terça-feira, 3 de março de 2009

Papai tirou Marcelinho Carioca do Flamengo



Naquela tarde de 13 de julho de 93, havia um céu ensolarado digno de verão. Eu cursava a primeira série, logo, não me recordo a circunstância que levou o Fla-Flu do Torneio Rio-São Paulo daquele ano para o estádio Caio Martins, em Niterói. Saí da escola no meio do recreio e fui rapidamente para casa e lá encontrei meu pai. Vesti minha blusa do Mengão e rumamos ao Caio Martins lotado.

O tumulto era grande, comprar ingresso era inviável. Assim sendo, meu pai se juntou à massa rubro-negra que estava a socar um dos portões restritos à imprensa e, de forma milagrosa, um policial o avistou e abriu uma fresta do portão. Era impossível não notar sua presença no meio de tantos torcedores com vestimentas propícias a uma partida de futebol, logo, o policial abriu uma parte do portão, permitindo somente a minha entrada juntamente com meu pai.

Não demorou muito para meu progenitor desenvolver uma de suas falácias:

- Sou da Rede Bandeirantes. – disse ele.
- Posso ver suas credenciais, senhor? – indagou o PM.

Ao ver a possibilidade de não assistir o jogo crescer após a pergunta, papai nem pensou duas vezes ao responder: “Ah, estou atrasado, oras!”.

E assim prosseguimos em direção ao acesso da tribuna de honra do estádio, já que meu pai trabalhava, supostamente, numa emissora de tevê. Não lembro o motivo que nos fazia sempre a assistir os jogos de dentro da tribuna de honra sem pagar nada a mais por isso.

Estádio lotado, o jogo começa, Flamengo parte pra cima. Não demorou muito para, ainda no primeiro tempo, Renato Gaúcho – ainda ídolo do Fla – abrir 2 a 0 para os flamenguistas. O tricolor carioca parecia desnorteado com a superioridade rival. Lembro-me de um atleta do Flu meter a mão na bola de maneira incompreensível e levar cartão amarelo.

O Fluminense regressa para a segunda etapa com gana completamente diferente do tempo anterior, conseguindo diminuir, empatar e, aos 42 minutos do segundo tempo, virar a partida com um chute fortíssimo de Julio César, que bateu no travessão antes de entrar. Pane vermelha e preta: Djalminha e Renato Gaúcho – esperanças de gols do Fla – promovem uma briga dentro de campo que culminou no desligamento do filho de Djalma Santos junto ao Flamengo. Outro jovem e bom jogador que estava aquém do que se espera dele na partida era Marcelinho.

Marcelinho tinha 22 anos e já era um craque, cobrava falta com rara perfeição. Contudo, naquela tarde niteroiense, rendeu pouco, acarretando a indignação de meu pai que começou a xingá-lo incessantemente, solicitando sua substituição. Um cidadão de idade considerada começou a defender a permanência do atleta em campo, iniciando um prolongado bate-boca ríspido com meu pai que duraria até o final do jogo.

Jogo encerrado, meu pai se despede do seu desafeto momentâneo e é perdoado pelas ofensas proferidas. O Flamengo regressaria a Niterói em setembro do mesmo ano, após uma excursão pela Europa, para duelar com o Bragantino. Na tribuna, lá estavam, novamente, eu, Rui e o indivíduo que discutiu com meu pai no mencionado Fla-Flu. Como as pazes já haviam sido seladas, sentaram-se próximos um ao outro e bateram papo durante a partida inteira. E, em uma das minhas espiadas no bate-papo, meu pai me apresentou ao pai do Marcelinho. E assim percebi que, naquele dia, ele estava apenas protegendo seu guri.

Voltei a prestar atenção na partida que terminou em 1 a 1. Dessa vez, as vaias para o Marcelinho ganhariam mais adeptos além de meu pai que, por sua vez, vaiou contidamente, em respeito ao seu novo amigo. Esta seria a última vez que o atleta disputaria uma partida em Niterói vestindo a camisa do Flamengo. Já que, no final de 93, as vaias - originadas por meu pai - estavam tão notórias que foram temas de mesas redondas em programas de TV da época e, conseqüentemente, afetou a direção do clube que, por sua vez, vendeu o atleta para o Corinthians.Marcelinho chegou a São Paulo, ganhou status de ídolo dos corinthianos. Tudo por culpa do meu pai.
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Mais uma contribuição de um dos amigos do Ponto e Vírgula. Diogo Pretto, louro e de olhos azuis, flamenguista e fanfamídia.

3 comentários:

  1. hauhahaha muito foda...
    dia 27 fez de fevereiro fez 15 anos que eu fui no maraca pela primeira vez.. 110mil pessoas...
    deu vontade de escrever algo de novo
    abraco
    Diogo Pretto

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  2. Muito bom texto Diogo, já ouvi algumas vezes essa história da sua boca e qachei interessante, porém lendo este relato aqui no trabalho não pude evitar uma risada,o pessoal aqui me vendo rir sozinho deve achar que eu sou maluco...
    Abraço
    Bruno

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  3. Muito bom texto Diogo, já ouvi algumas vezes essa história da sua boca e qachei interessante, porém lendo este relato aqui no trabalho não pude evitar uma risada,o pessoal aqui me vendo rir sozinho deve achar que eu sou maluco...
    Abraço
    Bruno

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