na hora que as pessoas levantam pra ir trabalhar, eis que ele volta de lá, cansado, mas realizado. novamente, fez seu trabalho, trouxe seu sustento, a comida do rebento e a satisfação de fazer bem feito aquilo que Deus lhe permitiu fazer.
prende o barco, guarda as redes, carrega os peixes. limpa, grita, vende. e assim segue a manhã inteira, até chegar em casa e ver a mulher, rendeira, trabalhando pra ajudar no sustento, prover à família um melhor contento. conserta as redes, tece rendas de sonhos, numa espera enorme.
espera o marido retornar do mar, espera o filho, que acabou de nascer, tornar-se de uma grandeza tal que espante tudo que há de mal, e os carregue dali. leve-os para um lugar onde não haverão de se preocupar com as agruras de se depender daquilo que lhes manda o mar. rezam para que sua mãe que está nos céus, e que os guia em todas as suas jornadas, permita-os um dia não precisar mais pescar.
só que o que fará o pescador quando esse dia chegar? nasceu para isso, outro ofício não aprendeu jamais; conhece apenas daquilo que o mar lhe traz. sentir-se-á sozinho, sem propósito a realizar neste mundo. eis que quando este dia chegar, quando seu filho o resgatar e não mais tiver que pescar, o pescador, ao encarar as águas, seja em qualquer lugar, haverá de se levantar, pegar suas redes e lançá-las à infinitude do mar.
"Sempre pensar em ir
caminho do mar.
Para os bichos e rios
Nascer já é caminhar.
Eu não sei o que os rios
têm de homem do mar
Sei que se sente o mesmo
e exigente chamar.”
João Cabral de Mello Neto.
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