terça-feira, 17 de março de 2009

lá lá lá… Hey Jude!

 

Passei a semana que passou inteira assistindo a um filme, que de cara já entrou pra lista dos meus filmes favoritos. Trata-se de “Across the Universe”, que seria apenas mais um romance água-com-açúcar, se não fosse o fato de ser um musical; não um musical qualquer, mas apenas com canções dos Beatles. Por conta disso, passei uma semana só ouvindo o Fab Four – tá bom, admito que ouvi um sambinha aqui, um “Los Hermanos” ali, mas o quarteto de Liverpool dominou o set list da semana. Isso me remeteu a uma parte significativa da minha infância, na qual, não sei por que razão exatamente, eu tinha a música Hey Jude, dos Beatles, entre as minhas músicas favoritas. Acho que devia ter essa música em algum disco dos meus pais aqui em casa – é isso mesmo que você leu: disco!, de vinil.

A verdade é que eu, em meus áureos tempos de infância, quando sequer sabia quem eram os Beatles, quanto mais que já tinham se separado, e que o vocalista, inclusive, já tinha morrido – imagina minha decepção quando descobri isso tudo –, já sabia de cor a música. Por saber de cor subentende-se que me refiro àquela linguagem comumente conhecida como embromation. Sabia apenas o “Hey Jude!”, que dá nome à canção, e o “lá lá lá lá”, que toma quase quatro minutos da música em sua versão original, que tem sete ao todo. Logo se vê que para uma criança, portanto, cantar essa música não era das tarefas mais difíceis. Mas naquela época, para mim, todas as músicas em inglês eram facilmente cantáveis; não tinha dificuldade nenhuma em cantá-las, mesmo não tendo a menor ideia do que estava pronunciando. Imaginava diversas histórias praquelas músicas. Inclusive nesta eu imaginava que Jude era uma mulher, até que, depois que aprendi inglês, entendi que se tratava, na verdade, de um homem.

E com isso, a música se torna uma das coisas mais democráticas que se pode haver para uma criança, pois que não é preciso nem mesmo saber a letra. E se ainda assim não souber cantar através do embromation, sempre há espaço pra se ficar apenas no “lá lá lá”. E olha que essa música em particular é excelente pra se fazer isso. Quando crianças temos dessas coisas – e quando não sabemos inglês também –, e no fim das contas, é muito melhor do que ficarmos tentando entender racionalmente essas letras de hoje, e nos decepcionarmos com a pobreza das mesmas. Às vezes a imaginação infantil consegue ser mais fértil do que a dos compositores atuais.

Certa vez li, em alguma entrevista, que algum artista – acho que foi Caetano Veloso – disse que costumava escutar canções em inglês com ouvidos de criança. Não costumava prestar muita atenção nas letras, mesmo ele sabendo inglês – até mesmo porque ele viveu um bom tempo em Londres, no exílio. Nesse momento me identifiquei muito com o que ele havia dito, mas ao mesmo tempo percebi que já fazia um tempo tinha deixado esse costume pra trás. Tinha me acomodado naquela racionalidade descrita acima, e, como aprendi inglês já tem um tempo, acho que perdi essa forma pueril de se ouvir as coisas. Mas ver esse filme essa semana – acredite, o vi muitas vezes – fez-me lembrar como é bom frear às vezes, e só ouvir com ouvidos de criança.

Ouvindo, e vendo, como não poderia deixar de ser, Hey Jude, dos Beatles, na versão do filme. Veja um pouquinho aí também, e quando chegar no “lá lá lá”, mesmo que não saiba a letra, não tenha vergonha e cante junto…

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