quinta-feira, 28 de maio de 2009

Democracia do Samba

quinta do parque

Depois de um breve tempo afastado das rodas de samba e congêneres, tive há duas semanas a oportunidade de ver in loco a apresentação da Velha Guarda da Portela. Apesar de sem vontade alguma de sair naquela sexta e completamente fatigado, fisica e psiquicamente, eis que decidi comparecer ao evento. Não que a Velha Guarda da Portela seja alguma novidade – já os havia visto antes – mas naquele dia em especial me emocionou.

Fiquei perto da mesa observando aqueles senhores cantando e contando suas vidas, naquelas músicas de poesia simples, porém muito bela. Mas a inspiração para esse post veio de algo que li uma vez no jornal, se não me engano, a respeito do samba e de como este ritmo musical tão característico do Brasil é também tão democrático, e talvez resida aí o motivo de tamanha popularidade entre os trópicos.

Explico: o samba, assim como grande parte dos ritmos musicais, fala de amor, relacionamentos etc e tal, em grande parte de suas músicas. Lógico, há também no samba muito do que chamaria de “metamúsica” ou “metassamba” (inventei isso agora), que são sambas que falam do próprio samba, talvez como uma afirmação do ritmo, que foi criado por escravos e muito perseguido no começo – mas isso é história pra outro dia.

A questão é que, ainda que fale de amores, traições, dores-de-cotovelo e afins – e ainda tem a cuíca, que apesar de essencial, tem um som triste –, assim como diversos outros gêneros musicais, como o tango, por exemplo – as canções de Gardel são tristíssimas – o samba sempre evoca no incauto cidadão que esteja por perto uma incontrolável vontade de sair cantando por aí, mesmo que não se saiba a letra. Estar ao redor de tamborins, cavacos e violões acaba fazendo isso com a grande maioria das pessoas – é bem verdade que há aquelas que nem se coçam, mas aí ou é ruim da cabeça ou doente do pé.

E o motivo disso é simples: o “lá lá lá”. Vocês podem achar que é perseguição do blog, afinal o “lá lá lá” já foi tema de outro post antes. Mas não é! É inegável que isso faz toda a diferença, pois permite que o samba seja alcançável por qualquer pessoa, independente de saber a música ou não, de classe social, ou qualquer outro conceito que se queira utilizar. Nem preciso falar do sentimento em si que o “lá lá lá” causa nas pessoas em geral – isso já foi bastante exposto no outro post.

Mesmo que se trate da música mais triste, com a letra mais devastadora, em termos sentimentais – e olha que exemplos não faltam, em compositores tais como Nelson Cavaquinho, Cartola, Paulinho da Viola, Jovelina Pérola Negra, Jorge Aragão, até mesmo Zeca Pagodinho, e por aí vai –, ainda assim, o cantor consegue fazer com que todos o acompanhem, ainda que seja apenas na parte do “lá lá lá”; é justamente aí que reside o conceito democrático desta manifestação musical brasileira, que normalmente faz com que os demais ritmos não garantam tamanha satisfação popular: todo bom samba que se preza tem um bom “lá lá lá” – ainda que em suas versões originais não as tenham, em uma roda de samba acabam ganhando –, que dura tempo suficiente, ainda que breve, pra fazer a pessoa se levantar da cadeira e cantar junto.

Além disso, há a beleza que tais composições apresentam, com poesias à altura dos maiores trovadores e harmonias e arranjos à altura dos maiores maestros, feitas, no entanto, por gente simples, e que durante muito tempo de suas vidas não podiam contar com a música como seu principal ofício e ainda assim conseguiram deixar uma marca indelével na cultura brasileira. Também acho que isso talvez seja tema pra um outro post, que por si só, poderia encher uma página deste blog. Mas não há como negar que quando pensamos nessas pessoas, como os compositores já citados, ou a Velha Guarda da Portela, da Mangueira, ou seja de que escola for, devemos sempre respeitar quem soube chegar onde eles chegaram.

Putz! Ouvindo muita coisa agora ao mesmo tempo… Pra citar algumas: “Pra fugir da saudade”, de Paulinho da Viola, “Pressentimento” de Elton Medeiros, “O poder da criação”, de João Nogueira, entre outras. Mas pra hoje fico com “Sorriso aberto” da Jovelina Pérola Negra, na versão do Fundo de Quintal, que acho que representa bem esse tipo de samba com letra triste, mas que ao mesmo tempo é também um exemplo do “metassamba” que me referi acima.

2 comentários:

  1. Recomendo também "Resto de Esperança" de Roberto Ribeiro, eu acho. Tem um lalaiá ótimo!

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  2. Pow quando lí lembrei que não falei contigo da festa EJC SOCIAL CLUBE, vai sr dia 06/06 exatamente com uma roda de samba na republica da banana, tem mais coisas falando dela la no meu blog... olha lá
    foi mal tive q fazer uma divulgação aqui tbm...

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