terça-feira, 31 de março de 2009

Quando um vendedor me abordou na rua

 

vendedor

Um certo dia, ao ser indagado por um vendedor, Sócrates disse: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz”. O mestre da retórica nos apresenta uma grande reflexão – que se torna bastante atual – sobre uma cultura do consumo onde somos levados por questões diversas, como estética, impulso, futilidades, entre outras coisas, esquecendo a parte funcional e principal que deveria justificar a existência daqueles bens que são oferecidos nas lojas. Mas prefiro me ater a outra face deste fato vivido pelo filósofo grego: no tempo de Sócrates já havia vendedor chato.

Vendedor, um dos grandes males da humanidade capitalista. Aquele ser que provavelmente ganha menos do que eu, estudou menos do que eu, trabalha que nem um condenando (muitos para enriquecer seus patrões) e tem a grande função de ludibriar-nos com suas técnicas obscuras. O comentário possui uma certa irritação nas críticas, pois diferentemente de Sócrates, às vezes não sei argumentar com um vendedor e me pego comprando inutilidades ou coisas que eu não queria no momento. Hoje foi mais um dia desses.

Já estive do outro lado e vi que realmente não poderia ser do ramo. Como vendedor de consultorias de cheque, gastei muita sola de sapato, ganhei vários “nãos” irritados e cheguei a correr de um dono de estabelecimento portando uma peixeira. Tudo isso porque não sabia muito bem sobre esta tal arte da persuasão, do convencimento. Mas o vendedor que me abordou hoje na rua sabia. E como sempre, fui mais um contabilizado no caderninho dos idiotas que caem nas historinhas melodramáticas.

O vendedor me aborda:

- Você gostaria de ganhar uma revista de graça?

- Pode ser -, respondo sem muita convicção.

- Então, esta é uma promoção da editora Globo que quer incentivar a leitura. Ela e os cartões de crédito estão oferecendo de graça assinaturas de algumas revistas (Observação: como eu poderia cair nessa história de Editora Globo e Cartões de Crédito dando algo de graça?)

- Que legal! – acompanhado de um sorriso “chocho”.

- Pois é. E se eu conseguir 100 assinaturas, eles ainda pagam uma mensalidade da minha faculdade (É, ele pegou pesado. Agora eu, nestes poucos minutos, deveria me preocupar com o futuro acadêmico do vendedor também)

- Pô, que legal!

- Você só terá que pagar a entrega, pois os Correios não estão fazendo parte da promoção (Ou seja, aquele de graça que o cara mandou no início da conversa foi pro beleléu).

E assim a situação foi continuando. No final, saí com uma dívida de 280 reais para pagar no meu cartão (Visa, obrigado pelo incentivo à leitura) e vou receber as edições de Marie Claire em casa, como eu sempre sonhei (tentei ser irônico agora, mas a irritação é tanta que caso alguém me imagine chorando de raiva por ser mais um idiota, fiquem a vontade).

Obs.: Parafraseando um episódio do inigualável programa de humor infantil Chaves do oito: “15 pessoas enganadas! 15 pessoas enganadas!”

Um comentário:

  1. E não é que eu caí no conto do Vigário também??
    Mas minhas parcelas são menores, pago 20 pratas por um ano e recebo as revistas Elle e Estilo por 3 anos... Realmente me encantei e ouso dizer, que não me arrependi, acho que sou facilmente enganada ou simplesmente gosto de me render às tentações consumo-literaturistas, se é que isso existe, claro!

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