domingo, 31 de janeiro de 2010

Branco e preto, volume dois.

Registros captados via celular de uma ensolarada tarde de domingo no centro do Rio – hoje mesmo, entre uma prova e outra que fiz. O título remete a outro post fotográfico do ponto e vírgula (clique aqui para vê-lo), de 10 de julho de 2009.

Durante o longo intervalo em que não tive nada pra fazer, além de almoçar, é claro, dediquei-me a tirar essas fotos, munido apenas de uma máquina de 3.2 megapixels e um pouco de coragem, afinal é o centro do Rio. Tá aí o resultado:

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E tudo acaba num pequeno bloco família na Praça XV…

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A vez do morro

favela escada

Considero extremamente louvável a troca dessa política de confronto que havia sido adotada pelo nosso governador em seus primeiros anos de mandato – o que resultou apenas no aumento dos índices de criminalidade e de mortos em confrontos policiais – por uma presença mais ostensiva da polícia em favelas, diminuindo o poder territorial dos traficantes. Mas admito que o claro comprometimento do governo do estado em pacificar apenas as comunidades da capital me assusta um pouco.

Por fatores diversos, os quais perderíamos horas aqui só para listá-los, Niterói tem sofrido com um acelerado processo de favelização, surgindo novas comunidades a cada dia e tornando completamente inchadas as já existentes. Sem a presença do Estado – frize-se que aqui em Niterói a prefeitura é completamente omissa nessas questões, enquanto o governo do estado só pensa na capital – essas comunidades tornam-se abrigo principalmente para bandidos oriundos de favelas pacificadas no Rio. Não só as comunidades de Niterói, mas também outros lugares que, segundo a lógica do governador, talvez tenham menor importânica ainda, visto que não tem sequer potencial turístico que justifique o investimento, tais como São Gonçalo, Baixada Fluminense etc.

Esse reflexo já é visto nas estatísticas e sentido pelo povo de Niterói. Por serem traficantes de outras áreas, buscam abrigo em favelas controladas pela mesma facção, mas não podem exercer seu antigo ofício, por assim dizer. Daí resulta que eles têm que buscar outros meios de subsistência – ilegais, é claro. Com isso, há um incremento na quantidade de assaltos, sequestros e afins.

A governadoria não pensa em outra coisa senão a Copa e os Jogos Olímpicos – faz bem em priorizá-los, eis que o Rio é a vitrine do Brasil, mas isso não deve se tornar um privilégio, uma exclusividade. E a prefeitura do município só pensa em… sei lá no que ela pensa. Talvez no interminável Caminho Niemeyer, como se a solução para os nossos problemas estivesse em meia dúzia de prédios assinados por Oscar Niemeyer – nada contra, muito pelo contrário, sou fã do cara, mas isso não me impede de ter uma visão clara e objetiva dos fatos.

Deve-se ainda observar que o processo de favelização constante por que passa Niterói tem consequências ainda mais nefastas. Até porque, como visto no Rio, a questão da segurança se resolve simplesmente com policiais na rua, cumprindo seu dever institucional, que é a proteção do cidadão, seja ele quem for, e não invadindo favelas uma vez por mês e atirando a ermo contra bandidos e ferindo a dignidade de quem mora ali e possui trabalho, família etc.

A verdade é que da favelização resulta uma degradação ao ambiente, além de risco à vida – com construções mal-feitas em áreas de riscos – e à saúde das pessoas, já que não há em muitos casos água encanada e esgotamento sanitário, somado ao fato de as casas serem em geral sobrepostas umas às outras, criando ambientes úmidos e insalubres, propícios para determinadas doenças.

Modificar esse panorama é uma questão de se atender ao princípio da dignidade da pessoa humana, princípio motriz de toda a Constituição, para o qual todas as normas devem ser conduzidas. Então não podemos fechar os olhos a essa nova situação pela qual Niterói passa e exigir do poder público, em todas as suas esferas, uma melhor atuação.

Ouvindo O morro não tem vez, de Tom Jobim.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Carta Póstuma

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No tempo em que escrevo esse texto, calendários já são obsoletos. Há muito a humanidade já não sabe em que ano se está exatamente, desde a primeira vinda de Jesus Cristo, que dividiu a história. Não se faz mais sentido saber. Há poucos resistentes, que afirmam saber ao certo em que ano estamos, mas não são confiáveis, eis que até mesmo os números por eles afirmados são muito díspares entre si. Às vezes a diferença chega a dezenas de anos.

A verdade é que há muito tempo a humanidade se esqueceu de contar os anos. Viu que isso não se fazia mais necessário, ou talvez apenas por preguiça mesmo, já que hoje pouco fazemos; as máquinas fazem por nós. Só esquecemos de criar uma máquina que contasse os anos com eficiência – não fomos capazes de prever que aquele erro do bug do milênio se repetiria alguns séculos depois. Mas já estávamos tão entregues ao labor das máquinas que sequer pudemos antever isso.

Por causa dessa incapacidade de adequação cronológica pela qual a humanidade passa nos dias de hoje, não sei dizer ao certo o momento da história em que isso tudo começou. Sei que já faz alguns séculos – dois talvez – uma vez que eu mesmo, que ainda sou jovem, já estava aqui para poder presenciar tal fato. Mas acho que a origem disso tudo vai ainda mais longe: deve ter sido lá pelo século XX – sim, ainda temos registros históricos desse momento – quando o mundo viu surgir o conceito de Welfare State, o tal do Estado do bem estar social. Surgiram os tais direitos de segunda geração, também chamados prestacionais, ou seja, agora que a humanidade estava toda ferrada, castigada pelas guerras do século XX, o governo deveria fazer por onde e ampará-la. Ia-se pelo ralo aquele conceito do Adam Smith de que a mão invisível do mercado consertaria todas as coisas, e que o Estado jamais deveria intervir. A iniciativa privada dava lugar ao Estado em questões sociais, tais como educação e saúde. Isso somado ao absurdo avanço tecnológico que o mundo testemunhou a partir daquele século, muito mais do que todos os outros séculos somados e elevados ao quadrado, que permitiu que se descobrisse curas pra doenças antes tidas como incuráveis, métodos de rejuvenescimento da pele, e de prolongamento da vida etc.

Mas nós não estávamos satisfeitos: queríamos mais. Viver até os oitenta anos não era mais nada de especial – todos viviam. Vamos até os cem anos. Dos cem, vamos até os cento e dez, e assim por diante. Até um ponto em que se viu que poderíamos prolongar oquanto fosse as nossas vidas, ainda assim estariámos enclausurados em um corpo que não adiantasse o quanto as técnicas de rejuvenescimento permitisse, se tornaria cada vez mais caquético, eis que a natureza, nesse sentido, é uma força incontrolável, impossível de ser detida – talvez apenas retardável, como pudemos perceber nos primeiros anos.

Não bastava mais retardar o envelhecimento natural de nossas células, eis que um dia elas se desgastariam de qualquer jeito. Os átomos que compõem nossas células, que compõem nosso corpo, se cansariam um dia de cumprir sempre aquela mesma função, e partiriam em busca de outros átomos para formar novas moléculas e possivelmente novas células de um novo organismo. Descobriu-se então que a melhor forma de evitar isso tudo seria descobrir uma forma de nos eternizarmos. Foi o que fizemos: criamos corpos sintéticos, que não envelheceriam na mesma proporção que nossos frágeis corpos que Deus nos deu. E ainda assim quando estivessem velhos e frágeis esses corpos, tais como os corpos dos velhos de outrora, descartaríamos, como se descarta a um copo de plástico após saciar-se a sede.

E assim fizemos: transferimos nossos pensamentos, nossas ideias, valores, amores, amizades, e tudo o mais que nos fazia humanos a um corpo frio e sem vida, ao qual trataríamos de avivar e aquecer.

Primeiro a humanidade escolheu quem deveria fazê-lo: houve uma grande seleção, envolvendo as maiores nações do planeta, que indicou seus maiores pensadores, líderes, os mais respeitáveis enfim. Houve entre estes quem se opusesse, mas a grande maioria foi favorável ao projeto. Afinal, a vaidade neste momento falava mais alto do que muitas convicções pessoais e religiosas.

Com o tempo, barateou-se o procedimento, e todo o tipo de pessoa pode fazê-lo, por uma bagatela. Claro que era uma bagatela para os países do norte, eis que para muitos países subdesenvolvidos – mesmo depois de séculos, não conseguiram se livrar de tal alcunha – ainda era uma fortuna. Os resistentes, a quem me referi no começo dessa carta, são em sua maioria oriundos destes países, pois que além da questão financeira envolvendo o procedimento, ainda há o fato de que em sua maioria são países que possuem um apego à religião, a forças místicas que segundo suas crenças dominam o universo. Por isso mesmo entendem ser isso tudo uma afronta aos seus credos.

Àquele tempo eu não cria em Deus algum. Hoje me arrependo disso. Digo isso porque, assim que se foi barateando o custo do procedimento, fui um dos primeiros a buscá-lo. Depois de um tempo, já se via propaganda na TV a respeito, outdoors espalhados pelas principais avenidas das grandes capitais ao redor do mundo; um grande comércio surgiu a partir disso tudo. Grandes empresas farmacêuticas envolvidas, muitos lucros às custas de trabalhadores que sequer tinham condições de realizá-lo em si mesmos.

Fiz o procedimento e hoje, alguns séculos depois – tempo que sequer sei precisar, pois passei muito tempo ocupado em fazer tudo que pudesse fazer, o que meu modo limitado de vida pré-procedimento jamais me permitiria – vejo o vazio que tudo isso representa. Não deixei aqui na terra legado algum; nem quis fazê-lo durante muito tempo, já que imaginava que meu maior legado seria eu mesmo, fisicamente eternizado.

Com isso, não apenas eu, mas todos os que se submeteram ao procedimento passaram a viver uma vida sem propósito, eis que não nos restava mais nada a fazer – até mesmo o nosso trabalho havia sido delegado às máquinas, que o faziam sem se cansar ou reclamar. Há algumas dezenas de anos atrás fui cansando e percebi que não havia mais nada a ser visto, que não havia novidade alguma na terra. Subvertemos a natureza e ela agora nos subverte, ao nos escancarar o fato de que não somos para sempre – ou não devemos sê-lo. Tudo deve estar em constante mutação.

Hoje cansado disso tudo, escrevo essa carta, que na verdade já se afigura póstuma desde a primeira letra, eis que morri há muitos anos atrás; esse que vos escreve é apenas um projeto de humano, há muito largado em um corpo que não é seu. Já troquei de corpo algumas vezes, pois como já disse, assim como nós deveríamos ser, esses corpos não duram pra sempre. Mas desta vez, depois já de muito tempo assim, não pretendo mais trocar. Não há como me desligar, ou morrer, no velho jargão humano pré-procedimento. Por conta disso, só me resta esperar. Espero até que a bateria acabe. As células cerebrais que mantém minha consciência viva não resistirão à falta de energia. Daí não terei mais como ligar-me e assim poderei finalmente descansar em paz.

Minha porção ficção científica, aliada a um estranho surrealismo kafkiano me permitiram escrever esse texto. Tá, não é grande coisa, mas já tá melhor que Guerra Dos Mundos, não?

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Adeus ano nem tão velho assim…

meias horasMeia-hora hoje é muito pouco… 

Bem, antes de mais nada, feliz ano novo a todos que lerem esse texto. 2010 já está aí, e esse post inaugura o novo ano do blog. Mas não vim aqui escrever a respeito do ano que se inicia, das resoluções de última hora que não serão cumpridas etc.

Vim para falar a respeito do ano que passou. Cada vez mais tenho a sensação de que os anos passam mais rápido: 2009 mais rápido que 2008, este, por sua vez, mais rápido que 2007, e por aí vai. Hoje estamos cá na ressaca do réveillon e amanhã já estaremos na páscoa. Os físicos com certeza encontrariam explicações de fato plausíveis, tais como a expansão do universo, que faz com que átomos e moléculas, para acompanhá-la, vibrem cada vez mais rápido e, por isso mesmo, a noção de tempo se modifica. O tempo está cada vez mais rápido também, no ritmo imposto pelo Big Bang, e consequente expansão do universo – desculpe a minha noção simplista da física, mas é que uma vez um amigo meu, físico, me contou essa história e nunca mais esqueci; acho que faz um certo sentido sim.

Outra explicação logicamente aceitável está no fato de que cada vez mais a vida cotidiana se tornou uma coisa rápida. Hoje não há espera: fazemos tudo e buscamos a resposta pra ontem. As cartas não levam mais dias até chegarem à casa de um amigo ou parente com quem deseja se corresponder, mas o e-mail leva nanossegundos até chegar lá – tudo depende de uma conexão boa. Há orkuts, twitters, facebooks e afins que nos expõem em tempo real ao mundo, e nos dão a pronta resposta ao que queremos. A fila sempre nos incomoda, pois implica sempre em uma grande espera.

É só compararmos a tecnologia que há hoje ao nosso alcance e a que tínhamos há dez anos, e a infinidade de possibilidades que essa mesma tecnologia nos permite nos dias atuais. Hoje, como JK já ansiava nos longínquos anos 50, do século passado, podemos tranquilamente viver cinquenta anos em cinco, pois o tamanho de informação a que temos acesso a um ano equivale a uma boa parcela de vida de nossos avós, por exemplo. Estes sim vivam com mais tranquilidade, pois não havia e-mail, SMS, micro-ondas, celular. Havia tão somente a espera.

Acho que se soma a isso o fato de que cada vez mais um ano representa uma parcela menor de nossas vidas, e portanto, em relação ao tempo vivido, é cada vez mais insignificante. Veja bem: para uma pessoa que acabou de completar um ano, viver mais um ano representa exatamente metade de sua vida. Para quem tem dez, 1/10 de sua vida. Mas para quem tem 50, é apenas mais um a se somar com os outros 49. Imagino que isso deve ter maior contorno exatamente por conta desse momento em que se vive hoje, no qual se espera resposta imediata pra tudo, e na maioria das vezes se obtem mesmo. Salvo algumas exceções, como aquela pessoa de 99 anos, em que mais um ano de vida pode ser considerada um grande feito, acho que para a maioria das pessoas conforme se envelhece, mais o envelhecimento se torna mais um elemento de sua rotina, e o tempo se torna algo cada vez mais cotidiano.

2009 foi pra mim de longe o ano mais rápido de minha vida – graças a Deus, pois não me deixou grandes lembranças. E espero para 2010, não apenas para quem está desse lado, mas para todos os que frequentam este blog, muito sucesso – pessoal e profissional –, saúde, paz e todo aquele etc e tal que costumeiramente se deseja em ocasiões como essa. Mas desejo também, e principalmente, que o tempo não passe assim tão rápido.

Feliz ano novo!