quinta-feira, 7 de maio de 2009

Teatro do Opressor

Era algo por volta de oito da manhã, e quando tomava café, pouco antes de sair pra correr na praia, deparei-me com uma notícia, na capa do jornal, que apesar de pequena – no canto esquerdo superior – de cara tomou minha atenção.

Dizia respeito àquele caso do castelo de Greyskull erguido não em Etérnia, mas em Minas Gerais, de propriedade do deputado federal Edmar Moreira, e ao processo administrativo – não sei se é essa a expressão correta – a que ele responde na Câmara de Deputados. O relator do caso, o também deputado federal SérgioMoraes, não se fez de rogado ao abertamente defender o arquivamento do caso, sob o fundamento de que o dep. Edmar teria sido um “boi de piranha” e que a representação feita contra ele na câmara só teria alguma validade se todos os deputados que fizeram uso irregular de passagens aéreas – ou seja, toda a casa – também fossem denunciados. Ou seja, é aquela velha desculpa: se todo mundo faz, por que também não eu? Prevalece o pensamento de que normal e comum são sinônimos; a verdade é que tal binômio se difere no sentido de que nem tudo aquilo que é comum – todas as irregularidades cometidas pelos parlamentares com o uso da verba rescisória – deve ser tido como normal. Nada disso é normal!

Assim como também não deve ser tido como normal a declaração do dep. Sérgio Moraes, que foi o que de fato me espantou nessa matéria: “Eu estou me lixando para a opinião pública!”. Independentemente das mais diversas teorias sobre o que seria opinião pública, e o que essa expressão compreende, tem-se que uma declaração dessa, dada por um parlamentar, eleito exatamente para representar os cidadãos, aqueles que corporificam de fato o que significa a expressão opinião pública, é algo de extrema gravidade e denota o desprezo que eles têm pelas instituições e a certeza de que serão impunes.

Segue ainda o deputado: “Vocês batem, batem, e nós nos reelegemos mesmo assim”. A imprensa cumpre seu papel de denunciar as irregularidades e pressionar por uma solução para isso e ainda assim o deputado sente-se confortável, na certeza de que nada lhe irá ocorrer. Não cabe a mim aqui discorrer acerca da importância da imprensa para a solidificação de uma democracia, seja aqui ou onde for – acho que esse papel cumpriria melhor a Thiago, a metade jornalista deste blog –, mas é inegável que tal papel desempenhado pelos jonalistas é imprescindível. E declarações como essas, ou mesmo as do nosso presidente – seja em uma entrevista em que declarou não ler mais jornais, ou na semana passada, quando saiu em defesa dos parlamentares que acumulam milhagens às custas do erário – são assustadoras, na medida em que deixam claro que, não adianta o jornal mostrar, o povo chiar, que essas pequenas irregularidades, que todo mundo faz, não serão punidas mesmo.

***

Para compor o título, me apropriei da expressão “Teatro dos Oprimidos”, cunhada por Augusto Boal (falecido semana passada) para definir as apresentações teatrais que promovia, em que o espectador era estimulado a participar da cena, dando novos contornos e possibilidades à história, fugindo de sua natural passividade. Por enquanto em Brasília encena-se apenas o Teatro dos Opressores, enquanto esperamos o momento em que os oprimidos possam também levantar-se e protagonizar a história.

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