sábado, 29 de agosto de 2009

à margem…

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Ao invés, podia chamar-se assim. À margem do cinema nacional talvez. Mas isso explico depois, em um momento mais apropriado. Deixo isso pra depois porque naquele momento por meio do qual pretendo começar esse texto só me vinha à cabeça a barra de chocolate que trazia em minha mochila, e que comprara minutos antes na loja que tem ali por perto. Era uma barra daquele chocolate alpino, que comprei pra comer enquanto assistia ao filme. Prefiro isso à pipoca. Na verdade, contrariando o senso comum, não vejo muita graça em pipoca no cinema. A verdade é que elas costumam ser muito gordurosas, o que me deixa com vontade de sair no meio do filme pra lavar as mãos. E quando elas são pequenas, acabam antes de sequer os traileres começarem; mas quando são grandes, antes da metade já estão frias e murchas, e você é obrigado a enfiá-las goela abaixo – ou encarar sua consciência por ter desperdiçado tanta comida. E, a bem da verdade, em quase todos os cinemas hoje em dia, a pipoca pequena é do tamanho de um balde, daqueles que a gente usa pra lavar o banheiro.

Mas admito que a barra de chocolate, assim como uma provável pipoca, não foi muito além do trailer não. Mas ainda assim, prefiro aquela a esta. Mas não fiz esse texto para divagar a respeito da pipoca e do chocolate. A questão é que, por mais que eu tivesse vontade de ver “À Deriva”, me dirigi ao cinema um tanto quanto sem grandes expectativas. Estava mais interessado no chocolate, admito. Mas admito também que me surpreendi com o resultado do que vi na tela.

O filme é dirigido por Heitor Dhalia, o mesmo cara que dirigiu “O Cheiro do Ralo”. E mesmo com uma carreira cinematográfica tão curta – além desses, ele também dirigiu “Nina”, inspirado em “Crime e Castigo” de Dostoiévsky –, o cara já conseguiu incluir dois filmes na minha lista dos dez melhores – tá bom, não sei se é pra tanto, até porque nunca parei pra fazer uma lista, mas gosto muito desses dois filmes.

“À Deriva” é de uma sensibilidade ímpar ao tratar de questões extremamente delicadas, e especialmente caras à adolescência, como o descobrimento da sexualidade, a relação com os pais etc, do ponto de vista de uma filha mais velha entre três. A história se passa toda durante o verão em algum lugar muito paradisíaco perdido no Brasil, em que a filha em questão, Filipa, começa a namorar, descobre que o pai trai a mãe, e daí começa a questionar as coisas.

Não pretendo contar muito pra não estragar o filme. Mas a verdade é que tudo casa perfeitamente na tela – ainda que seja a deficitária tela do cinema da Uff –, desde a fotografia – perfeita – à trilha sonora, ou ainda o clima estiloso e ointentista que o filme tem – pois é, ele consegue ser as duas coisas. Tem ainda o fato de que uma das filhas – a do meio, que não lembro o nome – tem mania de fotografar tudo no filme. E as fotos são mostradas durante os créditos, o que te deixa com vontade de permanecer por lá até o final, só pra ver as imagens.

No começo disse que o filme seria melhor não à deriva, mas à margem porque é um tipo de filme que não se vê muito no Brasil. Críticas à parte, acostumamo-nos a ver recentemente filmes um pouco mais pesados,  com aquela realidade crua, “capitães nascimento” e afins. Acabamos deixando esse lirismo um pouco de lado: um filme que se passa não-sei-aonde, com sequências de imagens belíssimas, trilha perfeita, que lembra daqueles filmes franceses recentes em alguns momentos.

Não tenho mais que dizer, apenas assista. Não se arrependerá. É um filme à margem, mas não no mau sentido que usulmente costuma se empregar, mas no sentido positivo, como algo a se apontar, para fugir do mesmo de vez em quando.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

O sentimento mais sublime

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Quando se encontra um amigo, se eleva o coração. Porque tem gente que nasce para ser mão estendida, força, garra. Tem gente que tem um “quê” a mais. Sabe aquele tipo que dá vontade de estar por perto? Pronto, chega e fica, engendra-se de uma tal maneira inexplicável, se torna mais do que um fato consumado. Basta; sua presença é a questão. Torna-se tudo tranquilo, faz a gente ter a certeza de uma alegria a mais, uma risada mais, um copo a mais, “ei trás mais um”, “fica mais um pouco”, “não vai agora”. Traduzir qualquer momento ao lado, torna impossível. Irradia amor e simplicidade e não digo aqui que isso tudo é perfeição, longe disso. Resumo em afeto e compreensão. É um querer ser, estar, ficar, permanecer. É o sentimento nobre, mas não porque vem de cima para baixo, mas porque quer ser igual, quer ser recíproco. Tenta ser ouvido, boca, cheiro, sorrisos, gargalhadas, lágrimas. É um chorar junto, um sofrer a mais, uma parceria sugestivamente bela e ingênua, como tudo deve –ou deveria – ser. A junção de certezas e incertezas, o melhor acontecimento que existe, a irradiação sublime de algo que só Deus pode explicar. É o divino, o maravilhoso, é a pureza e o carnaval, a ligação perfeita entre duas ou mais pessoas que se entendem e desentendem na mesma fração de segundos. Dicotômica essa tal de amizade, torna-se essencial, digo, extremamente ortodoxa e pródiga, do começo ao fim. Verdadeira na mais pura verdade, não se finda em qualquer dia, hora, lugar. Está além dos extremos de corpos que se encontram, está no amor das almas que, mesmo distantes, conectam-se umas as outras, por algo ilustre que chamamos de amor. E o amor de uma amizade não é a angustia de não saber o amanhã, mas a certeza do hoje, é o que nos torna ser, o que somos.

“Amigo não se faz, reconhece-o”. (Vinícius de Moraes)

O texto acima é uma contribuição de Leda Agnes, em homenagem à Teresa.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Dia mundial da Fotografia!!!

Bem, o dia não é tão triste assim. Hoje é dia mundial da fotografia, e como nós aqui do ponto e vírgula fomos tomados por uma súbita paixão por esta arte – nem tão súbita assim –, não podíamos deixar passar em branco.

Não fazemos nada de mais, uma vez que, no nosso mundo de hoje, a fotografia está presente em todos os lugares: da câmera ao celular – ou seria o contrário?Vivemos em um tempo em que a imagem é tudo, mas isso é uma discussão filosófica demais para esse post; deixa pra um outro dia.

Na verdade, não temos muito o que dizer não, até porque ninguém aqui é fotógrafo profissional. Mas não custa lembrar dos nossos posts relacionados à fotografia, além do link aí do lado, onde se pode ver as fotos no Flickr.

Os fatos das fotos...
Branco e preto...
Um dia no jardim
Caminho das Flores
Texturas

Só para não passar batido.

Triste dia

Debruçado sobre livros, códigos e cadernos abertos na mesa, a respeito de um caso no qual pretendo me dedicar nos próximos dias, em um instante de distração vejo que na TV transmitem ao vivo a sessão do Conselho de Ética em que discutem acerca das denúncias que recaem sobre o senador José Sarney.

São vários senadores que, de forma meio desordenada, se revezam na defesa de um ou outro ponto de vista, enquanto o presidente do Conselho de Ética, senador Paulo Duque, tenta colocar alguma ordem, de modo que os senadores se concentrem apenas em votar. Creio que isso em si já configuraria um absurdo, tendo em vista que aos senadores que pedem a palavra, o presidente do Conselho diz que será oferecida após a votação, no que Inês já será morta. de que adiantaria discutir algo que já fora irreversivelmente decidido?

De qualquer forma, vê-se que disto aí não poderá sair grandes coisas, uma vez que , juntamente com a votação acerca do Sarney, também farão votação sobre denúncias acerca do senador Arthur Virgílio, justamente da oposição, de onde conclui-se que daí só poderá resultar mesmo é um belo “acordão”, pra safar ambos os lados.

Mas em meio a tudo isso, vejo o depoimento do senador Pedro Simon, do PMDB e um dos mais antigos parlamentares em atividade naquela casa. Ele aponta o dia de hoje como um dia triste na história política brasileira. Infelizmente o que para ele é um dia triste está se tornando recorrente na política brasileira. Mas, independente de minhas posições acerca do PMDB (vide aqui texto já publicado neste blog a esse respeito), e do que ele representa no atual cenário político brasileiro, sou obrigado a concordar com o senador.

Abro o jornal hoje e vejo a infeliz declaração proferida pelo presidente Lula – mais uma dentre tantas outras, a que ele se acostumou a fazer – em que ele compara a “perseguição” sofrida pelo Sarney à perseguição que outros presidentes teriam sofrido no poder, vítimas do “oba-oba do denuncismo”, dentre os quais Getúlio Vargas, JK, Jânio Quadros, João Goulart e Fernando Collor (!?!).

dia triste Tá aí na primeira página do Globo, onde também se vê a pizza com cara de Sarney – muito boa essa…

De fato, o presidente Lula precisa de umas aulas de história. E precisa ainda entender que o Executivo, do qual faz parte, o Legislativo e o Judiciário são, nos termos da própria Constituição que rege esse país, “independentes e harmônicos entre si”, o que quer dizer que ele não pode se imiscuir nos assuntos do Legislativo, a respeito de quem este deve investigar ou não. Os senadores, ainda que membros do PT, são membros de um Poder que não está subordinado às determinações do presidente da República. É muito triste ver que, ainda que por debaixo dos panos, o Lula ache que pode decidir o que o Legislativo faz ou deixa de fazer.

Mas hoje ainda é um triste dia na política nacional porque, ao mesmo tempo em que Lula e o PT – outrora panteão da moralidade política neste país – abraçam Sarney e Collor, numa cruzada política contra a decência em nome do poder, pura e simplesmente, vemos que a senadora Marina Silva – esta sim talvez o último panteão de moralidade na política brasileira – anunciou oficialmente sua saída do partido que ajudou a fundar.

Com isso, além de diversos outros fatos, outras denúncias que foram deixadas pra escanteio e tal, o PT cai cada vez mais em descrédito.

Agora ao fim do texto vejo que o acordão foi enfim selado. Arquivam-se as denúncias contra o Sarney, e fica o dito pelo não-dito, em nome do bem maior, que deve ser a candidatura da Dilma, sei lá.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Breve relato


"Eu sou da Maré. Nascido na Maré. Sou ponto turístico. Eu não falo o português correto, meus amigos são a corja da sociedade e nenhum deles possui peito de aço. Embora alguns deles tenham armas calibre 88 prontos pra morrer e estejam participando de uma guerra que já dura dois meses.

Eu tenho pés, pernas, braços, peito e coração. E ainda tenho que sorrir quando enfrento a multidão. Também sinto saudades, tais como da Joana que morreu após um tiro matar sua única filha chamada Esperança.

Vento e poeira, modo reflexivo. A favela não dorme, é calada, sufocada. Faroeste dos aflitos, veste a farda e tira a fralda, sem querer fui engajado, sem querer me humilharam. E ninguém sabe, e ninguém viu. É o preço que se paga pra não matarem a puta que me pariu.

Todos de preto, usam gandola, burucutu, faca na boca, revolver 38, coturno, algemas descartáveis, munições especiais e 6 carregadores de pistolas, fuzil 7,62 mm, coldres táticos, um bastão retrátil e estão prontos pra guerrear… Pássaro blindado. Dinossauros do futuro. Mosca morta sem pensar.

Ouço tudo pelo telefone celular e a midiahipocrisia insiste em enfatizar que a favela é violenta, foda-se quem mora lá. Me dá um ódio. Me dê um ópio!

Fundo do poço. Quase morro. Comercial.

Tum-tum-tum! Pá! Pum! Pá! Pum! Bláaaa! Bláaaa!

Modo observacional. Os números me revoltam: 27 mortos, 6 presos, muitos foragidos e eu sem ver minha família há 1 mês.

Enquanto isso, o Santa Marta vira alvo da especulação imobiliária e os moradores começam a sentir o efeito da ocupação militar no bolso.

'Eles (moradores) olhavam assustados para aquelas pessoas, que nunca estiveram ali, mas logo entenderam que estavam ali para conhecer o êxito do projeto que pacificou uma comunidade que era dominada pela violência do tráfico. Foi mais uma demonstração de atenção. Ficaram felizes, já que não são mais tratados como bichos ou pessoas à margem da sociedade', explica a capitã Pricilla de Oliveira, comandante da Companhia de Policiamento Comunitário do Santa Marta.

Mal sabem eles que os traficantes dessas regiões ocupadas não foram arrebatados por Deus. Estão fortalecendo outras favelas e tocando o terror em outros pontos da cidade.

Denunciar? Nem pensar, isso é cultura popular. Então deixa os hômi entrar, pacificar, esculachar e depois virar herói?! Melhor se demitir, aqui bandido somos nós.

Gentes do morro, tudo enlatado. Nome vulgo, raça do caralho. Os ditos massa. Guerra covarde, terceiro mundo e ainda dizem que é evolução. Tudo é questão de pá e enxada.

Nem Fome Zero, nem Bolsa Família... o que me deram foi meia dúzia de balas perdidas. Meu santo forte é de madeira, nem se mexe pra não dar bandeira. Dinheiro curto, trabalho incerto.

E o povo grita, suplica, tenta se organizar. A repressão bate na porta. Mas prometemos que não vamos recuar. Resistiremos. Tipo Romênia. Tipo Colômbia. E que caiam por terra todos os dominadores deste tempo! Por um complexo da Maré livre!

Tum-tum-tum! Pá! Pum! Pá! Pum! Bláaaa! Bláaaa!

Porque a guerra é armada, a luta conceitual e a batalha não está perdida!

Chega de guerra na Maré, quero voltar pro Cabaré!

Mas quem vai me ouvir? Digam ai.

E ó, avisa pra geral aqui é o cria do Pinheiro!"
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Texto do Josinaldo Medeiros, morador da Maré.

sábado, 15 de agosto de 2009

Os fatos das fotos…

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Talvez nós não tenhamos o domínio da melhor técnica, da retórica por meio de palavras apenas. Talvez por isso busquemos também as imagens… ou elas nos buscam, não sabemos ao certo. O fato é que a foto é hoje uma das mais sinceras formas de expressão que podemos encontrar.

Com uma câmera na mão – duas, é bem verdade – uma ideia na cabeça e os pés na areia, fizemos o registro simples de uma manhã de sexta-feira. Manhã esta que não teria nada de mais, e seria perdida, não fosse o fato de estar agora devidamente registrada pelos nossos olhares.

Mas no fim das contas foi só mais uma manhã de sexta-feira.

Ouvindo Sexta-feira/Bonfim, do Bangalafumenga.

domingo, 9 de agosto de 2009

Roinc, Roinc: Quem é?

Morre-se mais com bala perdida. Isso é fato!
Morre-se mais com dengue e febre amarela. Isso é lamentável!
Morre-se mais com AIDS. Isso é problemático!E a tal gripe suína?


Nunca tive medo de gripe. Todos os dias da minha vida, acordava tranqüilo, com preocupações simples para uma vivência simples. Pois é, minha vida é simples, não tem nada demais. Realizei poucas viagens, conheci poucas pessoas que se podiam dizer interessantes (ou que valessem a pena de serem ostentadas como “conhecidas”), conquistei poucos bens. Uma vida sem muita graça.

Apesar disso tudo, sempre dei bom dia para todos que me dirigissem o olhar, o sorriso, a palavra. Apertar a mão não era nada de anormal. Somos brasileiros e, apesar de sermos simples, somos o povo do afeto, do aconchego, do abraço e do aperto de mão. Aquele aperto de mão sempre veio acompanhado por um abraço. Um beijo no rosto, para aqueles que são mais íntimos. Sim, beijar homens e mulheres no rosto; somos todos brasileiros, somos todos iguais.

Sempre vi nos jornais as diferenças sociais, econômicas, políticas, religiosas ou futebolísticas. A quantidade de grana que tenho no meu bolso me faz diferente de beltrano. A cor na minha pele me faz diferente de sicrano. Meu time, idem. E somos todos brasileiros.

Morrer de bala perdida sempre foi “privilégio” dos pobres. Quando um rico morria desse mal, era a exceção que levantava a voz contrária. O mesmo podemos dizer da dengue e da febre amarela. Já aids é doença de puta, gay, tarado e burro. Rico com aids chega a ser diferente do pobre com aids. Heterossexual e Homossexual idem.

E a tal gripe suína?

Pois é, surge do México uma doença democrática. Doença que rico importou e que distribuiu para a população. Aliás, o rico é o sujeito com maior risco.

Morrer de gripe, coisa que nunca pensei antes, quando acordava tranqüilo. Não realizei muitas viagens, não conheci muitas pessoas interessantes, não conquistei muitos bens. E agora alguém vem me dizer que não posso apertar a mão, dar um abraço, um aconchego, um beijo. E pelo visto ninguém ta longe disso.

A gripe suína ta matando. Menos que a bala perdida, isso é fato. Menos que a dengue e a febre amarela. E claro, menos que a AIDS. Mas a gripe suína já é problemática pois vem afetando diretamente aqueles diferentes que sempre se deram bem entre os problemas. E isso é lamentável!

Hah, e morre-se mais com a gripe normal...

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Qual que mais te apetece?


Qual que mais te apetece?, upload feito originalmente por Renan Costa.

Coloquei essa foto hoje no flickr, e a reproduzo aqui para vocês, caros leitores. Estava arrumando a minha prateleira e não resisti em fazer esta foto.

E sei que havia prometido a meu sócio que não postaria nada aqui enquanto ele não o fizesse, mas novamente sucumbi à tentação.

Mas a questão aqui é: e quanto a você? Que música enche os seus olhos?