sábado, 14 de fevereiro de 2009

Gregos e Baianos

 

axé   X s11  sp 23-11-05  caderno2  oe  Capa do disco "Tropicália ou Panis et Circencis" - reprodução

Esse post surgiu meio que por acaso. Aqui perto de casa tem um outdoor anunciando um evento – que, por sinal, já passou, quando da feitura deste post – de música baiana – axé, pros mais íntimos. Qual não foi a minha surpresa ao perceber que, estava representada, ali naquela foto (que pode ser vista acima), a nata da música baiana atual. E que, tirando os mais óbvios, tais quais  Ivete Sangalo e Chiclete com Banana, por exemplo, eu não conhecia quase ninguém.

Ao chegar em casa, fui subitamente tomado por uma vontade de ouvir os discos (e mp3) dos meus artistas baianos favoritos. Não, não peguei nenhum cd da Ivete, ou da Cláudia Leitte – ou será Lleite? Não faço idéia de como funcionem essas coisas da numerologia – mas corri pra escutar Gil, Caetano e afins.

Daí, como toda pessoa que não tem muita coisa pra fazer – mentira!, antes não tivesse nada pra fazer – me peguei pensando a respeito da evolução – ou seria involução? – da música baiana ao longo dos anos recentes. Nos últimos anos, em matéria de música soteropolitana, só deu axé. O ritmo extrapolou as fronteiras carnavalescas, e agora toca o ano inteiro, e em qualquer lugar; toda grande cidade que se preze tem hoje a sua micareta; e as médias e as pequenas também, vá lá. Tipo, Fimdomundópolis Axé, ou Ondejudasperdeuasbotas Folia, daí por diante. Virou uma mega indústria milionária.

Mas, não obstante essa explosão do axé, que não acaba nunca, surgiu também na terra de São Salvador um meio que “contramovimento” – talvez nem tanto – representado principalmente pela ascenção da Pitty. No rastro dela surgiram outras bandas de menor expressão, no mesmo estilo, e com o mesmo sotaque.

Daí a gente conclui que no mainstream baiano só há espaço para duas manifestações musicais: o axé, e o pseudo rock com vocais femininos (praticamente apenas a Pitty) – nada contra o rock ou os vocais femininos, pelo contrário; nossa insatisfação é apenas quanto ao pseudo –, sendo essa última manifestação com uma bem menor expressão.

A gente nem precisa fazer um grande esforço de memória pra lembrar que a música da Bahia é bem mais que isso. Até porque minha “memória” musical não é tão grande assim. Mas se pensar que tudo começou – não há um tempo atrás, e nem na Ilha do Sol, seja lá onde fique isso –, pelo menos em matéria de massificação da cultura baiana, com Dorival Caymmi, e as músicas eternizadas pela pequena notável, daí passando por João Gilberto, e sua fundamental participação na Bossa Nova, pelos Novos Baianos, e sua fusão de choro, samba e rock, em meio a um clima riponga total, encontrando ainda com Gilberto Gil, Caetano, Tom Zé, entre outros, grupo responsável por um dos mais diversificados e antropofágicos momentos da cultura brasileira desde o Modernismo – a Tropicália –, analisar o cenário que se tem hoje acaba nos levando à conclusão de que realmente as coisas poderiam estar melhores. Isso sem falar na própria origem do samba, que independentemente da discussão acerca de seu local de nascimento – eu, sem bairrismo algum (?!?), acredito que nasceu no Rio – teve uma inegável contribuição soteropolitana na sua formação, haja vista que a Tia Ciata, famosa por abrir as portas de sua casa para encontros de sambistas quando o samba ainda era proibido, símbolo de vadiagem, era baiana, assim como não há escola de samba que não tenha uma ala das baianas – é obrigatória.

Mas até que ponto as coisas se contrapõem realmente? Não sei. Pra falar a verdade, consigo achar traços de axé em composições de Caetano, dos Novos Baianos, entre outros, com certeza. Esses foram a gênese dessa música. E na atitude roqueira da Pitty e bandas congêneres, uma coisa meio iconoclasta, como os baianos de antes foram capazes de fazer, só não tem a mesma genialidade. Até porque pra seguir a trilha do sucesso, seria muito mais fácil estar em cima de um trio elétrico.

Bem, onde quero chegar com esse texto? Sei lá… talvez as coisas não sejam tão diferentes assim. Depois de um post mezzo prosa, mezzo poesia exaltando a cultura nacional, alguns dias atrás, isso tudo aqui em cima parece um pouco pretensioso demais. O que faz, tecnicamente, a música de antes ser melhor do que a atual? Na verdade, essa pergunta é só retórica, pois apesar de não entender muito de música, sei que qualquer criança de dez anos ou menos poderia fazer uma lista pra responder isso.

***

Seu Zé acha que eu não deveria ligar tanto; afinal, é tudo música, faz “balançar o esqueleto”, segundo suas palavras, e no fim das contas, pode ter certeza, alguém sempre poderá me pegar desprevenido e me ver cantarolando uma delas por aí.

Meu Deus! Tudo isso apenas porque vi um outdoor na rua. Ouvindo muitas coisas baianas, como dito acima, mas destaco Tempo Rei, de Gilberto Gil, de onde espertamente me apropriei da expressão que dá título ao post.

Um comentário:

  1. Dentre as milhares e maravilhosas músicas baianas/axé venho por meio deste, mui respeitosamente relembrar um trecho de um antigo sucesso que sempre me causou um certo incomodo ao imaginar aquelas doces e singelas palavras de amor. >>>...'' Ôo balança coqueiro cai coco ôoo ôo Sacode a roseira e vem pra cá..'' Minha mente ao reproduzir esta cena digna das maiores produções hollywoodianas se pergunta, pra que? O que faria o cara balançar o coqueiro e sacodir a roseira e finalmente ir ao encontro da amada? Será que ela queria que ele levasse consigo a fruta derrubada por uma enorme força a ponto de cair com um apenas uma balançada?(será que ele era o hércules baiano?)
    Talvez sim, existe essa possibilidade, ela queria saborear a fruta e utilizar as pétalas das rosas destruidas pela sacodidela na pobre roseira. É amigos como diria Galvão Bueno o AMOR É UMA DOR!

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