quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Um diálogo, uma vida







- Cala a boca, isso é um assalto!

- Que isso, pode levar... mas me deixe ir embora e voltar para minha vida tranqüila. Sim, sou trabalhador. Lutei muito nessa vida para conquistar os bens que tenho. Apenas essa moto, alguns pertences, amigos e família. Moro com minha mãe, que sempre me deu o máximo que um jovem de classe média poderia ter. Tive oportunidade para estudar, para brincar. Fiz muita coisa como jovem; ainda faço. Mas minha vida não pode acabar agora, entende? Quero ter a minha família, quero ter os meus filhos, quero conquistar mais. Quero dizer eu te amo para a minha mãe, para os meus irmãos, para os meus amigos. Posso dizer até para você, se me der esta oportunidade.

- Você fala isso calmamente, né. Pensa que nunca sonhei em ter a vida que você teve? Sou pobre desde criança. Enquanto você estudava, saia com seus amigos e gastava o dinheiro da sua mãe, eu apanhava em casa e na rua. Trabalho desde criança. Hoje você me chama de marginal, de vagabundo, mas nunca tive as oportunidades que você teve. Você acha que sua vida vale muito?
E a minha, você acha que vale quanto?

***

Imaginar este diálogo numa ação como essa acaba sendo surreal, pois num piscar de olhos uma vida é tirada ou modificada sem a chance de duas pessoas se entenderem. Tento visualizar esta discussão no dia-a-dia das ruas, na televisão, na universidade, na Igreja, nas comunidades. Porém, por muitas vezes a conversa é de uma via, apenas um lado se pronuncia. O lado mais fraco, o da falta de oportunidades, até tenta dialogar. Em vão...

Na correria da vida, nos espaços da nossa sociedade, é difícil achar o mocinho e o bandido. Temos milhões de pessoas que tentam ganhar a vida e se dizem o lado bom da história. E aquele que acaba sendo invisível aos nossos olhos? Quando os fechamos para a realidade, apenas pensando em nossas vidas (é a época do individualismo), esquecemos que o mundo não é o mar de rosas que gostaríamos que fosse. E aquele rapaz que passa fome só queria apenas oportunidade, diálogo, visibilidade.

Escrevo isso pois um amigo foi vítima de um assalto. Levaram sua moto e sua vida. E realmente não sei se devo ter ódio daquele que apertou o gatilho.


Este post é uma homenagem a Fabrício Zanoti, corinthiano, marinheiro, administrador, jovem.



2 comentários:

  1. Petritas, estou bombando nesse blog!!!!

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  2. Só pra explicar, sou eu quem estou em primeiro plano na foto.
    Aliás, quanto ao que escreveu, penso como sou feliz por ter um amigo que se afeta e é mobilizado pela crueza da vida sem, no entanto, se permitir derrotar.
    Hay que endurecer, sin perder la ternura jamás!

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