quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Conte-me uma nova, vai…

“Hoje, o PMDB é um partido sem bandeiras, sem propostas, sem um norte. É uma confederação de líderes regionais, cada um com seu interesse, sendo que mais de 90% deles praticam o clientelismo, de olho principalmente nos cargos”.

Jarbas Vasconcellos, senador da República.

Não gosto da Veja. Realmente não gosto de suas matérias, entrevistas e também não gosto do Diogo Mainard – por isso mesmo já deixei de assistir ao Manhatan Connection. Tampouco me interesso pela postura tendenciosa de sua linha editorial – não sou jornalista, então não sei se é assim que se fala em jargão jornalístico, mas vá lá. Mas, no fundo, todas essas publicações são tendenciosas, dirão alguns. Mas a verdade é que tendencionismo por tendencionismo, eu fico com aquele que mais me agrada.

Mas, enfim, não leio a Veja, e por isso demorei um pouco a ficar a par do acontecimento político da semana. Quando penso que ainda é algo a respeito do suntuoso castelo medieval perdido em Minas Gerais, vejo que esse assunto já ficou velho. Trata-se, na verdade, das declarações dadas pelo senador Jarbas Vasconcellos a respeito da política nacional, e mais especificamente, do PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro, seja lá o que isso for –, partido ao qual pertence e que ajudou a fundar.

O chocante das declarações proferidas pelo senador não foram o seu teor propriamente dito, mas de quem parte. Tomado por um súbito, e talvez tardio, sentimento de arrependimento para com a nação brasileira, o senador decidiu botar a boca no trombone, e, sem acusar nomes, falar aquilo que todo mundo já sabia. Tardio porque a verdade é que o PMDB já está bastante arraigado nesse atual governo, assim como esteve nos anteriores, e estará no próximo, seja ele da Dilma ou do Serra – fato reconhecido pelo próprio senador em sua entrevista.

O PMDB nasceu do MDB – Movimento Democrático Brasileiro, sejá lá o que isso for –, partido de oposição no período da ditadura. Tendo esta acabado, passamos a adotar o pluripartidarismo e o MDB ganhou um “P” – exigência da lei à época – mas perdeu o status de panteão da moralidade política no Brasil, posição ocupada pelo PT por um breve tempo. A verdade é que hoje o partido é composto por caciques políticos das mais diversas regiões do país, e que não possuem tanta projeção fora de seus territórios políticos, mas sem eles a governabilidade, independete de quem seja eleito, torna-se uma tarefa quase impossível.

Aproveitando-se dessa característica tão peculiar, o PMDB especializou-se, nos últimos anos, em se tornar um partido de barganha, massa de manobra, que leva aquele que paga mais – e quem pode pagar mais? Aquele que está no poder ou na oposição? O próprio parlamentar Jarbas Vasconcellos reconhece isso ao afirmar que “de 1994 para cá, o partido resolveu adotar a estratégia pragmática de usufruir dos governos sem vencer eleição”, mas apenas montando nas costas do governo e aproveitando de todas as benesses possíveis; veja aí quantas presidências de casas legislativas e estatais, comissões etc.

A verdade é que, para se dar bem hoje no Brasil, e ter a certeza de que a sua mamata irá se perpetuar, não basta ser simplesmente eleito. Faça o seguinte, candidate-se a algum cargo eletivo pelo PMDB, compre alguns votos, se necessário, e voilá: terá a certeza de que poderá por um bom tempo mamar nas tetas do erário, e que, passarão muitos verões, chegarão muitos governos, e você continuará lá.

Não é preciso ir muito longe dos arredores de nossa vizinhança pra testemunharmos quem já esteja querendo se aproveitar dos benefícios que só o Movimento Democrático Brasileiro – até agora não entendi – pode nos proporcionar; vide o nosso post inaugural: Brasil, mostra a sua cara.

A questão não estava no conteúdo das declarações, mas sim do fogo amigo. Até porque alguém aí ainda tinha dúvida de que fosse aquilo mesmo?

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simpsons_o grito

Edvard Munch, um artista norueguês aí, devidamente autorizado pelo grande artista contemporâneo Matt Groening, produziu essa obra póstuma, a qual revelamos ao público apenas agora, por conseguir expressar com exatidão o sentimento do povo brasileiro ao saber do conteúdo das declarações proferidas pelo senador da República Jarbas Vasconcellos.


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