segunda-feira, 6 de abril de 2009

Faroeste urbano…

clint eastwood em

Per un Pugno de cioccolato

Estávamos todos numa sala de um agradável apartamento no bairro carioca do Flamengo – belo nome, diga-se de passagem –, silenciosamente dispostos ao redor daqueles objetos. Objetos estes dos mais diversos invólucros, cores e tamanhos, alvos da cobiça de todos os presentes. Todos se entreolhavam, tal qual um daqueles spaghetti westerns, clássicos protagonizados principalmente por Clint Eastwood, entre outros. A essa altura já se podia ouvir com perfeição aquela trilha sonora clássica de Enio Morricone, que se sobrepunha à MPB FM sintonizada no rádio, ainda que apenas em nossas cabeças. Na parede, apenas um quadro, que reproduzia o pôster de “Cinema Paradiso” – sei que não tem nada a ver, mas tinha que comentar, porque acho esse filme sensacional.

Enquanto a tensão se elevava no ambiente, todos esperavam pela sua vez: frágeis papeis picados indicavam os nomes que aleatoriamente decidiriam a sorte daqueles objetos. O primeiro, ou melhor, a primeira deles se levanta e escolhe um dos objetos, retira-lhe a embalagem e revela a todos o seu conteúdo: um toblerone, um alpino, duas caixas de bis, um kinder ovo, e alguma outra coisa que não me recordo agora.

- Impossível! Isso daí com certeza custou mais de quinze reais! – era o pensamento corrente naquela sala nesse momento. E por ter a certeza disso, todos o desejavam.

Explico: tratava-se pois, de um amigo oculto. Mas não um amigo oculto qualquer, mas de chocolate. Vou além: não apenas um amigo oculto de chocolate, mas daqueles de roubar. Nessas ocasiões tudo torna-se pessoal; discussões são iniciadas, amizades são rompidas, tudo em nome da ganância provocada pelo chocolate.

Assim correu a noite, entre risos e abraços que não eram ainda assim capazes de diminuir a tensão provocada pela vontade de buscar o melhor presente. E, alheia a tudo isso havia lá uma caixa de sapato: simples, sem graça, e ainda por cima envolta com um papel prateado, que insistia em descolar conforme as horas passavam. E o pior, fora trazida por alguém muito suspeito em se tratando de esolher presentes em amigo oculto – pra se ter uma ideia, houve uma vez em que o mesmo indivíduo trouxera, para o Natal, um “resta 1” de plástico. Quase voltou com o presente.

Acontece que, entre uns nomes e outros, entre o fim de uma amizade e outra, acabei perdendo claríssimas chances de levar pra casa excelentes presentes, que me foram roubados no último minuto. E lá estava a caixa, que ninguém queria sequer saber do que se tratava, até que por conta do destino, e dos roubos, veio parar no meu colo. E qual não foi a surpresa de todos ao saber que a caixa, antes desprezada, continha inúmeros bombons, em quantidade em muito superior a qualquer outro presente daquele amigo oculto!

Admito que roubei também, mas apenas porque já tinha sido roubado diversas vezes, e não queria sair no prejuízo. No fim das contas, eu, que havia sido o mais roubado da noite até então, acabei levando pra casa o patinho feio, que minutos antes tinha se revelado o mais belo cisne de páscoa da noite.

Quanto às amizades, não obstante o chocolate desperte os mais primitivos desejos – como bem disse Roberto Jeferson, alguém ainda lembra dele? – no coração de uma pessoa, no fim da noite não havia mais mágoa alguma, e todos – ou quase – voltaram para suas casas devidamente satisfeitos.

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