quarta-feira, 8 de julho de 2009

Show, funeral ou complô?

O funeral, show ou seja lá o que tenha sido aquilo que todas as TV’s do mundo pararam ontem para transmitir – quer dizer, quase todas, pois a CNT tava mostrando propaganda – foi realmente deveras emocionante e tal, tendo como ponto alto o fato de que os filhos de MJ não apenas estavam sem máscaras, como a filha inclusive se atreveu a falar – confesso que nessa hora fiquei com um nó na garganta.

E, de fato, foi tudo feito com uma qualidade impressionante; parecia até entrega de prêmios. Via a hora que alguém ia subir no palco e dizer: “And the Michael Jackson Awards go to…”. Realmente impressionava o modo como tudo fora feito, impecável mesmo. E também foi o primeiro funeral a ser transmitido ao vivo por tantas emissoras ao redor do mundo e reunir também tantas mídias. Foi, com certeza, um funeral mediático, como nunca se viu, sob os auspícios da família Jackson.

Mas o que não se vê comentando por aí é que era um funeral!!! Um funeral, com corpo presente e tudo, não apenas um show em homenagem ao artista. Havia um defunto ali!

E você via os depoimentos das pessoas, felizes, sorrindo de orelha a orelha porque conseguiram ser sorteadas (?!?) para um funeral (?!?!?). Será que eu fui o único que fiquei estarrecido com o fato de haver um corpo ali, morto há onze dias? Talvez seja por isso que ele não tenha sido enterrado antes, eis que preparar um evento dessa magnitude pode levar um pouco mais que dois dias.

Isso na verdade é sintomático da sociedade estadunidense, que sempre encontra uma forma de transformar o que quer que seja em lucro, mesmo na dor. É sintomático do que o próprio MJ representava e talvez por isso não haja ali pecado algum; ele provavelmente queria isso.

***

Tudo muito bom, homenagens mais que justas, mas enquanto todas as televisões do mundo – quase, afinal a RedeTV mostrava o programa da Sônia Abrão – mostravam o mezzo show, mezzo funeral, lá em Brasília acho que nunca na história deste país devem ter sido praticados tantos atos secretos, que, por conta do ineditismo em relação à atenção dispensada ao funeral inclusive pelos canais de noticias, poderiam ser atos escancarados, que ninguém se interessaria.

Aliás, se Sarney, tomado por um súbito sentimento de raiva, pegasse o cortador de pizza com o qual fatiava a iguaria da culinária italiana para partilhar com seus colegas do nosso nobre parlamento e cortasse fora a cabeça do Ahmadinejad, ninguém ficaria sabendo. Depois, querem dizer que não é tudo um complô tramado pelas cabeças de Brasília?

Ouvindo O dia em que a terra parou, do Raul Seixas.

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