quem eu já fui. De olhar o passado, de ver o que já realizei, o que conquistei, o que eu perdi... ver quem eu sou. Talvez sejam os ares da sexta-feira.




Hoje deu vontade de ser um outro alguém. Ver com outros dois olhos, sentir o que eu nunca senti, fazer o que já tive medo... ser outro. Realmente são os ares da sexta-feira.




Hoje deu vontade de não saber de nada. De beber uma cerveja, ouvir o melhor samba, e não me estressar com a vida... esse sou eu. Hah, os ares da sexta-feira...


Convido você para dançar um forró coladinho, sambar no miudinho, pular com muito axé e descabelar com o meu rock. Ouvindo A menina dança, dos Novos Baianos.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009



Batman_Joker_Heath_ledger_Comments.gif

Hoje, exatamente um ano após sua morte, por overdose de medicamentos, a Academia oficializou a candidatura de Heath Ledger ao Oscar, na categoria de ator coadjuvante, já sendo tido pela imprensa especializada como franco favorito ao prêmio.

De fato, a interpretação dada por este ator ao Coringa foi memorável, única mesmo, a ponto de deixar o Jack Nicholson com uma leve ponta de inveja. O pessoal aqui da redação, quando foi assisti-lo, não conseguia segurar o queixo no lugar, e a toda hora se ouviam aqueles comentários do tipo: “que foda”, “que foda” e “não sei se já disse, mas que foda” – obrigado, melhor amigo. O cara colocou o filme no bolso, é bem verdade. E, apesar dessa sensação de ineditismo que a notícia da sua indicação causa, qual não é minha surpresa ao descobrir, lendo uma matéria sobre isso, que, desde 1928, 14 pessoas – isso mesmo – já receberam uma estatueta post mortem. Tá certo que destes apenas seis além de Ledger eram atores; os demais eram diretores de arte, músicos e afins. Taí algo que eu não sabia; achei que ele seria o primeiro, caso recebesse. Mas isso não diminui em nada o talento que ele exibe no filme.

E pensar que o cara deu seus primeiros passos em Hollywood com aquele insosso filme “Dez coisas que odeio em você”, em relação ao qual posso facilmente listar dez coisas que odeio, ou pelo menos acho ridículas – mas tá bom, admito que assisti uma dezena de vezes, por baixo. Mas também, esse é o mal da TV por assinatura, que repete os mesmos filmes milhões de vezes em cinquenta canais diferentes. A culpa é toda dela, até porque nem gosto desse filme. Mesmo!

Mas falar de Heath Ledger é falar de “Brokeback Mountain”, um divisor de águas na carreira do ator. Tá certo que relutei muito em assistir esse filme – só vi quando passou na Globo, dias atrás, hehehe – mas não chega nem perto do que representa esse Coringa, cuja atuação, que já arrancava elogios à época dos trailers apenas, foi potencializada pela sua morte prematura.

Premiá-lo não é nada mais que obrigação daquela velharada lá da Academia, não por uma comoção gratuita em torno de sua morte – para isso poderia receber um prêmio pelo conjunto da obra daqui a alguns anos na MTV, sei lá –, mas pelo seu trabalho, que realmente é espantoso nesse filme.

***

Mas devo admitir que me surpreendeu muito a indicação de Robert Downey Jr. ao Oscar de melhor ator coadjuvante por sua atuação em “Trovão Tropical”; não pelo ator, que é excelente, e mandou muito bem nessa película em particular, mas porque o filme não tem o perfil de oscarizável. Seria muito bom vê-lo ganhar o Oscar, se não fosse o fato de ter apenas o Coringa pela frente.


Ouvindo Juízo Final, do Nelson Cavaquinho.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Um diálogo, uma vida







- Cala a boca, isso é um assalto!

- Que isso, pode levar... mas me deixe ir embora e voltar para minha vida tranqüila. Sim, sou trabalhador. Lutei muito nessa vida para conquistar os bens que tenho. Apenas essa moto, alguns pertences, amigos e família. Moro com minha mãe, que sempre me deu o máximo que um jovem de classe média poderia ter. Tive oportunidade para estudar, para brincar. Fiz muita coisa como jovem; ainda faço. Mas minha vida não pode acabar agora, entende? Quero ter a minha família, quero ter os meus filhos, quero conquistar mais. Quero dizer eu te amo para a minha mãe, para os meus irmãos, para os meus amigos. Posso dizer até para você, se me der esta oportunidade.

- Você fala isso calmamente, né. Pensa que nunca sonhei em ter a vida que você teve? Sou pobre desde criança. Enquanto você estudava, saia com seus amigos e gastava o dinheiro da sua mãe, eu apanhava em casa e na rua. Trabalho desde criança. Hoje você me chama de marginal, de vagabundo, mas nunca tive as oportunidades que você teve. Você acha que sua vida vale muito?
E a minha, você acha que vale quanto?

***

Imaginar este diálogo numa ação como essa acaba sendo surreal, pois num piscar de olhos uma vida é tirada ou modificada sem a chance de duas pessoas se entenderem. Tento visualizar esta discussão no dia-a-dia das ruas, na televisão, na universidade, na Igreja, nas comunidades. Porém, por muitas vezes a conversa é de uma via, apenas um lado se pronuncia. O lado mais fraco, o da falta de oportunidades, até tenta dialogar. Em vão...

Na correria da vida, nos espaços da nossa sociedade, é difícil achar o mocinho e o bandido. Temos milhões de pessoas que tentam ganhar a vida e se dizem o lado bom da história. E aquele que acaba sendo invisível aos nossos olhos? Quando os fechamos para a realidade, apenas pensando em nossas vidas (é a época do individualismo), esquecemos que o mundo não é o mar de rosas que gostaríamos que fosse. E aquele rapaz que passa fome só queria apenas oportunidade, diálogo, visibilidade.

Escrevo isso pois um amigo foi vítima de um assalto. Levaram sua moto e sua vida. E realmente não sei se devo ter ódio daquele que apertou o gatilho.


Este post é uma homenagem a Fabrício Zanoti, corinthiano, marinheiro, administrador, jovem.



terça-feira, 20 de janeiro de 2009


Estou vendo a tarefa hercúlea que manter um blog representa. Não tenho inspiração pra nada agora, mas mesmo assim, fico pensando que deveria escrever algo. O pior aqui é procurar inspiração. De onde tirá-la? De uma matéria na TV, ou no jornal, de um filme, de uma foto talvez. Escrever o quê? Algum tema atual, criar uma história ficcional, o quê?

Sei lá, só sei que algo me impele a escrever. Imaginei que seria mais fácil, admito. Pensei que, uma vez que começasse, as palavras correriam com mais liberdade, mas as ditas cujas me enganam. Seduziram-me com a possibilidade de expressar-me por meio deste blog, e eu me deixei levar. Ledo engano.

Agora, em meio a tantos assuntos que pairam por aí, neste momento nenhum deles me atrai a ponto de transformá-los em palavras, parágrafos, texto. Mas quantos autores não escrevem sobre a falta de assunto? Outro dia mesmo li sobre isso no jornal, pareceu-me tão fácil... mas agora vejo que faço um esforço homérico e nada me vem à cabeça, e nem ao teclado. Isso tudo para escrever um simples post nesse tal blog. Agora, imagine escrever um livro inteiro, com “trocentas” páginas ou mais? Admiro muito os que o fazem com tanta facilidade. Realmente, isso não é para mim, pelo menos por enquanto, mas quem sabe num futuro próximo.

Só preciso terminar esse texto, pelo menos. Criar uma história que seja atraente aos outros, e – principalmente – a mim. Aí sim acho que terei alcançado o ponto nevrálgico dessa questão, e poderei pensar que finalmente cheguei ao mais próximo de um escritor que nesse momento eu poderia ser.

Mas aí eu volto ao questionamento do primeiro parágrafo: o quê? Corro os canais da TV em uma tentativa – vã – de encontrar algo. É tanta coisa, mas ao mesmo tempo tão pouco. Quanta pretensão da minha parte! Ora, pensa que é um Machado de Assis, que pode ser tão criterioso assim? A questão não é essa, é falta de criatividade mesmo.

- Pensa, pensa, pensa... e nada. Lê jornal, troca de canal, nada.

É, acho que ao invés de escrever, vou ler um livro... outro dia apareço com algo mais interessante por aqui.

Ouvindo Keep me in Mind, do Little Joy.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Obama II - A esperança que nunca acaba

O acontecimento do ano será, por hora, nesta terça. Enquanto a 3ª Guerra Mundial não surge em algum canto do planeta, a Madona não assume de vez o romance com Jesus (tsc) ou o novo filme do Wolverine chega às telonas, a posse de Barack Obama vai ser o acontecimento mais importante de 2009. Os militantes do Hamas e o exército de Israel já estudam um cessarfogo para não ofuscar o evento. Também pudera, a eleição do primeiro presidente negro, com descendência mulçumana e africana, representa uma mudança de paradigmas e uma possível esperança para um mundo (norteamericano) melhor.

Nós, do lado de cá desse mundo de meu Deus, podemos imaginar uma figura emblemática que pudesse surgir de algum buraco com a mesma força e representação de Obama, para assumir a presidência brasileira. Lembro de alguns candidatos que serviram mais como protestos do que como soluções. Lembro do macaco Tião, lembro do Silvio Santos. Lembro do tempo em que as cédulas de papel nos proporcionavam momentos de protestos ou ridicularização eleitoral; as maquininhas são eficientes, mas sem nenhuma graça.

Lula entrou na história como uma figura simpática, da classe trabalhadora e que realizou (ou tentou) alguns programas sociais que só aumentaram sua popularidade, mas que em eficiência deixou muito a desejar (que paradoxo, não?). E por enquanto, pelos noticiários e conversas de bar, ainda não temos um substituto à altura ou um Barack Obama tupiniquim. Mas podemos imaginar...

Poderia ser o próximo ganhador do Big Brother, poderia ser um dos comediantes do CQC, poderia ser o modelo e affair da musa pop Madona (é, um Jesus no comando do Brasil não seria uma má idéia), poderia ser a Flora, poderia ser o Felipão, poderia ser a Mulher Melancia, poderia ser o Obina, e por aí vai a lista. Enquanto sonhamos com um Brasil melhor, podemos ver no que vai dar o tal Obama na frente do mundo. Se der certo com os americanos, pode dar certo com a gente. Só falta encontramos essa tal pessoa.

domingo, 18 de janeiro de 2009


Nesta semana, Barack Hussein Obama toma posse do cargo de presidente da mais poderosa nação do planeta, em meio a uma crise sem precedentes. Os EUA parecem ver o sonho americano se desfazer ante seus olhos, com a crescente recessão, demissões e afins, e depositam em Obama uma esperança de mudança que ele talvez não possa atender.

Enquanto isso, se despede pela porta dos fundos Bush Júnior, o mais impopular e cabeça-dura dos presidentes norte-americanos até então. Vi ontem em um jornal na TV que até em seus discursos finais, quando já está prestes a largar o osso, ele não desiste de defender a ideia de que os EUA estão sob a iminência de uma ataque terrorista, e que tudo que ele fez foi em nome da segurança nacional, e quiçá mundial. Movidos pelo sentimento de “vai com Deus” que toma o planeta às vésperas da despedida de W. C. Bush, um grupo de espanhóis bem intencionados decidiu criar o http://bushbyebyeparty.com/, site em que as pessoas podem tornar públicas, digamos assim, suas festas de despedida para o presidente, fazendo das mesmas um evento mundial, com direito a registro das mesmas no Flickr e tudo.

Tergiversações a respeito de Bushinho à parte, a questão é que Obama assume com um abacaxi nas mãos, já sendo comparado por aí com Franklyn Roosevelt, e seu New Deal. A verdade é que o presidente eleito dos EUA parece muito aleatório à crise e outras questões igualmente importantes, preferindo se manifestar apenas após a posse; disse que o presidente eleito não pode se imiscuir em assuntos tão importantes enquanto ainda não empossado, pois poderia interferir na política externa ainda adotada pelo atual governo. Convenhamos que a essa altura do campeonato, o que o atual governante pensa (?!?) ou deixa de pensar (!!!) não interessa tanto assim.

Será que Obama é adepto da mesma tática adotada pelo nosso presidente: não lê nem vê mais notícias de qualquer natureza, por conta das críticas ferrenhas da imprensa? Imagino que não, até porque Obama e a imprensa mundial encontram-se em clima de lua-de-mel. Mas imagino que se fosse verdade, é certo que a primeira frase do presidente eleito dos EUA, ao ser empossado, e tomar consciência do pepino que ganhou seria, com certeza: “Cacildis!”

sábado, 17 de janeiro de 2009

Ferry-boat



Ele bem que tentou; pôs a língua pra fora de tanto que correu, mas não conseguiu chegar a tempo. Quando apontou na bilheteria, já se ia baía adentro aquela última barca do modelo novo, aquela que faz a viagem em dez minutos ou algo parecido. Agora o relógio, pendurado na estação, pendurado no seu braço, já indicava que eram nove horas e trinta e dois minutos. Isso mesmo, perdera a barca por míseros dois minutos. Restava-lhe esperar até dez da noite, quando sairia outra barca, mas desta vez aquela velha, grande e, principalmente, lenta. Muito lenta.

De fato, grande e lenta, mas “em condições normais de temperatura e pressão” – costumava dizer –, preferia essa barca velha mesmo. Isso porque para ele ela conservava um charme a mais, que as novas não têm; e nem se permitem ter, já que é tudo tão frio e rápido nessas novas barcas, que não há como. Mas a questão é que, ao fim do dia, quando todo seu corpo grita por descanso, esperando encontrar o mais rápido possível o conforto de uma cama, não há charme que resista.
 
Pra ele agora resta esperar quase meia hora pra saída da próxima barca, naquela estação ali da Praça XV. Pois é, agora já por volta de nove horas e trinta e quatro minutos, não havia mais nada a fazer. A banca que há por ali já está fechada, assim como as lanchonetes.
 
- Não dá nem pra ver as notícias do dia, ainda que já estejam meio passadas – pensa – E com a fome que eu tô... mas tudo bem, preciso emagrecer um pouco mesmo. Cuidar do coração.
 
“Cuidar do coração”. Ficara com isso na cabeça desde que seu médico lhe disse que, com o histórico da família, deveria preocupar-se mais com a alimentação. Comia muita besteira, praticava poucos exercícios. Tinha sorte por não ter “tendência a engordar”, como dizem as suas tias, mas isso não quer dizer que estivesse exatamente saudável. Por isso mesmo pensava em começar a freqüentar uma academia, mas tinha certo receio, pela falta de tempo. Na verdade, tempo até lhe havia, mas imaginava que poderia ser mais bem usado, em outras situações, que não malhar. Deslocar-se até a academia, malhar, beber um gole d’água, talvez até comprar uma garrafa d’água, ou de um gatorade qualquer, depois voltar pra casa, talvez até ter que enfrentar um pequeno engarrafamento, dependendo da hora: tudo isso lhe tomaria um tempo precioso, e provavelmente não o quisesse dispor com isso, mas sim com coisas mais interessantes. Talvez, analisando bem, toda essa reticência em gastar seu tempo seja o motivo pelo qual ele na verdade não faz nada. E depois remói-se em culpa pensando no que poderia ter feito e não fez.
 
Por isso mesmo, preocupava-se tanto em não desperdiçar o seu tempo com pequenices que não via que o mesmo esvaía-se por entre seus dedos. O mesmo tempo que agora insistia em não correr. Nove e quarenta e cinco. Restava muito tempo para ele dedicar ao ócio e à espera por aquela barca lenta, onde esperaria ainda mais.
 
As pessoas que trabalham ali pelo centro do Rio, já resignadas em não conseguir alcançar a barca das nove e meia, chegam por lá mais calmas, menos esbaforidas que ele. Compram seus bilhetes, enfrentam até uma pequena fila. Não sentem tanto incômodo com o tempo perdido, não tanto quanto ele.
 
Agora as portas de vidro se abrem e pelo menos ele já pode esperar dentro da barca. Ainda faltam dez minutos, mas o fato de poder entrar, escolher um lugar – perto da janela, mais ou menos no meio do segundo andar, pois ele acha que se afundar é mais fácil de escapar – e acomodar-se já causa uma sensação de alívio por poder escapar da inércia provocada pela espera.
 
Senta-se e observa as luzes do centro do Rio; observa as pessoas, que como ele, procuram o lugar que melhor lhes apetece. De repente, a barca já se encontra meio cheia, e pronta pra sair. Neste momento já soou o primeiro apito.
 
Nesse momento ele a vê subir pela escada da barca. Simplesmente ela. Sente suas mãos suarem e aquele frio percorre seu estômago. Ele a vê sentar em uma cadeira lá na frente, sem notar sua presença. Pensa se deveria andar até lá, sentar ao lado dela, falar-lhe qualquer coisa.
 
- Melhor não, talvez haja uma outra oportunidade. Afinal, falar o quê?
 
Então ele lembra de todas as oportunidades perdidas. Lembra-se também do conselho de seu médico – suas palavras nunca lhe soaram tão imponentes. Levanta-se, senta ao lado dela, e trata de “cuidar do coração”.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A Favorita termina hoje e a grande saga da protagonista maléfica Flora deve acabar como qualquer outro final de novela: ela vai se dar mal. Confesso que não sou o fã número um das novelas da Globo (nem da Record, Bandeirantes e Televisa-SBT), mas tive a oportunidade de ver alguns capítulos – na verdade, muitos – e participei de conversas acaloradas sobre as peripécias da malvada loira. Como todo brasileiro que gosta de opinar em tudo e oportunista ao pegar carona no sucesso do folhetim, aí vão as minhas considerações:

- O começo da novela estava bem cansativo, com aquela história de quem era a grande vilã. Entre a loira caipira e a dondoca tarracuda, o povo entrou numa discussão que só foi resolvida lá pelo capítulo qüinquagésimo e alguma coisa (o Word cisma em colocar a falecida trema...). Será que esse modelo de novela pega por aqui?

- O que seria o jornalista Zé Bob? O cara ficou a novela toda sem trabalhar, dava altas desculpas para a chefe e no final ainda é o queridinho das telespectadoras. A redação do Ponto e Vírgula resolveu ficar o mês sem trabalhar e ver no que dá... Bem, esperemos pelo menos o carnaval.

- Até gostaria de fazer um concurso para eleger a cena mais sensacional da novela. Apesar de ter visto poucos capítulos – na verdade, muitos – tive a sorte de presenciar o que seria digno de um prêmio rodriguiano de arte, texto e afins. Todos vão se lembrar das cenas da psicopata Flora e seus assassinatos estratégicos e assustadores. Outros até pensarão nas tentativas de assombros psicológicos de Donatela e a sua espetacular musica Beijinho doce (10 segundos dessa música deixa qualquer um maluco). Mas a cena que me marcou me lembrou filmes como “A dama da lotação”, “Engraçadinha” e “Sete Gatinhos”. Descrevo-a: O cachaceiro Leo, após uma briga com sua família, perambula pela cidade pacata-interiorana que não lembro o nome. Já era noite, e nas ruas só se ouvia o cantar das cigarras, corujas e animais sombrios. Do nada aparece a esposa do prefeito, Dedina, que no momento já tinha sido desmascarada pela população como a Dona Flor de seus namorados, ficantes e Ricardões. Pois bem, na escuridão, Leo bêbado e com seu orgulho ferido, não encontra outra situação que não o do estupro da gostosa. Ele a agarra, joga no capô do carro, dá umas palmadas e parte para a ação. Alguns segundos se passam até que a vítima começa a gargalhar. Eu como telespectador não entendo nada, mas o prosseguir da cena revela a grande verdade da situação. Dedina começa a gritar: - Estuprador Broxa! Estuprador Broxa! Acredito que nem Nelson Rodrigues teria pensado nisso.

- Por último, revelo as incongruências da novela: Jornalista que não trabalha, ex-viado, argentino gente boa, super-produção na gravação do vídeo escondido da morte do velho advogado (o jogo de câmera parecia de cinema ou de novela), cantor de sucesso que só canta uma música (tudo bem, está cheio desses por aí, mas eles sempre tentam cantar outras, né?), político arrependido, entre outros.

Bem, o certo é que a novela fez sucesso e apesar de ter assistido poucos capítulos – na verdade, muitos – posso dizer que sentiremos falta das matanças em horário nobre da loira do beijinho doce. E eu tenho que tomar vergonha na cara e desistir (ou assumir) de vez de assistir novelas.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A volta dos que não foram...




Hoje deu-se a confirmação de uma notícia que, tenho certeza, muito alegrará o pessoal daqui da redação: a volta dos Los Hermanos, após um hiato de quase dois anos, em que seus integrantes tomaram conta de seus projetos pessoais. Marcelo Camelo, cabeça da banda, lançou seu primeiro disco solo, que, independente de qualquer juízo de valor, o alçou à condição de um dos grandes nomes da MPB atual. Já Rodrigo Amarante, o coração da banda, juntou-se ao stroke carioca Fabrizio Moretti e criou a banda Little Joy, cujo CD, lançado lá fora no fim do ano passado e aqui nesse começo de ano, foi apontado como uma agradável surpresa. Barba e Medina, por outro lado, se juntaram a outras bandas, excursionando por aí. Com essa notícia da volta dos Los Hermanos, lembrei de um texto que escrevi na época do anúncio da pausa da banda, e que transcrevo aqui embaixo:


"No último dia nove (na verdade já era dez) deste insólito mês de junho aconteceu algo que entrará para a história (a minha, pelo menos): o último show do Los Hermanos antes do dito recesso por tempo indeterminado, ou do fim definitivo, não sei. Espero que sejam somente umas férias, apenas mais longas que os habituais primeiros meses a cada dois anos, e que essa indeterminação torne-se em breve determinada. Por favor!


Fato é que, não obstante todos os problemas de ordem técnica, característicos da Fundição Progresso, a noite foi memorável e única. Os fãs – categoria na qual me incluo – cantavam em uníssono todas as canções da banda, como numa grande catarse coletiva. Fato um tanto quanto emocionante, até mesmo em se tratando de uma banda notoriamente conhecida por emocionar seus fãs com suas letras inspiradíssimas e de sensibilidade ímpar. E por fazê-los cantar juntos todas as músicas, do começo ao fim – apesar disso já ser uma “regra” em shows do Los Hermanos, nesse dia foi diferente, realmente especial.

Cheguei lá na Lapa por volta de 11 horas, sendo que o show começaria apenas depois da meia-noite (por isso dia dez lá no começo deste texto). Já encontrara o local completamente abarrotado daquela massa indecifrável de pessoas. Indecifrável porque, apesar de haver entre o público aqueles facilmente identificáveis como fãs do Los Hermanos – caras barbudos, roupas listradas, all-star etc. – ainda assim é possível encontrar nessa multidão muitas pessoas que nem de longe se encaixam nesse perfil. Na verdade são pessoas de todos os tipos que estão ali apenas pela comunhão proporcionada pela identidade que possuem com as músicas da banda.

Quando eles entraram no palco e puxaram os acordes da primeira música, “Dois Barcos”, suas vozes, e qualquer outro tipo de som que ousasse sair das caixas de som da Fundição foram completamente abafados pelas vozes da multidão que cantava junto como se fosse pela última vez – e provavelmente será, por um bom tempo.

Pra fazer frente a esse show, apenas um que eu assisti há quatro anos – justamente o primeiro que eu vi, aqui em Niterói. Ainda não era muito fã de Los Hermanos, tinha acabado de comprar o Ventura, meu primeiro CD deles, e ainda por cima tive de esperar horas devido a um atraso por problemas técnicos. Estava extremamente cansado e desconfortável com aquela espera. Ainda assim, quando eles pisaram no palco e começaram a tocar, fiquei fascinado, e esqueci todos os perrengues até então. No entanto, acho que não dá pra afirmar que supera o show da Fundição no dia nove, uma vez que este nos deixou a amarga sensação de despedida.

Foi uma noite triste, porque tão cedo não veremos os Hermanos e ouviremos suas doces melodias e sensíveis letras ao vivo novamente. No entanto, apesar de toda a tristeza, tenho certeza que muitos, assim como eu, ao deixar a Fundição não conseguiam esconder no rosto o sorriso de satisfação, por mais um show dentre os muitos que ainda hão de vir. Até logo."


Devo admitir que o retorno veio mais cedo do que esperava, até mesmo por conta das carreiras solo dos dois vocalistas. Mas pelo visto, esse "até logo" durou o suficiente pra não perdermos aquele sorriso de satisfação ao fim do show...

P.S.: Esse show em Niterói foi marcante não apenas para o autor deste texto, como para todos da redação.


terça-feira, 13 de janeiro de 2009


O campeão será...

Segunda feira começa e aquela sensação de deprê que acompanha qualquer dia após final de semana e feriado se apodera em meu ser. Logo de cara pego o jornal e vou direto à editoria dos esportes. É, sempre começo por lá. E começo de ano são sempre aqueles assuntos de pré-temporada, jogadores fora de peso, novas contratações. Cheguei a ler noutro dia até os comentários dos babalorixás, ciganos, numerólogos e “achadores” de plantão. Virou até um clichê da imprensa como um todo; da vida da Luana Piovani ao desempenho do Ronaldo, cartas, pedras e números são as fontes da verdade – ou quase verdades.

Voltando ao assunto futebol, lendo um semanário carioca, começo a ter as minhas expectativas, certezas e previsões para a bolinha na cidade maravilhosa. O campeonato carioca do ano passado foi um verdadeiro desastre, que só beneficiou os grandes clubes (para quem não recorda, todos os jogos eram nos estádios dos grandes, tirando dos pequenos o fator campo, a proximidade da torcida, entre outros) e mascarou a grande falta de estrutura que já assola Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco há tempos. Prova disso é que o clube de São Januário vai disputar a segunda-divisão do Brasileirão.

Esse ano promete ser um pouco diferente? Vamos tentar responder:

- Flamengo mantém time do ano passado e contrata treinador Cuca e meia Zé Roberto (Vamos ver se o Cuca consegue ser campeão de algo. Quanto a Zé Roberto, jogador problema desde os tempos de Vitória e Botafogo... hum, dizem que no Flamengo jogador chinelinho se sente em casa, né?);

- Botafogo renova elenco com novas promessas (vai ser um ano complicado para o Botafogo. Tirando Juninho e Reinaldo, a torcida vai levar tempo até se acostumar com as inúmeras caras novas – desconhecidas – no time. Um ano de surpresas, da melhor maneira “tem coisas que só acontecem com o Botafogo”);

- Fluminense perde Thiagos e contrata Leandros (não só Thiagos, mas Washington e Arouca. O Fluminense é o time que melhor contratou, mas ano passado foi o mesmo e o vexame contra o LDU ainda está entalado na garganta dos tricolores);

- Vasco se prepara para segunda-divisão (É, bem, hum... o Vasco está bem atrás dos demais clubes. Trouxe o problemático Carlos Alberto, com contrato até o meio do ano, ou seja, não deve disputar o torneio nacional. Do jeito que vai, a caravela vai zarpar meio furada e o ano não será muito feliz).

Após ler o caderno de esportes inteiro posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que em 2009 o campeão será, será, será... isso importa? Sabemos que tirando o estadual, não ganharemos nada mesmo. Que vai ser outro ano de vexames, de brigas contra o rebaixamento, de jogadores sem receber salários, e por aí vai. E assim começa minha segunda-feira depressiva. O jeito é voltar à leitura e ficar indignado com outras coisas. Será que no segundo caderno não tem algo mais tranqüilo?

A morte-vida do poeta


Condeno o discurso viciado
comum de quem se consome em palavras
sem oxigênio, sem o ser sensível, sem vida
Amontoado de letras
sem o espírito expressivo que move o poeta
(que não se permite morrer)
Seu corpo irá
impregnado por vermes,
ficará lá a lápide,
presa a um passado
como símbolo da vida vivida
e ficarão cá os seus escritos,
atravessando todos os tempos
semeando a vida vivente.
Os poemas são como formol
conservando a alma de um artista.
Emocionando, comovendo quem se dispor
a fazer parte dessa tal vida vivente
através de um livro,
uma folha,
uma palavra semeada.


Essa poesia é uma contribuição de nossa colaboradora Helena.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Blame it on the Holocaust...

Tragédia comendo solta na terra onde Jesus nasceu, e não, não é Belém do Pará. Na faixa de Gaza e adjacências, Israel mantém sua ofensiva contra o Hamas, causando mais morte e destruição do que a média, em se tratando daquele aprazível local, especificamente.

Tudo começou há sessenta e quase um anos, quando o mundo, sensibilizado pelo sofrimento dos judeus no pós-guerra, e movido por um sentimento de culpa típico da civilização judaico-cristã ocidental, extirpou um pedaço da terra dos árabes e deu de presente à galerinha de Sião, como compensação por tudo que sofreu nas mãos daquele pintor bigodudo de Berlim.

Sem querer entrar no mérito da questão e tomar partido de um lado ou de outro – haja vista que ambos estão errados nessa contenda – há que se tecer algumas considerações. A verdade é que o mundo encontra-se atônito diante desta ofensiva perpetrada por Israel, e os chefes de Estado das principais nações europeias não poupam esforços em condená-la, pedindo que Tel Aviv reconsidere e faça uma trégua, e todo aquele blá-blá-blá diplomático típico dessas situações de tensão internacional. No entanto, não obstante toda essa pressão internacional para que Israel negocie um cessar-fogo, o mundo parece temer tomar alguma atitude mais enfática em relação a essa peleja internacional; prova disso é a não-aprovação de uma resolução pelo Conselho de Segurança da ONU condenando a ofensiva israelense.

É certo que o lobby norte-americano – se é que se pode chamar de mero lobby quando o silêncio do país mais poderoso do mundo tem mais peso do que qualquer determinação direta de qualquer outro país – foi decisivo na decisão do Conselho em refugar diante desse imbróglio todo, como um Baloubet Du Rouet manco. Os EUA, por sinal, na condição de maiores aliados de Israel e de único país ocidental que realmente poderia fazer alguma diferença nessa questão, é de fato o último interessado em meter o bico nessa questão. Mas a verdade é que, ainda que todos se apressem em condenar a situação e pedir Israel considere em sua ofensiva, todos permanecem reticentes em tomar alguma posição mais rígida. No imaginário coletivo ainda permanece aquele já mencionado sentimento de culpa que o Ocidente carrega pelas atrocidades cometidas contra o povo judeu durante a Segunda Guerra. Parece que o Holocausto tornou-se uma carta branca para que Israel possa fazer o que bem entender contra seus inimigos, ou seja, todos ao seu redor.

Desta forma, o governo israelense produz um novo holocausto, desta vez contra o povo palestino, uma vez que os ataques não tem alvo certo – até mesmo por conta do caráter errático das ações do Hamas – e acabam atingindo crianças e adultos civis palestinos, que nada têm a ver com a guerra, a não ser a nacionalidade. Ambos os lados só produzem mais ódio, em uma situação que não vai ter fim nunca; afinal, sob o prisma dos palestinos, que tiveram um pedaço da sua própria terra entregue a estrangeiros, que ainda por cima, não se cansam de tacar-lhes bombas na cabeça, matando seus filhos e esposas, não é nada fácil pensar em trégua, paz e outras dessas coisas. E ainda, sob a ótica israelense, qualquer um se apavoraria diante da ideia de ter que dividir o seu espaço com alguém que pode lhe representar um perigo imediato, e constante, já que homens-bomba explodem em qualquer lugar, e os mísseis palestinos já alcançam grande parte do território israelense.

O mundo se descabela diante desta situação tão trágica. Mas eu conheço uma pessoa que não está nem aí pra tais fatos: o nosso grande colaborador, seu Zé, que disse não ter interesse nenhum nessa história toda. Aliás, ele não entende porque esse pessoal briga tanto por aquele pedaço de terra em que só cresce “pé de azeitona”. Ele acha que tudo poderia ser facilmente resolvido em uma disputa de purrinha, numa mesa de bar, e aquele que perdesse, só de sacanagem, se mandava pra Argentina – palavras dele; nós da redação não temos nada contra nuestros hermanos.

Mas enquanto isso não acontece, o seu Zé nos indica esse curso rápido de terrorismo aí embaixo, legado de W. C. Bush para o mundo:

Que os palestinos não tenham acesso a esse conteúdo...

Na tela da Tv no meio desse povo...

Tá chegando a hora de um dos eventos mais importantes da cultura nacional, fazendo a alegria dos tarados de plantão e produto de exportação para os solitários do mundo todo. Foliões, Reis, Popozudas e afins se unem num espetáculo que faz a Terra parar, sambar, beber e voltar a girar com ressaca na quarta. O Carnaval de 2009 promete ser um dos mais empolgantes, com desfiles, blocos de carnaval, famosos (ou quase-famosos) pelados e bêbados...

Mas a alegria vai começar mesmo com o famoso pontapé inicial. Nada de escolha do Rei Momo, início dos ensaios de alas e baterias ou chiliques incontroláveis dos “carnaviadolescos” das escolas de samba. Sem dúvida nenhuma, o que dá realmente o ar de início para a festa pagã no Brasil é a famosa vinheta da Globeleza. Lembro até hoje, da minha adolescência sapeca, no começo da minha puberdade, ao ligar a televisão e sentir uma certa timidez em ver a minha musa Valéria Valensa, com o corpo todo pintado, despertar dentro de mim aquele folião sem vergonha. Recordo das minhas manhãs, férias da escola, no intervalo de TV Colosso. Ela aparecia com o corpo à mostra, olhar provocador, mexendo seu cabelo para os lados, olhar provocador, rebolando, olhar provocador. Imagine o significado desta imagem na cabeça de uma criança inocente, que sabia que o contato com uma mulher pelada poderia lhe custar as economias da mesada na banca de jornal ou causar um castigo dos pais. Mas não, ela era poderosa, ela fazia o que nenhuma mulher nos anos 90 conseguia: aparecer pelada em qualquer horário da Globo.

Hoje, com a cultura dos peitos à mostra, bigbrother, camisinhas nas escolas, a imagem da Globeleza perdeu o teor sexual do século passado. Ainda serve como pontapé inicial do carnaval, pois atrás dela vem aquela enxurrada de material carnavalesco – o Luciano Huck até tenta roubar o espaço da Globeleza colocando um monte de mulata em disputa da mais gostosa, digo, da melhor passista do Carnaval. Mas crianças e adolescentes não enxergam o potencial daqueles passos de samba e do remelexo nu de uma mulher vestida apenas de lantejoulas e confetes. A ex-passista pelada e atualmente freqüentadora dos cultos na Igreja Universal deu lugar a uma menina com aparência mais infantil. Será uma estratégia da TV para conquistar mais crianças pervertidas para frente da telinha? Ou uma tentativa insana do governo brasileiro de incentivar o turismo sexual com crianças? Com medo de ter problemas com a justiça, o melhor é encerrar este post saudoso com a memória imaculada da eterna Globeleza. A verdadeira Globeleza!

OBS.: O blog, preocupado com o bom andamento do Carnaval, já instalou o relógio surpresa numa praia do Rio com a contagem regressiva para a primeira aparição da vinheta. Vamos aguardar!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Papel e mais papel...

 
Prova fática do estado em que se encontra a minha prateleira.

De certo modo, eu atraio papel, mesmo quando não quero. Aliás, na maioria das vezes realmente não os quero. Inexplicavelmente, entulham-se aos montes ao meu redor. E em geral, não são muito importantes não, mas também não consigo desfazer-me deles; a prateleira sobre a minha cama está entulhada de papéis. São coisas desde o primeiro período da faculdade, junto a outros papéis ainda do tempo do colégio, além de cadernos, revistas, santinhos, documentos inúteis – aqueles que você é obrigado a ter três cópias apenas pra descobrir que vai voltar com duas pra casa – etc.

Ainda que minha mãe odeie aqueles papéis e reclame comigo o tempo todo, persistindo na ideia de que eu deveria arrumar a maldita prateleira, não consigo dar cabo deles. Algum sentimento me impede, um remorso, ou uma culpa cristã talvez, não sei ao certo. Muitos deles eu nunca mais li em minha vida, mas fica sempre aquela sensação de que um dia precisarei de um deles, seja por causa dos estudos – minhas anotações dos primórdios da faculdade –, ou porque naquela velha papelada encontrarei um dia alguma informação que, a seu tempo não valia tanto, mas que hoje poderia mudar minha vida, ou, ainda, apenas pelo valor histórico, sei lá, já que jazem há tanto tempo naquela prateleira – depois de um tempo, deve acabar valendo alguma coisa.

Mas a grande questão é que a dita prateleira reúne tantos papéis, das mais diversas origens, que mesmo que eu queira, não saberia nem por onde começar a procurar. Aliás, no dia em que algum daqueles papéis for de fato imprescindível a alguma coisa, nem lembrarei que ele está por lá, e tratarei de obter outro, imaginando que não o possuo.

Por isso mesmo esse post de hoje será um pouco diferente. Não será apenas digital, mas se perpetuará no mundo físico. Eu tratarei de imprimi-lo e levá-lo direto para minha prateleira, só pra fazer um pouco mais de peso. E assim, sempre que abrir esse blog lembrarei-me da urgência em arrumar aquela maldita prateleira...

Temo pelo dia em que aquela prateleira se inconformar com a inutilidade daqueles papéis e não suportar mais o peso sobre ela; aí sim eu, obrigado pelas circunstâncias, finalmente terei que me desfazer dos papéis... se sobreviver à queda.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009


Era, de fato, uma porta de vidro grossa, e pesada, mas nada que pudesse obstar a minha passagem. Era ainda daquele tipo de vidro fosco, do qual não se pode ver nada do outro lado, e, além disso, destoava completamente das demais portas daquele andar, quiçá do prédio inteiro, já que, tirando as portas dos auditórios, que também eram de vidro, todas as demais são de madeira, inclusive dos banheiros – quando estes as têm, é verdade. Mas, como disse, apesar de todos esses predicados, a porta não fora capaz de me deter.

Ao cruzá-la, deparo-me com uma mulher, aquela que seria uma típica funcionária administrativa de repartições públicas, não fosse o fato de que talvez não fosse tão velha quanto me acostumei a pensar que as funcionárias públicas eram, ou deveriam ser. Devia ter por volta de vinte e alguns anos, apesar de aparentar já ter há muito se familiarizado com Balzac. Provavelmente envelhecera por conta da fadiga resultante da absoluta falta de vontade de exercer seu ofício.

Porque, na verdade, este não a interessava tanto. Digo isto porque ela possuía outro muito mais agradável, que não era o oficial, aquele que provavelmente consta do estatuto de sua categoria, da lei, ou qualquer coisa que o valha, mas que a satisfazia de uma forma única neste mundo: sacanear o pobre do contribuinte, que necessita apenas de seu serviço.

E neste caso específico, o pobre do contribuinte a que me refiro é aquele que linhas acima tinha acabado de cruzar a porta: eu mesmo. Inocente, diria até mesmo cândido, desprovido de qualquer maldade, e provido apenas de um protocolo na mão esquerda, dirijo-me à tal, vinte e poucos com cara de trinta, e corpinho de sei-lá-o-quê (tá bom, ela realmente não era gata), na esperança de obter uma mera certidão – apenas isso – cujo pedido eu fiz ainda no longínquo ano de 2008:

- Olha, tô vendo aqui na relação de pedidos – um caderno vagabundo, onde anotam os números dos protocolos, cuidadosamente alocado ao lado de um computador –, e o seu ainda não está pronto não...

- Mas eu fiz esse pedido no ano passado, ainda antes do recesso, e disse pro senhor – nessas situações eu sempre procuro ser o mais respeitoso possível, apesar de que aquele que me atendeu pela primeira vez estava mais pra senhora. Afinal, essas pessoas que trabalham em repartições públicas podem ferrar com a sua vida – que me atendeu aqui pela primeira vez que havia uma certa urgência...

- É, mas não posso fazer nada – disse ela, entremeando a frase com o mascar do chiclete, a essa hora bem duro, já que fora comprado logo cedo, na cantina do primeiro andar.

Que pesadelo kafkiano estava vivendo. Explico-me: não havia me transformado em inseto gigante algum, ou coisa parecida. A verdade é que, como já disse acima, caro leitor, não foi a primeira vez que pus minha paciência à prova naquele mesmo local: ainda no ano passado estive lá, para obter a referida certidão, e ao adentrar o corredor – um dos mais bizarros de todo o prédio, diga-se de passagem –, deparo-me com uma festa de final de ano, organizada pelos funcionários da repartição. Dirijo-me a uma senhora, pra obter uma informação, um auxílio, sei lá; esta, por sua vez, espantosamente gentil e delicada para comigo, não hesita em abrir um enorme sorriso e alegremente me dizer que naquele dia não haveria expediente após o meio-dia, uma vez que era a confraternização dos funcionários. Registre-se: era por volta de 12h10, não muito mais que isso. Só aí eu entendi o motivo de tanta felicidade estampada no rosto daquela funcionária.

Tentei ainda argumentar, mas ela nada mais podia fazer, já que os computadores já estavam desligados, e o sistema estava fora do ar. Mas, peraí... O registro de tudo não era feito naquele odioso caderno velho em cima da mesa? O computador não era algo absolutamente inútil naquele ambiente? De fato, mas isso era algo que descobriria apenas no dia seguinte.

É, creia-me: eu voltei no dia seguinte, na vã esperança de que meu problema fosse solucionado. Só que dessa vez cheguei mais cedo, por volta das 10h, só pra garantir. Foi aí então que fui atendido por aquele senhor que levanta várias suspeitas. Após protocolar o meu pedido, e ser devidamente informado da urgência da certidão, o rapaz disse que nada podia fazer, pois que o prazo para expedição do documento é de 5 dias; um mero pedaço de papel assinado por algum dos “trocentos” funcionários da casa levaria cinco dias pra ficar pronto! Mas o pior ainda estava por vir: por conta do recesso de final de ano, a certidão ficaria apenas para 2009! Será que por lá ninguém sabe o que significa a palavra “urgência”?

Mas, diante da minha aflição, o funcionário tentou me ajudar. “Quanta solicitude!”, pensei eu. Deveria procurar por Maria, a chefe do departamento, que poderia autorizar a expedição do documento com a antecedência que me era necessária. Só que havia um porém: ela só chega após as três horas da tarde. E provavelmente sai às 3 e meia, porque para chegar nesse horário é porque não tem qualquer apreço pelo serviço. Como assim? Uma funcionária pública que chega às três horas da tarde. E eu já disse que era por volta de dez da manhã?

Quando ouvi isso, entreguei pra Deus, e vim pra casa; mas não sem antes ter do funcionário a garantia de que no dia 5 de janeiro de 2009 estaria pronta a certidão. Neste momento da história retorno ao dia de hoje, 11h45, porta de vidro, funcionária de vinte com cara de trinta, contribuinte sacaneado, chiclete velho, negativa e Franz Kafka, jogando paciência no computador.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009




Primeira segunda feira do ano. Poderia pensar em muitas coisas para escrever, desde aquelas piadinhas de e-mail ou de escritório até uma rápida brincadeira com o velho clube de São Januário. Mas começar a primeira semana do ano com uma virose me possibilita algumas reflexões mais ousadas.

Parece meio idiota o que acabei de escrever, mas quando você está de cama em plena segunda-feira, o tédio é enorme e a leitura de inutilidades pela internet acaba se tornando uma grande atividade para o dia.

Pois bem, neste início de dia consegui perceber que a vida dos artistas é o grande interesse da população. Tentei até fugir para os sites revolucionários-esquerdistas-radicais-xiitas-oposicionistas, grandes críticos dessa cultura bigbrother, mas a crise financeira que afeta o mundo ainda é um foco - sem menção ao mosquito da dengue - a se dar importância. Nessas minhas andanças pelos sites de notícias descobri o que pode afetar a minha vida nesta semana: "Aluguel e tomate puxaram alta de 6,07% na inflação pelo IPC-S em 2008".

Poxa, o tomate subiu? Isso é triste. Minha mãe, grande curandeira deste mundo pós-moderno e globalizado, foi a primeira a torcer o nariz. É claro, sua sabedoria indígena, o domínio dos nutrientes da flora nacional e a sua perspicácia em resolver qualquer problema de saúde com vitaminas estranhas sofreu um grande baque. Logo o tomate, rico em licopeno (obrigado Wikipedia).

Agora, nesta semana de virose, onde posso encontrar licopeno?


P.S.: Eu juro, em um próximo post, que divulgarei com exclusividade as grandes maravilhas vitaminadas da minha mãe.


sábado, 3 de janeiro de 2009

Feliz Ano Novo... ou não...



De fato, o ano de 2009 ainda não começou. Estamos na temporada pré-carnavalesca, na qual todos os blocos aquecem os pandeiros e iluminam os terreiros. Soma-se a isso o fato de que a programação da Globo só começa depois do carnaval; aí sim podemos afirmar que o ano começou de verdade.

Até lá, já afirmamos de antemão (ou seria ante-mão, ou talvez ante mão, não sabemos ao certo) que o pessoal aqui da redação, principalmente o seu Zé, nem vai se preocupar em cumprir as regras do acordo ortográfico. Afinal, os lusófonos responsáveis por tal façanha foram bem claros: o acordo entra em vigor apenas no vindouro ano de 2009.

Neste ínterim, havemos de nos preocupar apenas com samba, cerveja e mulher...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Brasil, mostra a sua cara



Começo de ano, começo de blog, e recebemos o relato de Seu Zé, parceiro nosso de bares e afins e correspondente do blog na terra da mãe gentil. Após um ano de crise, de tragédias e da Luana Piovani, Seu Zé ELEGEU para início de conversa o assunto "Eleição" como pauta de nosso primeiro post. Ele descobriu que seu voto não vale tanto quanto imaginava: só deu pra comprar o pão e leite de uma semana.

"Pois é, nessa primeira semana fiquei muito feliz em ver meu candidato empossado na câmara de vereadores daqui da minha cidade. Foi uma beleza!
Tenho plena confiança que ele irá valer o meu voto, literalmente. Tudo bem que antes do dia da votação eu não sabia quem era, mas aqueles 30 reais na minha mão me fizeram acreditar num futuro brilhante para a nossa cidade. Até fiz um samba em homenagem a ele. Pena que não fui convidado para o churrasco dos seus amigos. E como a eleição dele, esse samba promete ser sucesso no carnaval:

Samba da “Vereância”

Não conseguiu convencer
Nem um pobre coitado,
Pra conseguir ser vereador
O voto foi comprado

Desiludido com a eleição,
Fui buscar alegria no bloco
A felicidade com os amigos
E o “ombro amigo” do copo

Ô vereador, ô vereador!!!
Fica calmo que eu vou vender um voto pro senhor!!!

Minha vida é uma pobreza
Sem dinheiro eu não me arrumo
Beijar criança é passado
Na crise o voto vale muito

Agora ele não promete nada
Nem emprego, nem comida
Com tanto safado no poder
O que pagar menos fica na pista

Ô vereador, ô vereador!!!
Fica calmo que eu vou vender um voto pro senhor!!!

E agora, seu dotô?
O que se há de fazer?
O senhor já se elegeu
Agora nos resta torcer

Que alguma providência
Deus deve nos mandar
Para que essa sacanagem
Possa um dia acabar"



P.S.: Seu Zé não sabe usar ponto e vírgula.